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Artigos

Combatendo a seca no Sahel

Disponível em Inglês, Francês, Português e Espanhol

As inundações no Paquistão, em 2010, afetaram 20 milhões de pessoas. Foto: Ashraf Mall/Tearfund

De: Gestão de desastres – Passo a Passo 88

Como se preparar para os desastres e reduzir o risco de que eles ocorreram

O povo de Abrik, uma pequena comunidade localizada nas savanas do centro-norte do Níger, na África Ocidental, esperou pacientemente pelas chuvas em 2008, mas se decepcionou. Em 2009, novamente, a comunidade esperou pacientemente pelas chuvas e novamente se decepcionou. Desta vez, a seca foi ainda mais abrangente e atingiu o país inteiro. O norte do Sahel é sempre seco, recebendo apenas entre 250 e 300 mm de chuva por ano. Contudo, o povo de Abrik e do resto do Departamento de Abalak, onde eles vivem, não têm tido chuva significativa alguma desde 2007! Como eles conseguiram sobreviver até as chuvas de 2010? Como estes pastoralistas seminômades mantiveram seus filhos e seus animais vivos durante o que viria a ser dois anos de seca?

Uma abordagem integrada 

A Jeunesse En Mission Entraide et Développement (JEMED), uma pequena ONG cristã, trabalha com os pastoralistas tuaregues e fulani no Departamento de Abalak desde 1990, ajudando a construir comunidades resistentes à seca. Atualmente, eles servem comunidades com um total de mais de 25.000 indivíduos, tanto muçulmanos quanto cristãos. A JEMED adota uma abordagem integrada para os problemas de desenvolvimento entre os pastoralistas. Ela combina elementos de adaptação à mudança climática, Redução do Risco de Desastres, gestão dos recursos naturais e desenvolvimento comunitário num só programa, agora chamado de “Desenvolvimento Resiliente”, um nome criado pela Tearfund. Em 2009, a JEMED recebeu o prêmio Sasakawa do Secretariado das Nações Unidas para a Estratégia Internacional para Redução de Desastres (sigla em inglês: UNISDR) pelo seu trabalho com a Redução do Risco de Desastres.

Secas frequentes 

A ideia de soluções à prova de seca ou do clima é essencial para a estratégia da JEMED. Esta ideia veio dos próprios pastoralistas, que disseram à JEMED, em 1990, que “tudo o que for feito deve levar em conta as secas, ou não será de interesse algum para nós”. O motivo disso é que as secas estão se tornando mais frequentes, provavelmente por causa da mudança climática. Entre 1973 e 2000, houve apenas duas secas grandes. Desde o ano 2000, houve três secas grandes em âmbito nacional e uma em âmbito local. As secas têm efeitos devastadores para as pessoas e o seu meio ambiente e forçaram os pastoralistas a se adaptarem. Práticas previamente inconcebíveis para um pastor, como a redução de estoque (venda de gado antes de uma seca), tornaram-se aceitas e generalizadas.

Pontos de fixação 

A solução proposta pelos pastoralistas em 1990 tornou-se o modelo para todo o trabalho da JEMED na área e foi amplamente adotada no Departamento de Abalak. Ela consiste no estabelecimento de um “ponto de fixação” no território de estação seca do grupo. Esta é uma adaptação de uma prática pré-existente de se manter um ponto de abastecimento de água durante a estação seca. O “ponto de fixação” começa com o desenvolvimento de uma fonte de água, a qual se torna o centro do território do grupo. Esta fonte geralmente é um poço cavado à mão de até 130 metros de profundidade. A água é retirada com a utilização de animais. O fato de que os pastoralistas visitam o ponto de fixação regularmente torna-o o local ideal para a criação de outras estruturas físicas e sociais como, por exemplo, centros de saúde, bancos de cereais e escolas. Os pastoralistas podem continuar vivendo o seu estilo de vida seminômade tradicional, indo ao ponto de fixação conforme necessário, ou construir uma moradia fixa no local, se desejarem.

