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Entrevistas

Entrevista: Minha infância em um centro de acolhimento infantil

Leia a história comovente de Peter Kamau Muthui sobre o impacto que crescer em um centro de acolhimento residencial, no Quênia, teve em sua vida

2017 Disponível em Francês, Inglês, Português e Espanhol

Vista elevada de uma paisagem montanhosa no Quênia, com os telhados das casas visíveis à distância
Uma criança correndo pela vizinhança na província de Chiang Mai, na Tailândia, segurando uma maçã

De: Assistência a órfãos – Passo a Passo 101

Estudos de casos, atividades infantis e uma entrevista comovente sobre como é crescer num centro de acolhimento infantil

A mãe de Peter Kamau Muthui morreu quando ele tinha seis semanas de idade, e seu pai, um ano depois. Ele e seus cinco irmãos mais velhos cresceram em uma instituição de acolhimento residencial no Quênia. Aqui, ele conta sobre o impacto que isso teve em sua vida e como isso o levou a iniciar a organização Child in Family Focus (Foco na Criança em Família) – Quênia. 

Como foi para você crescer em um centro de acolhimento infantil?

Crescer em um centro de acolhimento infantil teve altos e baixos. Eu gostava de sair ocasionalmente para ver o mundo fora do centro e especialmente para ir à escola e à igreja. Tenho boas lembranças da minha primeira festa de aniversário, aos sete anos. Minha professora do jardim de infância, Mercy, fez um bolo grande para mim e levou para a escola. A próxima vez que celebrei meu aniversário foi quando fiz 20 anos. 

Eu era uma das 30 crianças sob os cuidados de duas mães do centro, que trabalhavam em turnos. Assim, era difícil obter a atenção, amor, cuidado e orientação de que eu precisava para uma infância saudável e feliz. Nunca nos faltaram coisas materiais. A maior falta era de amor e afeição.

Eu me acostumei com as rotinas e percebi as duras consequências, se não as cumprisse. Ajuda com a lição de casa era um problema. Era difícil conseguir mesmo que fossem três minutos do tempo da mãe da casa para uma pergunta de aritmética difícil.

Ver outras crianças, inclusive meus amigos, serem acolhidas em famílias e adotadas fazia com que eu me perguntasse quando seria minha vez. Cada vez que havia visitantes no centro, eu me comportava da melhor forma possível. Eu queria aumentar minhas chances de ser amado e levado para fazer parte de uma família. 

No início, quatro de meus irmãos estavam em instituições diferentes da minha e da minha irmã mais nova. Finalmente fomos transferidos para o mesmo centro de acolhimento infantil. Eu ansiava por ver meus irmãos mais velhos, mas isso só era possível em eventos especiais e, às vezes, durante as refeições. 

Eu ainda sinto o efeito dessa interação limitada com meus irmãos mais velhos. Não há um vínculo estreito entre nós. O suicídio do meu irmão mais velho, em 2007, foi um grande golpe para a família. Isso mostra que muitos jovens que deixam as instituições realmente acabam deprimidos e suicidas. 

Apesar dos desafios da minha criação, devo ao centro de acolhimento infantil quem eu sou hoje. Acredito firmemente que Deus me permitiu passar por essa experiência por uma razão. Ela me preparou para que me tornasse um defensor da mudança.

Peter Kamau Muthui é o fundador da Child in Family Focus – Quênia.

Peter Kamau Muthui é o fundador da Child in Family Focus – Quênia.

Você se sentia bem preparado para o mundo exterior quando deixou o centro de acolhimento infantil?

Não, eu estava mal preparado para a vida fora do centro. Como aconteceu a muitos outros que haviam saído antes de mim, deixaram-me sozinho para lidar com a situação.

Eu havia passado anos seguindo uma rotina estruturada, onde eu tinha pouca ou nenhuma escolha, e assim tive dificuldade em ter uma vida independente. Formar relacionamentos, cozinhar e administrar minhas finanças foram difíceis para mim.

Devido à falta de interação positiva com adultos no centro de acolhimento infantil, eu não tinha autoconfiança e habilidades sociais essenciais, inclusive as habilidades necessárias para iniciar uma família.

Apesar disso, acho que tive um “pouso suave”. Logo depois de concluir meus estudos, pediram-me para trabalhar no centro de acolhimento infantil. No começo, eu era auxiliar de professor. Depois, tornei‑me auxiliar de assistente social, enquanto concluía meu bacharelado. Mais tarde, trabalhei como Gestor de Programas Sociais por nove anos.

Que percepções você adquiriu trabalhando como Gestor de Programas Sociais no centro?

Primeiro, aprendi que ficar órfão não era a principal razão pela qual as crianças eram colocadas em centros de acolhimento. A maioria das crianças do centro tinha um ou ambos os pais vivos, bem como muitos parentes capazes. A pobreza era a principal razão para colocá-las em instituições. As pessoas erroneamente pensavam que o acolhimento residencial podia oferecer mais às crianças do que os parentes.

Em segundo lugar, aprendi que até mesmo o acolhimento institucional de alta qualidade não pode substituir as famílias! As famílias proporcionam às crianças amor e um senso de pertencimento. Elas ensinam habilidades sociais e ajudam as crianças a se conectarem com a comunidade em geral. Depois de certa idade, as crianças deixam a instituição de acolhimento, mas isso não ocorre com as famílias.

A maioria das crianças que deixavam a instituição de acolhimento tinham dificuldade para serem aceitas de volta na comunidade. Elas tinham uma grande probabilidade de acabarem envolvidas em atividades criminosas, exploração sexual, abuso de drogas e casamentos precoces.

Aprendi que as opções de acolhimento familiar tinham grandes benefícios para as crianças. Assim, começamos uma agência de adoção e um programa de assistência que apoiava crianças dentro de suas próprias famílias. Isso ajudou a fortalecer as famílias e evitar a separação. Estes programas continuam a ter um impacto positivo na vida das crianças no Quênia.

Peter (indicado com uma seta) com algumas das outras crianças no centro de acolhimento infantil.

Peter (indicado com uma seta) com algumas das outras crianças no centro de acolhimento infantil.

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