O preconceito entre diferentes grupos é o início do que pode se transformar em séria divisão, conflito e, muitas vezes, violência. Ambos os lados se sentem mal compreendidos e isolados um pelo outro. Ambos se sentem mais à vontade entre a “sua própria gente”. Este é um solo fértil para que pessoas com pontos de vista radicais espalhem boatos e criem medo.
Numa cidade no leste do Nepal, um grupo de líderes religiosos locais que representam as cinco diferentes religiões presentes na cidade decidiu que havia chegado a hora de agir. Eles não deixariam mais que as pessoas com pontos de vista radicais definissem o rumo das relações comunitárias. Os ataques e os contra-ataques já tinham ido longe demais.
Os líderes formaram um grupo inter-religioso para a paz. Este não era um grupo para promover o culto inter-religioso ou para fundir as diferentes religiões umas nas outras. Não, este grupo concordou em agir e trabalhar pela paz. Eles decidiram se concentrar nos danos causados à comunidade ao invés de nas pessoas más que estavam fazendo coisas más. Eles queriam construir uma comunidade pacífica, que mostrasse tolerância e respeito por todos aqueles que chamavam a cidade de lar.
Foram necessários vários meses para obter o envolvimento de todos os grupos religiosos porque as pessoas não conheciam ou confiavam nas pessoas de grupos diferentes. Apesar de viverem na mesma cidade, muitas vezes, estes líderes religiosos nunca haviam se encontrado realmente. Eles e sua gente viviam vidas paralelas, com pouco ou nenhum contato entre si. Dentro da sua cidade, eles estavam se distanciando.
Começando a aprender
Com apoio contínuo e a orientação dos funcionários da United Mission to Nepal, a confiança lentamente começou a aumentar. Os líderes aprenderam que todas as religiões possuíam ensinamentos significativos sobre a paz e o relacionamento com os outros e perceberam que estas verdades nunca haviam sido realmente ensinadas às pessoas. Eles aprenderam sobre as práticas e as festividades religiosas uns dos outros e tiveram oportunidades de fazer perguntas: perguntas com o objetivo de aprender e não perguntas com o objetivo de prejudicar as outras religiões.
Cada líder, por sua vez, precisava garantir a seus amigos e familiares no seu próprio grupo religioso que eles não estavam “diluindo” ou mudando sua religião. De tempos em tempos, cada um deles era convidado a trazer outras pessoas do seu grupo religioso para expandir a conversa e ampliar a influência do grupo. Eles receberam treinamento em habilidades de mediação e negociação. E o mais importante: foi dado tempo para desenvolver a segurança e a confiança do grupo.
Agindo juntos
Com o tempo, foram estabelecidas relações no grupo inter-religioso, e a confiança e o respeito foram restaurados. Havia chegado o momento certo para iniciar a ação pela paz. Os líderes religiosos trabalharam juntos em projetos organizando assembléias e desfiles para celebrar o dia internacional da paz e a assinatura do acordo de paz do Nepal. Eles produziram cartazes e folhetos inter-religiosos para serem usados em contextos escolares e comunitários. Eles usaram toda e qualquer oportunidade para serem vistos juntos e não tinham vergonha dos seus novos amigos. Por exemplo, cristãos visitaram escolas muçulmanas, e muçulmanos visitaram escolas hindus distribuindo e explicando o cartaz que haviam criado juntos.
Agora, o objetivo deles é manter e promover estas relações e permitir que elas se tornem parte da vida da comunidade. Não é iniciar um bom trabalho, mas dar continuidade a ele que traz bons resultados. Os líderes religiosos esperam que, com o passar do tempo, a violência diminua e as pessoas se sintam mais à vontade vivendo perto umas das outras, compreendendo e, ocasionalmente, até participando das festividades e dos feriados das outras. Está sendo estabelecida uma comunidade em que cada grupo religioso sente o respeito e o reconhecimento dos outros. O objetivo dos líderes é que os medos e a conversa negativa sobre grupos minoritários se tornem algo do passado.
O desafio
A maioria de nós preferiria não se envolver em grupos inter-religiosos. Damos desculpas e, às vezes, agimos e nos comportamos como se acreditássemos em todos os rumores e preconceitos. Contudo, em nosso coração, sabemos que não é assim que Deus quer que o nosso mundo seja. Quando nos comportamos com respeito e amor em relação ao próximo, ao que é de fora, o amor consegue ir além de nós mesmos e levar a cura e a esperança a pessoas presas num ciclo de medo e violência. Jesus realmente disse, “amem os seus inimigos” – e ele próprio o praticava.
Joe Campbell trabalha ativamente em relações comunitárias e na construção da paz há mais de 25 anos. Ele é da Irlanda do Norte e trabalhou com líderes e comunidades divididas na Irlanda do Norte, na Inglaterra, nos Bálcãs, no Oriente Médio, bem como, mais recentemente, no Nepal, com a United Mission to Nepal.