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Experiências de idosos

Reunimos aqui uma variedade de entrevistas com idosos de vários países. Eles compartilham as suas opiniões sobre as diferentes maneiras como as pessoas idosas são tratadas nos dias de hoje, além das suas esperanças e receios sobre o futuro.

1999 Disponível em Inglês, Espanhol, Português e Francês

De: Pessoas idosas – Passo a Passo 39

Aprenda com a contribuição dos idosos para a sociedade e celebre-a

Reunimos aqui uma variedade de entrevistas com idosos de vários países. Eles compartilham as suas opiniões sobre as diferentes maneiras como as pessoas idosas são tratadas nos dias de hoje, além das suas esperanças e receios sobre o futuro.

Yourma Bawule – uma viúva de Gana

Yourma Bawule tem 65 anos e vive sozinha, próximo de Wa, no noroeste do Gana. Os seus três filhos mudaram para uma outra região. Yourma comentou que as pessoas idosas antes eram tratadas com respeito e dignidade. ‘Quando uma criança entregava algo a uma pessoa idosa, ela se ajoelhava e permanecia nesta posição até que mandassem ela se retirar. A arte da cortesia já não existe mais. Os jovens de hoje em dia pensam que sabem mais do que os idosos.’

‘Costumávamos ter muita comida e, por isto, os idosos podiam ser generosos. Eles cozinhavam comunalmente e repartiam o que tinham com os jovens. Isto fazia com que os idosos se sentissem parte da comunidade e os jovens demonstravam gratidão. Hoje em dia, a gratidão só é valorizada se for demonstrada em dinheiro. Eu não tenho nenhuma esperança para o futuro. Muitas pessoas estão se tornando cada vez mais pobres. Todos os dias morre alguém. Os idosos pararam de ensinar os jovens devido a tanta frustração. Nada pode voltar a ser como era antes.’

Contribuição de Augustina Benlu

Silvanus Wani – Arcebispo aposentado do Uganda

Eu encontrei-me com o arcebispo Silvanus logo depois que ele se reformou (aposentou). Ele estava andando de bicicleta em uma estrada na zona rural. Devido a ele não ter uma reforma, ele regressou à sua região de origem, no noroeste do país, após ter vivido em um lugar comparativamente luxuoso, em Kampala, a capital do país. Para outras pessoas, isso poderia ter causado ressentimento, mas não a Silvanus! Ele continuou olhando para o Mestre e deu sempre pouca importância às suas próprias necessidades. Ele considerava esta vida como sendo uma peregrinação, com um futuro maravilhoso no céu. Apesar de estar aposentado, ele continuou como se ainda fosse arcebispo, pregando o Evangelho, ensinando e incentivando a todos que encontrava, especialmente as crianças e os jovens. Ele creu em tudo o que Jesus disse e demonstrou um tremendo compromisso para com Ele até ao fim. Ele faleceu no ano passado.

Contribuição de Joy Grindley, antiga funcionária da AIM, Uganda

Pascal Akouegnon – um agricultor do Benin

Pascal era um agricultor e caçador. Ele fundou o povoado de Atchakpa, onde ainda vive, em Save, no Benin, na África Ocidental. Quando lhe perguntaram se os idosos são tratados de forma diferente nos dias de hoje, ele respondeu: ‘Sim, certamente. Nos velhos tempos, era dada muita atenção aos homens idosos, especialmente nos países africanos tradicionais, onde eles eram considerados ‘bibliotecas repletas de conhecimentos’. Nos dias de hoje, neste mundo que muda tão rapidamente, os idosos são tratados como se fossem um problema e as pessoas tentam se livrar deles o mais breve possível. As pessoas já não usam mais a nossa sabedoria nem os nossos conhecimentos.’

‘Eu temo que o nosso futuro está fundamentado em algo fraco, ou até mesmo frágil. Se não tomarmos cuidado, as futuras gerações provavelmente não terão pontos de referência. A minha esperança para o futuro está, acima de tudo, nas famílias que estão educando os seus filhos a terem respeito pelos idosos. Algumas famílias ainda fazem isto em África. Elas são como raios de esperança para o amanhã.’

Contribuição de Appolinaire Gbaguidi, Benin

Margarita – mulher espanhola de 70 anos que vive no Chile

‘Hoje em dia, a vida é diferente para os idosos pois antigamente havia muito mais respeito para com eles. As crianças chegam até a chamarem os seus pais por apelidos (alcunhas). Nos dias de hoje, os idosos podem até serem ouvidos, mas geralmente não são tratados com formalidade e, às vezes, são deixados de fora. Os jovens têm muita vontade de saber como costumávamos viver para descobrirem se a vida era melhor naquela época. A nossa sabedoria e experiências são ‘bem utilizadas’, quando os jovens nos fazem perguntas sobre o passado.

