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Artigos

O impacto da mudança climática nos povos nômades

2007 Disponível em Inglês, Francês, Português e Espanhol

Foto: David Crooks/Tearfund

De: Agricultura e a mudança climática – Passo a Passo 70

Como os agricultores de todo o mundo estão se adaptando às mudança climática

A mudança climática começou a afetar os povos nômades da região de Sahel, em Níger. Nesta região semi-árida, as chuvas estão fi cando cada vez mais imprevisíveis, com mudanças na época, freqüência e quantidade. A temperatura está aumentando gradualmente. Houve várias secas desde 1973, causando perdas maciças de animais. A mudança climática está causando um grande impacto nas pastagens naturais, resultando na expansão do deserto e na perda de fertilidade do solo.

O povo Tuareg está bem adaptado

para viver nas terras secas e marginais da região de Sahel. Se o pasto não sobrevive numa área, eles mudam-se para outro, levando consigo todos os seus pertences. Durante os últimos 30 anos, eles aperfeiçoaram maneiras de melhor lidar com as condições de seca. Mesmo assim, o efeito sobre os nômades que vivem nesta região é considerável. Muitos perderam os seus rebanhos de vacas e ovelhas, e as suas terras tradicionais foram destruídas. Alguns grupos estão tomando medidas para melhorar os solos pobres, evitar a expansão do deserto e responder aos efeitos da mudança climática.

Locais de fixação

O povo Tuareg decidiu que seria melhor fazer algumas mudanças e ajustes agora e perder apenas algumas das suas tradições, ao invés de não fazer nada e perder todo o seu estilo de vida. A pedido deles, a parceira da Tearfund, JEMED, tem ajudado as comunidades a estabelecer “locais de fixação” desde 1990, a fim de ajudá-los a sobreviver às mudanças que a expansão do deserto e o aumento na população trouxeram. Estes locais de fixação não assentam as pessoas permanentemente, mas baseiamse na tradição de que os tuaregs passam parte de cada ano acampados num local específico. Eles também permitem que as comunidades desenvolvam uma infra-estrutura social e projetos de educação, treinamento, saúde e manejo de pastagens, ao mesmo tempo que também mantêm muitas das suas tradições pastorais. Agora, há 22 locais de fixação, e cada um possui um comitê de administração com pessoas eleitas de dentro da comunidade local.

Poços

Os poços são muito importantes para os locais de fixação. A JEMED reparou ou cavou mais de 20 poços até agora. Às vezes, é necessário cavar novos poços fundos para se encontrar água (mais de 135 metros em Zeddagar, por exemplo). Quando um poço tem água, geralmente, várias famílias assentam residência no local.

Alfabetização e educação

Até agora, cinco dos locais têm escolas primárias, as quais oferecem dormitórios e refeitórios para que os estudantes possam permanecer ali, se as famílias se mudarem. Um dia, todos os locais oferecerão um programa de educação para adultos, tendo como alvo a alfabetização das mulheres e a defesa e a promoção de direitos para a posse das terras e os direitos dos povos nômades. Apesar dos desafios, os programas educativos alcançaram muita coisa. O nível geral de alfabetização aumentou de quase zero para 20%, o que permite que as pessoas possam ler as bulas dos remédios e que os cristãos leiam as suas próprias Bíblias. As habilidades básicas de matemática ajudaram com o êxito na gestão de bancos de cereais. A maior alfabetização e a autoconfiança resultante que ela proporciona às pessoas permitiram um maior envolvimento político. A JEMED usa uma abordagem sensível ao gênero, a qual é muito apreciada pelas mulheres, que valorizam muito a sua nova liberdade. Elas dizem “terem sido ressuscitadas” e “colocadas no dorso de um camelo!”

Segurança alimentar

A segurança alimentar foi aumentada em 18 locais através da criação de bancos de cereais, os quais reduzem o custo dos cereais e facilitam a sua disponibilidade. Em seis deles, foram abertos pequenos armazéns, que vendem artigos domésticos básicos (chá, açúcar, fósforos).

