Pesquisadores do Bhima Sangha, interessados no trabalho com crianças, visitaram os pais dos membros e perguntaram o que eles pensavam sobre o envolvimento dos seus filhos…
Mudanças na vida de um menino
Ullur Manju recebeu treinamento no Bhima Sangha e viajou para participar em uma conferência sobre trabalho infantil que foi realizada em Oslo, em Outubro de 1997. O pai de Manju comentou sobre as mudanças que ele havia notado no seu filho. Quando jovem, a família de Manju fez com que ele deixasse o cabelo crescer, como promessa feita a um deus. Ele foi importunado na escola por causo disso. Ele não tinha nenhum interesse em ir à escola porque as crianças ‘eram ensinadas à vara’. Ele começou a trabalhar como ajudante em uma fazenda e depois na linha ferroviária.
Posteriormente, ele passou a fazer parte do Bhima Sangha e a sua confiança aumentou. Através deles, Manju recebeu treinamento para aprender a trabalhar com couro e agora ele é um profissional autônomo, com desejo de treinar outras pessoas e criar empregos. Quando criança, ele nunca dizia uma palavra e sempre se escondia quando lhe faziam uma pergunta. Atualmente ele já fez discursos e apresentações para ONGs e grupos que trabalham com crianças na Índia e em Oslo. O pai dele disse: ‘Manju é um menino muito mais seguro. Ele tem oportunidades. Ele já viu coisas que eu nunca imaginei ver na minha vida. Eu o apoio muito. É uma coisa muito boa.’
Mudanças na vida de uma menina
Vanaja também participou na conferência de Oslo e hoje em dia tem formação na área de construção civil. A mãe dela tem um problema físico que não lhe permite trabalhar. O pai dela fica fora de casa a maior parte do tempo, bebendo e jogando. Na ausência de Vanaja, o seu irmão mais velho toma as decisões em nome da família. A mãe de Vanaja disse: ‘As crianças podem decidir o que querem fazer. A decisão é delas. Eu apoio o trabalho da minha filha. Eu fiquei surpresa no começo, mas agora eu posso ver que o trabalho da Vanaja a faz feliz.’ Foi difícil imaginar que estas oportunidades surgiriam para a filha dela. ‘Os nossos parentes ainda não estão convencidos, mas o irmão dela está de acordo que ela continue.’
Os membros foram questionados se o respeito que tinham pelos seus pais havia diminuído depois que eles se tornaram mais confiantes e experientes. Na verdade, em vez de diminuir, o respeito aumentou. Quanto mais as crianças compreendem as razões sociais e políticas que levam as suas famílias a serem pobres, mais respeito elas têm pelos seus pais devido à dignidade e capacidade dos mesmos em lidarem com situações difíceis. No centro de treinamento, as crianças comem a mesma comida que lhes seria servida em casa e não se envergonham dos seus pais quando chegam ao centro vestindo as roupas tradicionais das castas mais baixas. Esses são símbolos da cultura e das tradições que possuem, das quais elas têm orgulho.
Mudando papéis tradicionais
Geralmente as meninas não têm permissão para saírem de casa. Elas se dedicam às atividades domésticas e a apanharem lenha e água. Os meninos geralmente realizam tarefas diferentes das meninas. As intenções dos pais são boas mas eles são influenciados pela sociedade ao seu redor e encontram dificuldades para fazerem mudanças.
Bhima Sangha acredita que deve haver igualdade entre meninos e meninas em todas as áreas, inclusive no local de trabalho. No entanto, é difícil que as crianças criem essa conscientização sozinhas. Os pais e os membros da comunidade precisam de estar convencidos da necessidade de se ter uma mudança como essa. Movimentos juvenis, de crianças trabalhadoras e de mulheres deveriam se dedicar a criar tal conscientização entre o público.
Atitudes da comunidade
Um membro do Bhima Sangha disse o seguinte: ‘No começo, os moradores do nosso povoado não acreditavam no trabalho do Bhima Sangha. No entanto, os membros do Bhima Sangha e o Makkala Panchayat (conselho infantil) fizeram uma campanha para que uma ponte fosse construída, a qual tem sido de muita utilidade para as pessoas que precisam atravessar o rio e para as crianças que vão à escola. Nós também pedimos para que houvesse um carteiro no nosso povoado. Hoje em dia, os moradores da comunidade estão convencidos sobre as boas intenções do conselho infantil e do Bhima Sangha. Agora eles acreditam em nós!’
Atitudes das crianças
Manju disse o seguinte: ‘Eu aprendi a ser independente. Eu agora sei que nós, as crianças, temos direitos. Eu fico furioso quando vejo alguém batendo em uma criança. Eu também me preocupo muito com o meio-ambiente.’
‘Eu sei que através do nosso próprio Sangha, podemos lutar juntos se as crianças enfrentarem qualquer problema. Eu aprendi a participar ativamente em certos processos e a incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. Se existirem mais organizações coletivistas e sindicatos, é possível pressionar bastante o governo para que eles façam mudanças para o melhor.’
Os seis representantes do Bhima Sangha que contribuíram nessa tarefa e deram a sua opinião foram: Saraswathi, Nagaraja, Vanaja, Manju, Chandrawathi e Gangadhara. Todos são (ou foram) líderes no Bhima Sangha e trabalharam com outros membros para produzirem os desenhos que relatam a história da organização. É possível entrar em contato com eles através do endereço da CWC (página 7).