No futuro, eu espero que o nível de vida seja melhor para todas as pessoas, e que haja menos violência e delinqüência e, assim, todos possamos viver com segurança. A minha vida foi sempre dedicada à religião e a cuidar de jovens em abrigos. Eu não tenho medo da morte, pois sei que ela será o caminho que me levará à luz de Cristo.’

Contribuição de Solange Angel, Chile

Veronika – vivendo sozinha na Moldova

Veronika tem 61 anos e vive em Ialoveni. Ela trabalhou em uma fábrica de vinho até se aposentar. Ela se lembra que os seus avós não possuiam muitas coisas, mas que viviam em melhores condições do que ela nos dias de hoje. Os pais de Veronika perderam a terra que tinham para as fazendas coletivas, e os seus filhos nunca a recuperaram.

Na Moldova, a idade para se aposentar aumentou. Muitos perderam as suas aposentadorias quando os sistemas estatais entraram em colapso em 1990. Veronika acredita que os idosos não recebem nada de valor do Estado nos dias de hoje. Ela acabou de receber a sua pequena aposentadoria referente ao mês de março de 1998, com um atraso de dez meses.

Infelizmente, Veronika não tem filhos, mas os seus sobrinhos e sobrinhas pedem os seus conselhos. Ela sente que os seus familiares e a comunidade fazem um bom uso dos seus conhecimentos. Ela costuma se esforçar para resolver os seus próprios problemas. Hoje em dia, ninguém a ajuda e ninguém se interessa por ela. Veronika não tem nenhuma esperança para o futuro. Por não haver ninguém para tomar conta dela, ela espera que Deus a mantenha saudável.

Contribuição de Stephen Brown, Equipe para a região do Mediterrâneo e da Ásia Central, Tearfund

Elizabeth Guillebaud, Grã-Bretanha – 84 anos

‘Eu e o meu marido nos aposentamos em 1986, depois de termos trabalhado por mais de 40 anos em Ruanda, nas áreas de educação e tradução da Bíblia. Quando ficamos sabendo sobre o terrível genocídio em 1994, no qual vários amigos nossos foram assassinados, e vimos tantas pessoas indo ajudar sem conhecerem o idioma, a cultura ou o Senhor, nós consideramos se deveríamos regressar àquele país, pois conhecíamos os três! No dia em que completei 80 anos, li sobre a chamada que Moisés recebeu aos 80 anos, e sentimos que Deus realmente estava nos dizendo para regressar. Nós regressamos por um ano para ajudarmos a ouvir e a aconselhar aqueles que perderam os seus entes queridos. Quando retornamos para a Grã-Bretanha, o meu marido ficou doente e faleceu em Novembro de 1996. Eu decidi voltar para Uganda com a minha filha em janeiro de 1997.

Por ser viúva, eu senti que seria capaz de ajudar muitas viúvas e órfãos. Com a ajuda de duas outras viúvas, nós iniciamos uma reunião de viúvas para ensinarmos sobre a Bíblia, compartilharmos problemas e orarmos umas pelas outras. Em pouco tempo, o grupo chegou a ter 400 pessoas, e tivemos que dividir as reuniões. Muitas viúvas descobriram que Jesus é a resposta para a solidão que sentem. Elas ajudam-se umas às outras, de maneira prática – até mesmo construindo casas para as mais necessitadas. Elas fazem uma doação semanal, com a qual compram tecido para fazerem uniformes e constataram que isto lhes dá uma certa posição social. Eu espero continuar com este trabalho, enquanto a minha saúde permitir.

Eu lembro-me da minha própria avó costurando próximo da lareira. Hoje em dia, os idosos que gozam de estabilidade financeira podem aproveitar mais a vida, viajando e continuando ativos de várias maneiras. Aqui na África, a minha experiência é bem utilizada, enquanto que na Inglaterra, a sociedade não esperaria que eu contribuisse muito. Eu tenho receio de sofrer um ataque cardíaco ou uma outra doença, o que causaria uma sobrecarga para as pessoas daqui de Byumba. A minha esperança para o futuro pode ser melhor expressada em Filipenses 3:13-14.’

Mara Kallé – antigo líder de Cheddra, Chade

Mara Kallé tem 81 anos e foi o líder de Cheddra, um centro comercial importante no norte do Chade, por 58 anos, de 1938 a 1996. Ele foi a primeira pessoa do seu povoado a ir à escola. ‘Eu seguia as pessoas mais velhas para aprender com elas.’ Por ser o filho mais velho, ele substituiu o seu pai como líder do povoado quando ele faleceu.

‘Os meus avós eram muito felizes. Eles nos ensinaram história. Como o povoado não era muito grande naquela época, eles controlavam todos e corrigiam as pessoas que não seguiam as tradições. Naquela época, os idosos eram tratados de uma maneira muito melhor do que hoje em dia. Todas as famílias escolhiam uma criança ou pessoa específica para cuidar dos idosos de cada lar. Na minha família, nós nos assegurávamos de que o quarto do nosso avô estivesse limpo e nos revezávamos para cuidar dele.

