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Desenvolvimento da capacidade

Uma entrevista com Mulugeta Dejenu, que trabalha como Facilitador (Conselheiro) Regional para a Tearfund com sede na Etiópia.

2004 Disponível em Português, Espanhol, Inglês e Francês

Foto: Isabel Carter/Tearfund

De: Habilidades em facilitação – Passo a Passo 60

Como facilitar a aprendizagem participativa de forma eficaz

Foto: Mike Webb/Tearfund

Foto: Mike Webb/Tearfund

Uma entrevista com Mulugeta Dejenu, que trabalha como Facilitador (Conselheiro) Regional para a Tearfund com sede na Etiópia.

Mulugeta, você poderia descrever o seu trabalho?

Meu trabalho é principalmente fazer um levantamento das necessidades em termos de capacidade dos nossos parceiros e ajudar a apoiá-los para que se tornem mais eficazes. Isto consiste em viajar para várias partes do país, para oferecer aconselhamento técnico, monitorizar projetos em andamento e discutir o apoio. O trabalho em rede com o governo, as ONGs e as Nações Unidas é uma outra forma importante de fornecer um vínculo entre os nossos parceiros e o conhecimento e os recursos práticos. Ajuda também a torná-los mais conhecidos no mundo das ONGs.

Quanta oportunidade você tem de trabalhar com organizações que oferecem treinamento para grupos comunitários?

Formamos vínculos com várias organizações que trabalham com comunidades para desenvolver sua capacidade.

Que tipo de comentário você geralmente recebe do treinamento oferecido por estas organizações?

O tipo de comentário depende do quanto estas organizações valorizam o conhecimento das pessoas sobre suas situações. Depende também do quanto a organização é vista como o motivo para a transformação. A profundidade e a riqueza das informações que as pessoas são capazes de fornecer dependem do quanto elas são reconhecidas pelas organizações que oferecem apoio.

Como se beneficiam as pessoas com este treinamento, e quanto elas colocam em prática no seu trabalho?

Algumas organizações com quem trabalha-mos reconhecem o potencial das pessoas para lidarem com os seus próprios problemas. Outros acreditam que somente o especialista “externo” possui as respostas. Achamos que a perspectiva das organizações depende da proximidade que há entre elas e as pessoas e sua realidade.

O envolvimento com as comunidades deve procurar ajudar as pessoas a explorarem sua força interna e a adquirirem confiança para assumirem mais responsabilidade por seu próprio crescimento e desenvolvimento. Isto não ocorrerá, a menos que as pessoas sejam desafiadas e incentivadas.

Os comentários são diferentes quando o treinamento usa abordagens e facilitação participativas, ao invés do ensino?

Eu me lembro de duas situações diferentes, em que as pessoas estavam acostumadas a serem ensinadas e ao ensino formal. Esta comunicação unilateral tradicional não resultou na abertura, no comprometimento e na energia necessária para iniciar um projeto. Foi usada, então, uma abordagem participativa. Esta aumentou significativamente o desejo das pessoas de participarem do desenvolvimento. Depois do treinamento participativo, as pessoas foram auxiliadas, através da dramatização de papéis e do teatro, a verem sua própria capacidade. O projeto PILARES, na região de Wolaitta, incentivou as pessoas a se envolverem em discussões para a solução de problemas entre si e em sua própria língua. O processo reconheceu a capacidade das pessoas de contarem suas próprias histórias e coletivamente buscarem soluções para os seus problemas. Alguns confessaram que se consideravam ignorantes e fracos. Porém, o processo PILARES trouxe esperança e aumentou a confiança de que o conhecimento local podia ser usado. Ele aumentou a motivação das pessoas para lidarem com os seus próprios problemas.

Você se lembra de alguns exemplos em que o uso das habilidades em facilitação tenha certamente ajudado a capacidade das pessoas de aprenderem e mudarem?

No projeto de microirrigação de Metalla, duas comunidades (quase 800 famílias) recusaram- se a trabalhar no esquema de irrigação construído para elas pelo governo em 1997. O esquema foi planeado para ajudar as duas comunidades a melhorarem as suas necessidades de segurança alimentar. Como as comunidades estavam acostumadas com a assistência de alimento gratuito, elas acharam que o esquema de irrigação era uma má idéia! Em 2001, nossa parceira, a Wolaitta Kale Heywet Church (WKHC) veio à Tearfund pedindo alimento por trabalho para consertar o canal de irrigação. Eu perguntei “Qual é a prioridade – consertar o canal ou mudar a atitude das pessoas?” Os funcionários da WKHC concordaram que era a atitude que precisava de mudar em primeiro lugar. Numa série de encontros comunitários, foram usados o treinamento, a dramatização e o teatro para incentivar a auto-descoberta. Ao longo de nove meses, as atitudes das pessoas foram mudando da dependência para a autoconfiança. Os agricultores ao longo do canal de irrigação viram que o seu futuro dependia de que eles assumissem a responsabilidade por seu próprio desenvolvimento. Hoje, os agricultores estão atarefa-dos, trabalhando nas suas terras e fazem três colheitas por ano. A região de Metalla não foi atingida pela recente seca. Ao invés disso, ela representou um abrigo seguro para milhares de pessoas da região vizinha.

Não foi fácil ajudar as pessoas a verem o seu próprio potencial. A abordagem de treinamento participativo usada foi muito significativa.

Isto afetou a sua própria maneira de trabalhar?

Aprendi muito ajudando a motivar as comunidades. Esta mesma experiência foi comparti-lhada com outros parceiros também e mudou a maneira de pensar de outras pessoas. A maioria dos parceiros reserva agora um período de tempo adequado para se encontrar com a comunidade antes de finalizar as propostas. Atualmente estamos trabalhando num modelo baseado na facilitação, que usa um processo de autodescoberta antes de desenvolver propostas.

Você tem algum conselho para os leitores da Passo a Passo sobre o uso das habilidades em facilitação?

A facilitação é uma habilidade que precisa de ser desenvolvida através da aprendiza-gem na prática. Quando se lida com ela de forma apropriada, ela permite que as pessoas pensem de igual para igual. Ela reconhece o conhecimento das pessoas como vital para a aprendizagem interativa. Ela respeita as opiniões de cada pessoa e motiva-as para que se abram, escutem e ajam. A abordagem tradicional de ensino pode restringir a aprendizagem. A facilitação exige humildade e uma alta consideração pelo conhecimento das pessoas. Ela freqüentemente exige que as pessoas de fora ou os especialistas se tornem humildes e escutem o que as pessoas têm a dizer. A facilitação precisa de ser culturalmente sensível ao meio de onde as pessoas vêm, sua língua e sua situação.

Mulugeta Dejenu é Facilitador (Conselheiro) Regional para a Tearfund, com sede na Etiópia. Anteriormente, ele trabalhava como gerente superior para a World Vision. Seu endereço é PO Box 31165, Addis Ababa, Etiópia. E-mail: [email protected] 

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