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Diretrizes - Para se trabalhar com crianças de rua

por Judith Ennew. Há duas regras básicas para se trabalhar com qualquer criança: A maior barreira para se ter programas bem sucedidos é a nossa própria atitude.

1996 Disponível em Inglês, Francês, Português e Espanhol

Revistas Passo a Passo em francês, espanhol, português e inglês, espalhadas sobre uma mesa de madeira

De: Crianças de rua – Passo a Passo 28

Aprenda com diferentes grupos sobre a melhor forma de apoiar as crianças vulneráveis

por Judith Ennew.

Há duas regras básicas para se trabalhar com qualquer criança:

  • A maior barreira para se ter programas bem sucedidos é a nossa própria atitude.
  • O maior recurso em qualquer projeto são as próprias crianças.

Os adultos tendem a presumir que sabem o que é melhor para as crianças. Mas as crianças de rua que têm assumido bastantes responsabilidades por si próprias frequentemente têm idéias muito definidas sobre o que é melhor para elas. O problema é que poucas pessoas as ouvem ou usam suas aptidões e habilidades.

Coletando informações

Antes de começar a fazer planos para qualquer projeto, devem-se coletar informações.

  • Que grupos de crianças estão em maior risco?
  • Que grupos de crianças estão recebendo menos ajuda?
  • Qual destes grupos você tem melhores condições de ajudar?
  • Que informações adicionais são necessárias sobre estas crianças antes de começar a planejar o projeto?

Algumas pessoas acreditam que não há nenhuma necessidade de se pesquisar – o importante é agir imediatamente e resgatar estas crianças.

No entanto, as crianças merecem ajuda que seja apropriada ao seu próprio ambiente e situação. Elas merecem soluções que sejam duradouras, que não terminem se o financiamento terminar.

A pesquisa deve ser baseada na observação das crianças de rua e suas atividades e passando tempo com elas. A maioria das crianças, com razão, ficam assustadas com qualquer pessoa com um questionário ou prancheta – o que elas vão ganhar ao responder a tantas perguntas? Um brinquedo simples tal como um iô-iô é uma boa maneira de atrair atenção. O simples fato de ficar com as crianças por algum tempo, participar em suas brincadeiras ou conversar calmamente com elas sem usar uma máquina fotográfica ou caderno de anotações é a melhor maneira de se estabelecer contato.

Preste um serviço

A prestação de um serviço simples pode ser uma maneira importante de se estabelecer contato com crianças de rua. O projeto SABANA (nas Filipinas) percebeu que as crianças tinham que comprar água em copos. Isto significava que elas bebiam menos do que precisavam. Assim, o projeto providenciou barris de água diariamente. As crianças podiam beber a água e até lavar as mãos. Aos poucos as crianças começaram a se aproximar e conhecer a equipe.

Eles descobriram que a primeira prioridade era um lugar para descansar ao abrigo do sol e um lugar plano onde pudessem brincar. O pessoal do projeto limpou a área ao redor de seu prédio e a fecharam com uma cerca feita de molas de cama usadas. Incentivadas pela bola e por outros jogos simples, as crianças começaram a participar em peso.

Opções de projetos

Há um ponto muito importante a seguir como guia:

A ênfase não deve ser em fazer as crianças deixarem as ruas ou pararem de trabalhar mas em aumentar as opções disponíveis e ajudá-las a tomarem suas próprias decisões.

No entanto, o desejo de resgatar crianças rapidamente e tirá-las das ruas é comum, especialmente entre doadores.

ABRIGOS E CRECHES Abrigos são lugares onde as crianças podem se sentir relaxadas, seguras e confortáveis. Eles são lugares onde as crianças podem conversar umas com as outras e com o pessoal do projeto, sabendo que serão ouvidas. Eles não são lugares onde as crianças devem receber lições ou sermões! Uma decisão importante é se o projeto deve oferecer abrigo noturno. É à noite que as crianças passam pelos maiores riscos mas mesmo assim, abrigo noturno só pode ser fornecido para alguns e o pessoal do projeto tem de prestar atendimento 24 horas por dia.

Geralmente não há nenhuma necessidade de se construirem prédios específicos para o trabalho. Às vezes os prédios podem ser ‘emprestados’ durante a noite ou pode haver prédios abandonados que podem ser reparados, salas em centros de saúde, igrejas, mesquitas ou templos que podem ser usados. Seja o que for encontrado, isto deve estar de acordo com a maneira como vivem as pessoas na comunidade ao redor. Acomodações simples situadas onde as crianças de rua vivem é melhor.

Considere cobrar pequenas quantias pela comida, em vez de doá-la. No projeto de Redd Barna, no Sri Lanka, cobra-se o preço de custo da comida. O pessoal tem dito que as crianças estão bem conscientes do custo da comida e compreendem a necessidade de se comprar a granel para manter os custos baixos. Elas aconselham o pessoal a comprar com cuidado e também fazem algumas compras por si própias. Elas mantêm um registro dos custos, mudanças e qualidade da comida. Tudo pode se tornar uma oportunidade de aprendizagem!