Um local de oportunidade 

A mudança climática fez com que os pastoralistas mudassem o seu alimento básico do leite para os cereais, o que aumentou as suas necessidades hídricas e diminuiu a sua mobilidade. O ponto de fixação oferece uma fonte permanente de água. Um banco de cereais no local permite que os pastoralistas comprem cereais a preços mais baixos do que no mercado. Também há pequenas lojas cooperativas administradas por mulheres no local bem como bancos de animais que vendem forragem animal. Assim, as pessoas vendem menos animais para poderem comprar cereais e outros artigos essenciais. Elas também economizam dinheiro, pois não precisam viajar para chegar ao mercado, que pode ficar a 100 km de distância. A segurança alimentar aumenta, tornando a comunidade mais resiliente em épocas de seca.

Alguns homens e mulheres do grupo são treinados para prestar cuidados de saúde básicos no local, o que diminui ainda mais a necessidade de viajar. São estabelecidas escolas primárias com um refeitório escolar e algumas famílias anfitriãs que vivem no local. Assim, as crianças de famílias nômades podem permanecer no ponto de fixação e ser escolarizadas. Também há aulas de alfabetização adulta tanto para homens quanto para mulheres.

Gado 

Os recursos naturais ao redor do ponto de fixação podem ser protegidos e regenerados. Estas áreas protegidas servem como reservas para burros e animais leiteiros durante as secas ou as estações secas. A JEMED, então, trabalha com as comunidades para garantir o reconhecimento jurídico dos seus direitos de gestão da terra, uma parte importante da adaptação à mudança climática.

Através de pequenos empréstimos rotativos de dinheiro e animais dentro da comunidade, as pessoas têm a oportunidade de diversificar seus meios de vida. Isto permite que os pastoralistas usem as habilidades que já possuem com animais para obter um lucro e usá-lo para financiar outras atividades de geração de renda. Uma percentagem dos empréstimos é destinada às mulheres para garantir que um número maior de pessoas participe da geração de renda. Foram introduzidos métodos pastoris modernos, tais como vacinação, redução de estoque, cruzamento seletivo e uso de forragem suplementar. Estas ideias parecem simples, contudo, representam grandes mudanças para os pastoralistas. Foi importante que todas as atividades fossem integradas e que elas fossem repetidas na maioria dos locais com injeções sucessivas de capital que, com o tempo, fossem diminuindo. Embora este ciclo de projeto seja prolongado, ele permite que as comunidades desenvolvam sua resiliência e diversifiquem suas economias mesmo sob condições de seca.

Sinais de mudança 

O resultado é que, após a crise, Abrik perdeu apenas 47 por cento do seu gado devido à seca, em comparação com 70 por cento na maioria dos outros locais em que a JEMED não trabalha. Abrik solicitou apenas uma pequena quantia de ajuda de emergência em 2010, um ano de grave crise alimentar no Níger. A escola não fechou nenhum dia, e havia alimento, água e leite para as mulheres e as crianças. Sua economia estava tão diversificada que, embora a perda de animais tenha sido prejudicial para os pastoralistas, ela não os destruiu. Eles conseguiram sobreviver a dois anos de seca com pouca assistência externa e se reconstruírem sem ajuda alguma.

O povo de Abrik agora é resiliente e não precisa mais da JEMED. Ele se tornou um exemplo para os que desejarem copiá-lo. O processo levou muito tempo, mas valeu a pena. A JEMED está trabalhando para replicar esta experiência em outras comunidades na área. O Níger é um país em que o sucesso é difícil de alcançar. Contudo, com a graça de Deus, a JEMED continuará ajudando as comunidades a alcançar o potencial que Deus lhes deu.

Jeff Woodke trabalha com a Jeunesse En Mission Entraide et Développement (JEMED) no Níger, na África Ocidental. Para obter mais informações sobre este projeto, entre em contato com [email protected]

Desenvolvimento resiliente 

Resiliência é a capacidade de sobreviver, recuperar-se e adaptar-se a choques e estresse que poderiam afetar a comunidade. Estes podem ser desastres repentinos (por exemplo, terremotos e eventos meteorológicos extremos) ou mudanças que ocorrem mais lentamente (por exemplo, mudanças no clima, HIV, inflação nos preços, etc.). Uma comunidade que consegue aprender e se ajustar a estas condições variáveis é uma comunidade resiliente. É importante que todo o desenvolvimento seja resiliente.

 

Membros de uma tribo do Sahel agem para proteger suas terras construindo muros baixos. Foto: Jim Loring

Membros de uma tribo do Sahel agem para proteger suas terras construindo muros baixos. Foto: Jim Loring

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