Uma pessoa que foi ofendida ou profundamente magoada geralmente sente que tem o direito de estar zangada, magoada ou amargurada. Ela pode até planear a vingança. Ao contrário, Deus pede que confiemos a nossa dor a Ele, confiemos Nele para que haja justiça e perdoemos aqueles que nos magoam (Romanos 12:17-20).
Perdão
O perdão é uma questão muito desafiadora, porque parece significar que o agressor escapa impune. Ele pode ter agido de propósito e talvez não esteja arrependido. Ele pode fazer o mesmo novamente sem ser punido. Parece não haver nenhuma motivação para que uma pessoa ofendida tome este rumo. Entretanto, embora o perdão não seja fácil, ele é necessário para o bem da pessoa ferida. As pessoas que foram magoadas e não perdoam continuam a sofrer pressão e feridas emocionais por estarem a segurar a raiva e a amargura.
Muitas vezes, o perdão é mal compreendido. Ele consiste na decisão de soltarmos a nossa mágoa e o nosso ressentimento. Ele não significa que:
- desculpamos ou aprovamos a ofensa
- a ofensa foi esquecida e não importa
- a ofensa não tenha consequências
- a pessoa ofendida ou a sua mágoa não importe.
Reconciliação
A reconciliação é um processo que ultrapassa o perdão. Ela é alcançada quando as pessoas que estavam em conflito chegam a uma relação positiva entre si. A reconciliação geralmente exige um mediador ou conselheiro experiente em quem as pessoas confiem e que possa falar com todos os envolvidos no conflito. Este conselheiro deve ser sábio, emocionalmente maduro, forte, objectivo e nunca passar para um dos lados. Ele ou ela deve ser respeitado na comunidade e permanecer comprometido independentemente de quanto dure o processo.
O mediador não pode resolver o conflito sozinho. Todas as pessoas envolvidas devem decidir que a reconciliação é a melhor opção para cada uma delas, que é melhor do que continuar o conflito. Todos precisam estar comprometidos com o processo e em facilitar ao máximo para que as pessoas se sentem à mesma mesa e vivam na mesma comunidade. Os possíveis conflitos futuros devem ser discutidos e resolvidos. O comprometimento com a reconciliação deve ser demonstrado através da acção apropriada. Por exemplo, em Uganda, ela consistiu em concordar que os filhos dos ex-rebeldes fossem aceites nas escolas.
Quando uma ofensa é cometida, o agressor deve arrepender-se e estar pronto a admiti-lo. Se ele não se quiser comunicar ou colocar-se na defensiva é porque não está pronto para a reconciliação. Às vezes, as pessoas procuram indemnização financeira. Entretanto, esta raramente é uma resposta a longo prazo. Ela pode satisfazer algumas das necessidades físicas da pessoa ofendida, mas não resolve a situação. As ideias de vingança podem sempre voltar à tona.
A reconciliação não é apenas um evento. Ela deve tornar-se num valor e num estilo de vida. Ela deve passar de geração para geração, através da Bíblia, da discussão, da disciplina e do exemplo. O perdão e a reconciliação fazem parte de uma jornada que poucas pessoas fazem, mas cujo destino é a liberdade, a saúde e a paz.
Sarah Mirembe é uma consultora e conselheira que trabalha com crianças e jovens em Uganda. Seu endereço é: Box 2989, Kampala, Uganda. E-mail: [email protected]
Estudo de caso
Em Uganda, muitas crianças, jovens e adultos foram raptados e forçados a entrarem para o Exército da Resistência do Senhor. Mesmo que consigam fugir e retornar à sua comunidade, eles enfrentam o desafio de longo prazo do perdão e da reconciliação. Esta foi a forma como uma jovem mulher descreveu a sua jornada para conseguir perdoar o homem que a raptou.
“Eu odiei-te por causa da dor que me causaste. Porém, eu era constantemente lembrada de ti onde quer que fosse. Assim, estava presa, porque te odiava e, no entanto, tinha que viver com as tuas memórias. O conselheiro ajudou-me a perceber que eu odiava estar presa a ti. Essa foi a primeira motivação para que te perdoasse. Odiar-te deixava-me doente. Eu queria desesperadamente ficar bem, então concordei com o conselheiro para que ele me ajudasse a deitar fora o ódio.”