CUIDADOS DE SAÚDE As crianças de rua raramente possuem informações corretas sobre doenças ou seus próprios corpos. É melhor que se prestem cuidados de saúde simples na própria rua, gratuitamente. Cuidados de saúde preventiva são importantes mas precisam ser interessantes e relevantes. Incentive o uso de dramatizações e marionetes por parte das crianças para que elas próprias transmitam mensagens de saúde. Ajude as crianças a compreenderem os seus próprios corpos e assumirem responsabilidade pela sua saúde. As experiências sexuais das crianças precisam ser discutidas sem fazer julgamentos. A luta contra o uso de drogas traz muitas frustrações e pode não ser apropriada até que a criança tenha segurança garantida para o futuro.

EDUCAÇÃO Idealmente as crianças deveriam estar em uma escola e por isto a educação é geralmente uma parte importante de projetos para crianças de rua. Não se pode esperar que as crianças mais velhas se encaixem dentro de um sistema escolar formal usando livros e lições designadas para crianças de cinco anos. Métodos mais participativos de aprendizagem são necessários, especialmente no começo. A educação não depende de uma sala de aula ou até mesmo de um prédio – escolas que funcionam nas calçadas das ruas são comuns na Índia. O ensino deve ser dado onde as crianças estão e os horários devem ser muito flexíveis. Dramatizações, canções, marionetes, desenho e modelagem podem ser usados. Deixe que as crianças produzam os seus próprios livros – começando com figuras recortadas de revistas, explicando umas às outras porque elas as escolheram. Use debates para ajudar as crianças a compreenderem por quê vivem as vidas que têm. Esta é a primeira etapa no processo de mudança de suas vidas. Estabeleça contatos com funcionários do Ministério da Educação e com professores da região. Você precisará encontrar maneiras de ajudar as crianças a voltarem ao sistema formal de educação.

TREINAMENTO PROFISSIONALIZANTE Muitos programas de treinamento não estão ligados ao mercado de trabalho e não fornecem oportunidades de emprego ou acompanhamento. Antes de introduzir tal treinamento ou usar um programa de treinamento governamental, faça as seguintes perguntas:

  • Que habilidades são realmente necessárias no mercado local de trabalho?
  • Que cursos já estão disponíveis na região? Suas crianças poderiam participar nestes cursos se elas fossem ajudadas primeiro a melhorarem suas habilidades de leitura e escrita?
  • O que pode ser feito para ajudar os alunos a encontrarem empregos?

PROTEÇÃO DE OPORTUNIDADES DE EMPREGO

Em diferentes partes do mundo, certos projetos têm ajudado crianças que trabalham por conta própria a melhorarem as suas condições de trabalho através de:

  • oferecerem um espaço onde o trabalho possa ser feito tal como um sistema de lavagem de carros ou engraxataria onde as crianças não tenham que pagar aos adultos por tal espaço
  • fornecerem lugares seguros onde ferramentas e materiais possam ser guardados durante a noite
  • melhorarem capacidades para que os produtos sejam feitos de melhor maneira
  • ajuda e treinamento sobre negócios e sistemas de crédito e empréstimos
  • fornecendo sistemas de poupança. (Em Colombo, as crianças dormem com seu dinheiro dentro da boca.)

Lidando com roubo e estragos

É triste ver as crianças roubando ou estragando objetos que são fornecidos para ajudá-las. Este é um problema frequente. Em primeiro lugar, você precisa avaliar o estrago e então pensar porque motivo ocorreu. Foram mesmo as crianças ou pessoas de fora, jovens ou o público tentando destruir o projeto? Se foram as crianças, tente descobrir por quê e então envolva as crianças em um processo de justiça e repare o estrago. Tais estragos ocorrem em todos os projetos. Faça algo a respeito disso, coloque-se de pé, ‘sacuda a poeira’ e comece tudo de novo.

Quando acontecem coisas ruins é muito fácil pensar que o trabalho não vale a pena. Mas quando você está por baixo, com frequência há coisas que o relembram dos sucessos, geralmente por parte das crianças – um pequeno presente, um gesto amigo de uma criança que percebe que você está abatido, um aceno de uma menina que saiu do projeto no ano anterior e está se saindo bem na escola. Vale a pena continuar!

Este artigo resume algumas das importantes informações contidas no livro Street and Working Children escrito por Judith Ennew e publicado pela Save the Children Fund. Este livro é altamente recomendado para qualquer pessoa que trabalhe com crianças de rua (revisto na página Recursos).

Perguntas a serem feitas:

A você mesmo...

  • Como acha que a infância deve ser?
  • Que tipo de trabalho as crianças devem fazer e em que idade?
  • Qual é a sua imagem das crianças de rua?
  • Por que são empregadas crianças em vez de adultos?

Sobre as crianças com as quais você vai trabalhar...

  • Como é a infância das crianças pobres da região onde você espera trabalhar?
  • Qual é a imagem local das crianças de rua?
  • Que fatos você conhece sobre as crianças com as quais quer trabalhar? Em quê se baseiam estes fatos?

Sobre a área onde você começará o projeto...

  • Que trabalho fazem as crianças?
  • Quantas crianças de rua e crianças trabalhadoras existem na região?
  • Há exemplos de participação de crianças em projetos locais? Que tipo de participação é esta?

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