Foto: Jim Loring

Foto: Jim Loring

Preparando-se para plantar trigo silvestre dentro do dique. Foto: Jim Loring

Preparando-se para plantar trigo silvestre dentro do dique. Foto: Jim Loring

Diques para a água da chuva

Em 14 locais, a JEMED ajudou as comunidades a conservar a água da chuva, construindo um aterro baixo ou dique de pedras atravessando um vale, geralmente de 120 metros de comprimento. Quando as chuvas vêm, as pedras retardam o fluxo dos riachos, fazendo com que a água penetre mais fundo no solo. Por trás dos diques, os tuaregs conseguiram plantar trigo silvestre. Em Intikikitan, um dique já estabelecido aumentou o nível de umidade a ponto de fazer retornarem espécies de plantas que já não eram vistas há meio século.

As forragens são de extrema importância para os povos nômades, cujos animais são, com freqüência, a sua única fonte de renda. Nove áreas cercadas foram construídas atrás dos diques para proteger e melhorar o pasto para os animais. Foram criadas associações de manejo das pastagens em todos os locais. Há empréstimos para a compra de animais disponíveis para homens e mulheres em alguns locais, juntamente com um programa de vacinação de animais. 

Num local de fixação chamado Abrik, há um vale que divide a terra “morta”, ao norte, da terra “viva”, ao sul. A terra ao norte é desértica, em parte devido à mudança climática, mas também por causa das atividades humanas. O vale em si também estava morrendo. A JEMED conseguiu reverter este processo e ajudar as pessoas a se adaptarem às variações nas chuvas, por exemplo, através da construção de diques. 

Resultados 

O sucesso dos locais de fixação foi colocado à prova durante a recente seca rigorosa, de 2003 a 2005. Os nômades tiveram de sobreviver não apenas por um ano de seca, mas dois. Durante o primeiro ano, pecuaristas de fora vieram para a área com os seus animais, e os pastos foram rapidamente usados. Os funcionários da JEMED observaram os sinais de perigo e aconselharam as pessoas a venderem os seus animais e guardarem apenas os melhores para a procriação. Isto era inédito para os nômades. Eles nunca haviam feito isto antes. Porém, muitas pessoas venderam os seus animais a tempo. Os homens levaram os animais restantes para outras áreas e conseguiram manter os seus animais vivos. Como resultado, as pessoas dos locais de fixação perderam um terço a menos dos seus animais durante a seca em comparação com outras pessoas nas áreas vizinhas. 

A JEMED ajudou com alimentos, fornecendo cereais e forragem. O primeiro ano da seca foi seguido de terríveis tempestades de areia, as quais soterraram as áreas de pastagem, e uma inundação repentina incomum, que afogou muitos animais pequenos e camelos que se encontravam nas áreas secas do vale. 

Durante o período da seca, as melhorias feitas permitiram que alguma relva crescesse nas áreas cercadas para alimentar alguns animais. Na maioria dos locais de fixação, a JEMED observou uma mudança nos últimos três anos. As mulheres e as crianças estão permanecendo nos locais cada vez mais, enquanto uma parte dos homens muda-se com os animais durante a estação das chuvas. 

Quando a crise terminou, a JEMED ajudou as pessoas a se reabastecerem, fornecendo 11.000 ovelhas e 700 vacas às famílias mais afetadas. Cada família selecionada recebe duas vacas e 24 ovelhas, seis das quais são sempre dadas às mulheres, para ajudá-las a criar o seu próprio rebanho. 

Muitas outras comunidades da região, agora, estão procurando adotar a estratégia dos locais de fixação. A JEMED espera que os governos e as ONGs vejam o valor desta abordagem e ajudem a replicá-la. 

Jeff Woodke é o Diretor de Projetos da JEMED (Jeunesse En Mission Entraide et Développement) 

JEMED
BP 10469
Niamey
Níger 

E-mail: [email protected]

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