O “saneamento total liderado pela comunidade” foi realizado pela primeira vez em Bangladesh, por Kamal Kar (um consultor de desenvolvimento da Índia) e pelo Centro de Recursos Educativos do Povoado, enquanto estavam avaliando um programa de saneamento subsidiado tradicional de uma ONG. Eles queriam convencer a ONG a parar de subsidiar a construção de banheiros, porque, no passado, o subsídio não havia levado a comunidade a se apropriar da idéia e a utilizar os banheiros. Ao invés de subsidiá-los, eles sugeriram que a ONG incentivasse as pessoas a ajudarem a si mesmas. Eles desenvolveram uma abordagem chamada Saneamento Total Liderado pela Comunidade (STLC), a qual se espalhou rapidamente por Bangladesh, entre as ONGs do país e as ONGs internacionais.
Fundamentalmente, a abordagem de STLC consiste em deixar de subsidiar a construção de banheiros para as famílias individuais e passar a mudar as atitudes e o comportamento da comunidade inteira, para pôr fim à defecação a céu aberto. Isto é realizado através da mobilização da comunidade. Como resultado, os membros da comunidade usam suas próprias iniciativas para construir latrinas. O STLC não decide os padrões ou os projetos das latrinas, mas incentiva a criatividade local. Isto faz com que a comunidade se aproprie da iniciativa, possa pagar por ela e, assim, a iniciativa torna-se sustentável. O quadro abaixo compara a abordagem de STLC com a abordagem tradicional para o saneamento.
Abordagem tradicional para o saneamento |
Saneamento Total Liderado pela Comunidade (STLC) |
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Começa com: | Coisas – por exemplo, latrinas | Pessoas |
Atividade principal: |
Construir latrinas | Inspirar as pessoas e ajudá-las a partir para a ação |
Latrinas projetadas por: | Engenheiros | Inovadores comunitários |
Número de projetos: | Um ou alguns | Muitos |
Materiais: | Cimento, tubos, tijolos | Muitas vezes, no início, bambu, sacos de juta, plástico, lata |
Custo: | Alto | Pode ser muito baixo |
Indicadores: | Latrinas construídas | Comunidades sem defecação a céu aberto |
Sustentabilidade: | Parcial e desigual | Muito alta até agora |
Motivação principal: | Subsídio | Amor próprio |
Cobertura / utilização: | Parcial | Total |
Quem se beneficia?: | Geralmente os mais ricos | Todos, inclusive os mais pobres |
Metodologia
O trabalho do facilitador não é convencer a comunidade a parar de defecar a céu aberto e começar a construir banheiros, e, sim, auxiliar a comunidade a analisar a situação do saneamento local. Isto geralmente desencadeia uma sensação de repugnância e constrangimento e motiva a comunidade a parar de defecar a céu aberto. É importante que o facilitador não faça sermões ou diga às pessoas o que fazer, mas, sim, que ele faça perguntas simples para chamar a atenção das pessoas para os problemas.
Durante todo o processo, os membros da comunidade são incentivados a usar os termos locais para descrever as fezes, ao invés de termos educados, para romper os tabus em relação ao saneamento. Estas são algumas das formas usadas para desencadear o STLC:
Caminhada transversal
Este processo geralmente começa com uma conversa informal com alguns membros da comunidade durante uma caminhada pelo povoado (uma “caminhada transversal”). Durante a caminhada, são mostradas as áreas de defecação a céu aberto, assim como os diferentes tipos de latrinas atualmente em uso. É importante parar nas áreas de defecação a céu aberto e passar algum tempo ali, fazendo perguntas. O fato de um visitante chamar a atenção da comunidade para a visão e o cheiro desagradável é um fator vital para iniciar a mobilização.
Uma vez que se cativou o interesse de alguns membros da comunidade, o processo continua com todos os outros membros.
Mapeamento das áreas de defecação