Brian Polkinghorne escreveu-nos uma resposta interessante à Edição 29. Aqui estão alguns dos pontos levantados por ele, assim como os comentários de Simon Batchelor (que escreveu o artigo de abertura da Edição 29).
Brian: Obrigado por mais uma edição estimulante da Passo a Passo, apesar de que edição de dezembro sobre AAP levantou mais questões para mim do que respondeu. Na minha experiência, o desenvolvimento de baixo para cima’ é tão ineficaz como o desenvolvimento ‘de cima para baixo’ é elitista. Como ministro ordenado com treinamento em agricultura, eu trabalhei com questões de desenvolvimento na Tanzânia durante mais de 14 anos e recentemente passei a responsabilidade de um projeto desafiante de reflorestamento às pessoas que treinei. No editorial, a sua primeira afirmação é sobre o verdadeiro valor de cada e de todo o indivíduo ter a oportunidade de compartilhar as suas opiniões. Na minha experiência, é muito difícil que as mulheres compartilhem suas opiniões de maneira significativa ou que elas sejam ouvidas.
Simon: A meta de uma abordagem participatória é precisamente ajudar os marginalizados a expressarem as suas opiniões. Se as mulheres não podem falar publicamente na sociedade, então, devem-se encontrar abordagens novas e imaginativas para descobrir a opinião delas. Antigamente, os então chamados especialistas falavam em nome das mulheres, mas, freqüentemente, com valores que eram completamente diferentes daqueles encontrados no povoado / aldeia. As ações foram mal entendidas, causando mais dano do que benefício e, às vezes, até conflito. Somos chamados para sermos pacificadores. No passado, ‘especialistas em desenvolvimento’ pensavam em soluções antes das pessoas reconhecerem as causas básicas dos seus problemas e, assim, quando as intervenções de fora terminavam, o povoado retornava aos seus costumes antigos por não serem donos das mudanças.
Brian: Os povoados que eu conheço bem têm muita rivalidade pessoal e conflitos, estruturas tradicionais de poder e sistemas sociais de classes que limitam gravemente o potencial de verdadeira participação.
Simon: Devemos reconhecer que a humanidade está decaída e o egoísmo pode ser encontrado em qualquer sociedade. Abordagens participativas envolvem, muitas vezes, uma prestação pública de contas e, em uma sociedade imperfeita, prestação pública de contas é uma das poucas maneiras de reduzir a corrupção e os conflitos.
Brian: Eu concordo plenamente que o desenvolvimento sustentável só pode resultar da ação comunitária – mas não estou tão certo de que a ação sempre deva e só possa ser ’iniciada’ pela própria comunidade. Por exemplo, em um povoado cujos habitantes só viajaram a distância de um ou dos dias de bicicleta do local onde nasceram, onde não recebem jornais, possuem poucos rádios, um nível muito baixo de educação e um nível ainda menor de conscientização ambiental e um governo que sempre lhes diz o que pensar e o que fazer – como eles poderão obter idéias e estímulo para encontrar uma saída para esta situação?
Eu acredito que deve haver um apoio de fora. Então talvez você comece a ver alguns sinais de desenvolvimento sustentável aparecerem.
Simon: O processo começa quando as pessoas vêem uma necessidade ou sentem que alguma coisa está errada. É correto dizer que elas não possuem a experiência de vida para saber quais são as causas do problema ou para conhecer uma solução razoável. Mas isto não nos impede de começar com a análise delas próprias sobre o problema. Desta maneira, a AAP incentiva a sociedade a descobrir a causa básica e a solução.
Brian: Se cada sociedade é tão diferente em seu sistema sociológico, econômico, político e de valores espirituais, como pode uma única abordagem como a AAP ter sucesso em mais do que umas poucas sociedades ao ajudar as pessoas a darem o próximo passo em seu programa de desenvolvimento? Eu garanto, por exemplo, que para a grande maioria dos africanos de zonas rurais a AAP baseada em mapeamento e transecções não será útil porque aqui as pessoas não usam mapas. Vamos incentivar mais experimentação e diversidade. Por que Deus encheu o mundo com tantas formas e estilos variados de vida? Com certeza, ele também é a favor da diversidade!
Simon: Eu concordo que nem todas as técnicas são aplicáveis a todas as sociedades. No Camboja, os próprios moradores das aldeias criaram jogos novos para comunicarem princípios entre si. Eles criaram técnicas novas para garantir que todos participem e compreendam. Não devemos confundir as técnicas com os princípios de participação. Trabalhamos com o objetivo das pessoas aumentarem os seus conhecimentos sobre a vida, sobre a verdadeira natureza do universo e as suas capacidades criativas. Que melhor mecanismo existe para incentivar a diversidade do que envolver-se no processo de identificação de um problema e trabalhar em conjunto para encontrar a solução?