por Rachael Knight
Os conflitos de terra são muito comuns e ocorrem em todos os níveis. As comunidades podem enfrentar três tipos principais de conflitos de terra:
1. Conflitos dentro da comunidade. Estes podem ser entre membros de uma família, famílias diferentes ou subgrupos inteiros dentro da comunidade. Por exemplo, as elites locais podem tentar reivindicar injustamente áreas comunitárias como sendo terras privadas suas.
2. Conflitos entre a comunidade e uma comunidade vizinha. Esses conflitos geralmente têm a ver com litígios sobre a demarcação de limites.
3. Conflitos entre a comunidade e uma pessoa fora da comunidade, como um investidor ou funcionário do governo. Por exemplo, o governo pode vender ou arrendar terras comunitárias a um investidor, sem consultar a comunidade, criando conflito entre o investidor e a comunidade.
preparação para conflitos de terra
Em vez de simplesmente esperar para responder aos conflitos de terra à medida que eles surgirem, as comunidades devem identificar possíveis conflitos e criar planos de gestão de conflitos com antecedência. As comunidades podem trabalhar com as duas atividades a seguir:
1. Identificar os “sinais de alerta” de conflito. As comunidades podem fazer uma lista de sinais de alerta que mostrem crescentes tensões dentro das comunidades ou entre elas. Elas podem classificar os sinais de alerta como “amarelos”, “vermelhos” ou “negros” para indicar a gravidade do conflito. As comunidades também poderiam identificar que tipos de incidentes poderiam rapidamente criar conflitos sérios e exigir a necessidade de pedir ajuda imediata.
2. “Mapear” os indivíduos, as organizações e as estratégias que poderiam ajudar a resolver os conflitos. As comunidades devem preparar uma lista de indivíduos específicos (e seus dados para contato) a quem possam pedir ajuda imediatamente se um conflito se tornar perigoso. As comunidades também podem identificar quem chamar em diferentes tipos de conflitos. Por exemplo, um líder religioso pode ser a melhor pessoa para resolver um conflito sobre o direito de acesso compartilhado, enquanto que um funcionário do governo pode estar em melhor posição para ajudar a resolver um conflito relacionado com os limites formais dos distritos.
três estratégias
Em muitos casos, levar um caso ao tribunal apenas prolonga o conflito, exige tempo e recursos valiosos e aprofunda as hostilidades. Além disso, os tribunais – e os procedimentos judiciais – podem ser parciais em favor das elites ou das pessoas com mais poder. Em contraste, as estratégias alternativas de resolução de conflitos, como a mediação, podem ser menos caras, menos demoradas e mais propensas a promover a reconciliação. Três estratégias alternativas de resolução de conflitos são descritas abaixo. Os líderes locais podem ajudar a decidir qual estratégia é a mais apropriada ao conflito e ao contexto locais.
1. Realizar reuniões comunitárias para facilitar o diálogo aberto. Isso consiste em reunir todos os envolvidos em uma discórdia e criar uma discussão aberta pública. O objetivo é ouvir todos os lados e identificar as raízes do problema, os danos causados e todas as leis pertinentes. Tanto as leis consuetudinárias/indígenas quanto as formais/estatutárias devem ser discutidas. Um facilitador deve mediar a discussão para garantir que todos tenham a oportunidade de falar e que todos os detalhes importantes sejam abordados.
Os diálogos abertos podem funcionar bem em diversas situações, entre elas:
- para abordar práticas consuetudinárias injustas que coloquem grupos vulneráveis em desvantagem;
- para resolver litígios dentro de uma comunidade sobre o uso compartilhado de recursos naturais e terras; e
- para resolver litígios de limites entre vizinhos.
2. Trabalhar com líderes comunitários e funcionários do governo em quem possam confiar. Em situações em que as discussões e negociações internas não funcionarem, pode ser útil levar o conflito a um nível mais alto. Os líderes respeitados podem usar sua autoridade para ajudar as partes a resolver os conflitos de terra difíceis.
Por exemplo, se um funcionário do governo local estiver intimidando os membros da comunidade e tomando suas terras, pode ser mais eficaz chamar um funcionário confiável e respeitado de um nível mais alto do governo para corrigir o funcionário local. Se um conflito estiver prestes a se tornar violento, as comunidades podem solicitar urgentemente a ajuda de funcionários de alto nível do governo.
3. Mediação. A mediação é geralmente adequada se as negociações não estiverem indo adiante e as partes sentirem que precisam da assistência de alguém que não faça parte do litígio. A mediação pode ser necessária quando:
- as pessoas estiverem ficando muito emotivas, dificultando um acordo;
- a comunicação entre as partes não estiver indo bem;
- houver séria discórdia sobre fatos e informações relevantes; ou
- houver um desequilíbrio significativo de poder entre as partes.
A mediação é um processo estruturado, liderado por um terceiro: um mediador neutro. Os mediadores podem ser advogados, mobilizadores comunitários ou membros da comunidade treinados e respeitados. O trabalho do mediador é lembrar às partes sobre as leis pertinentes, ajudar as partes a se comunicarem, encontrar um consenso e identificar soluções desejadas. O objetivo do mediador deve ser ajudar ambas as partes a chegar a uma resolução que beneficie ambos os lados, e não apenas um.
Uma vez alcançada a resolução do conflito, ela deve ser registrada por escrito e assinada por todas as partes. Isso ajudará a garantir que todos sigam o acordo.
se a resolução de conflito falhar
Se os métodos mais relacionais não forem bem-sucedidos, os facilitadores talvez precisem organizar reuniões públicas ou estratégias de mídia que envolvam “nomear e envergonhar” as elites e autoridades abusivas ou corruptas. Eles também talvez precisem usar outros métodos não violentos para exigir que o Estado cumpra sua obrigação de aplicar leis que protejam o direito à terra da comunidade. Tais táticas podem ajudar a responsabilizar publicamente as autoridades locais e as elites por suas ações e proporcionar às comunidades uma plataforma informal para exigir justiça.
Os litígios pela terra podem se transformar em conflitos violentos se não forem abordados adequadamente. Se as abordagens descritas acima não resolverem o conflito, pode ser necessário encaminhar o caso para o sistema judicial formal.
Rachael Knight é Assessora Sênior do Programa de Proteção de Terras Comunitárias da Namati.
Site: www.namati.org
E-mail: [email protected]
Todos os materiais desta página foram adaptados a partir de Community Land Protection Facilitators Guide (Guia do Facilitador para a Proteção da Terras Comunitárias), da Namati.
Dicas para resolver litígios sobre limites
Aqui estão algumas dicas para resolver litígios que podem ocorrer quando comunidades vizinhas estão tentando negociar e acordar as demarcações de seus limites.