Hoje em dia, no entanto, compare a situação de um dos meus vizinhos, o velho Saleh. Ele é um senhor idoso que vive sozinho. Ninguém cuida dele; ele é forçado a pedir esmolas e as pessoas pensam que ele é louco por falar bastante. Eu temo que quando os idosos são marginalizados, assim como Saleh, os jovens precisam de conselheiros.

A minha experiência e sabedoria ainda têm utilidade no povoado e, certamente, o meu conselho sobre assuntos religiosos é seguido. Eu temo, no entanto, que os jovens sigam outras culturas sem pensarem no que estão fazendo, especialmente os que pertencem às famílias brancas (ocidentais), e desistam de ajudar as pessoas necessitadas. Eu também temo que os jovens estejam se distanciando de Deus. Eu gostaria que o nosso governo ajudasse os idosos um pouco mais.’

Contribuição de Ngoniri Gos, do Chade

Cécilie Siboniyo – uma refugiada no Burundi

Cécilie Siboniyo tem 80 anos e vive no Campo de Refugiados de Buraniro, na região de Butaganzwa-Kayanza, no Burundi. ‘No passado, as crianças eram bem educadas, mais do que nos dias de hoje. A educação das crianças não era apenas um assunto familiar, mas os vizinhos contribuiam para a disciplina delas. Era por isto que existia um ditado no Burundi: ‘Umwana n’uw’Igihugu’ (‘Uma criança enriquece toda a vizinhança’). As crianças respeitavam os mais velhos e os ajudavam em coisas práticas. As crianças eram ensinadas a terem muito respeito pelos visitantes, os quais mereciam ser recebidos cordialmente. Geralmente existia uma harmonia social invejável.’

Cécile certamente tem receios sobre o futuro. ‘O mau comportamento de certos jovens, as doenças e estragos causados pela imoralidade e a falta de disciplina são assustadores. Hoje em dia não é fácil educar as crianças e os jovens têm muitas distrações. Eles geralmente não levam o conselho dos seus pais a sério e acham que as idéias deles estão desatualizadas.’

No entanto, ela espera que no futuro as autoridades reconheçam a importância de uma educação com valores culturais. A mídia está começando a apontar o dedo para estes problemas, para colocarem os jovens novamente na linha.

Contribuição de Claire Britton e Désiré Munezero, Tearfund Burundi

Abtwahi Al Hajj, 77 anos, Ngozi, Burundi

No passado, as crianças se responsabilizavam por cuidar dos idosos. Quando um avô tinha alguma necessidade, os seus netos o ajudavam. A família fazia todo o possível para que ele tivesse acesso à assistência médica. As crianças trabalhavam como uma comunidade para arar os campos. A educação escolar reduziu a quantidade de trabalho que as crianças realizam junto das suas famílias. Elas preferem que os seus pais cozinhem para elas para que tenham mais tempo para estudarem. O respeito e a ajuda aos mais velhos diminuíram. Alguns jovens que terminaram os seus estudos raramente visitam os seus avós.’

Estas atitudes fazem com que ele tenha receio do futuro. Os jovens estão perdendo, cada vez mais, a noção do que é a família e alguns estão se tornando alcoólatras. Isto leva a maus hábitos, perda de valores culturais e delinqüência entre muitos estudantes recém-formados que não estão preparados para a vida no campo.

Contribuição de Claire Britton e Désiré Munezero, Tearfund Burundi

Grupo de Senhoras de Jamkhed, Índia

‘Nos velhos tempos, as mulheres permaneciam nas suas casas e nos seus campos e tinham pouco contato com os seus vizinhos. Existiam muitas contendas dentro das famílias e pouco amor entre as pessoas. Os maridos controlavam o dinheiro e geralmente gastavam muito com bebidas e jogos. As diferentes castas e religiões não tinham contato umas com as outras.

Hoje, existe mais respeito entre os idosos e os jovens. As mães e as suas noras dão-se bem melhor. Também existe muito mais liberdade para reunir-se com as pessoas fora de casa, inclusive pessoas de outras castas e religiões. As mulheres tendem a cuidar das finanças, ao invés dos homens, e fazem um trabalho melhor!’

As mulheres sentem que, hoje em dia, os seus conhecimentos são usados de melhor maneira do que no passado. Quando falam do futuro, elas têm receio de poucas coisas, exceto durante o período de eleições, devido à pressão de diferentes partidos políticos. No futuro, elas esperam que exista mais educação para as meninas, e que as mesmas tenham maiores oportunidades de capacitação em toda a Índia, não apenas na região ao redor de Jamkhed. Elas gostariam de ver as mulheres se envolvendo em política e se tornando juízas, porque somente as mulheres compreendem o sofrimento e os problemas de outras mulheres. Elas também esperam ter melhores condições de saneamento, controle de doenças e liberdade para viajarem.

Contribuição de Anthony Titley, Equipe para a Ásia, Tearfund

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