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Artigos

Superação do trauma

Trabalhar o trauma no Zimbábue e no Líbano

Escrito por Stanley Hanya 2021 Disponível em Inglês, Francês, Espanhol e Português

Chinguema, em Moçambique, mostrando o nível alcançado pela enchente durante o ciclone Idai em um medidor do nível de água

Chinguema, em Moçambique, mostra o nível atingido pela enchente durante o Ciclone Idai. O ciclone teve um impacto devastador em Moçambique, no Malaui e no Zimbábue. Foto: David Mutua/Tearfund

Um homem chamado Festus, vestindo um avental vermelho, sorrindo e segurando um recipiente de plástico com o sabão líquido que ele vende em seu negócio

De: Saúde mental e bem-estar – Passo a Passo 113

Ideias práticas para ajudar a construir resiliência e melhorar o bem-estar

“Quando vejo nuvens se formando ou ouço o som de caminhões pesados, fico enjoado, pois isso me lembra do que vi e ouvi durante o ciclone Idai”, disse um membro da comunidade Chipinge, no Zimbábue.

Quando o ciclone Idai atingiu Chipinge, em março de 2019, o tamanho do desastre foi avassalador. Centenas de pessoas perderam familiares, amigos e vizinhos, bem como suas casas e pertences. A comunidade ficou abalada e traumatizada com o que vivenciou. As pessoas passaram a ter pesadelos e problemas para dormir e não conseguiam andar no escuro, pois isso as lembrava da noite em que o ciclone havia atingido sua comunidade. Qualquer chuva fazia com que o trauma retornasse. 

Apoio local

Ao realizar um levantamento das necessidades em Chipinge, ficou claro para uma equipe da Evangelical Fellowship of Zimbabwe que havia uma necessidade urgente de apoio psicológico. Como resultado, 60 facilitadores da comunidade e de igrejas locais foram treinados pela Africa University em Primeiros Socorros em Saúde Mental.

O objetivo era formar uma equipe de moradores locais capaz de prestar apoio à saúde mental para a comunidade, tanto imediatamente como no longo prazo. O grupo foi treinado em tópicos como trauma, empoderamento de sobreviventes e cura de memórias.

Os facilitadores agora prestam apoio aos membros da comunidade tanto individualmente quanto em pequenos grupos. Eles encaminham as pessoas para organizações como a Childline (uma organização que oferece uma linha telefônica de assistência a crianças e jovens) e o Departamento de Bem-Estar Social quando a pessoa precisa de um apoio mais especializado por parte de assistentes sociais e conselheiros.

Um dos facilitadores, o Sr. Sithole, conta que a jornada que eles estão fazendo com as pessoas ajudou-os a entender que lidar com o trauma é um processo, e não um evento: “É necessário construir relacionamentos com as pessoas para que elas possam lhe contar pelo que passaram e como essa experiência afetou a vida delas”.

O treinamento também ajudou os facilitadores a superar alguns de seus próprios traumas. O Sr. Nduna, um líder de igreja, conta: “Antes, eu não sabia que estava traumatizado e sofrendo, mas, durante o treinamento, consegui obter ajuda e, agora, posso auxiliar minha família e outras pessoas”.

Ajuda mútua

O Sr. Sithole e o Sr. Nduna estão conduzindo sessões de grupo mensais, com um máximo de seis pessoas em cada grupo. 

Um dos membros do grupo disse: “Quando conversávamos individualmente com os facilitadores, via que estava progredindo, mas eu ainda sentia que estava em meu próprio mundo. Porém, quando começamos as sessões em grupo, percebi que havia outras pessoas que também estavam enfrentando o mesmo trauma, e, juntos, passamos a nos ajudar mutuamente”. Outro membro acrescentou: “A cura leva tempo, mas sentimos que o fardo agora não é tão pesado quanto antes”. 


Trauma

Trauma é uma resposta emocional a um evento profundamente angustiante ou perturbador. As reações iniciais de choque e negação podem ser substituídas por emoções imprevisíveis, sentimentos de desesperança, tristeza, desespero, culpa e sintomas físicos, como náusea e dores de cabeça.

Algumas pessoas podem desenvolver transtorno de estresse pós-traumático e sofrer pesadelos persistentes e assustadores e outras lembranças de suas aflições.

O trauma vicário (ou estresse traumático secundário) ocorre quando uma pessoa que presta apoio a sobreviventes de eventos traumáticos começa, ela própria, a sofrer sintomas de trauma.


Primeiros socorros em saúde mental

O programa de Primeiros Socorros em Saúde Mental foi desenvolvido na Austrália em 2000 e, desde então, foi adotado por muitos outros países. Seu objetivo é aumentar a compreensão das comunidades sobre saúde mental e os diferentes fatores que podem afetar o bem-estar. As pessoas treinadas aprendem a perceber os sinais de problemas de saúde mental e adquirir confiança para tranquilizar e prestar apoio às pessoas angustiadas.

Muitos cursos de primeiros socorros em saúde mental ensinam as seguintes etapas aos participantes:

  • Avalie o risco de suicídio ou automutilação: Se estiver preocupado com alguém, escolha um bom horário e local para conversar com a pessoa sobre isso. Se você notar sinais de automutilação ou angústia extrema, a pessoa pode estar passando por uma situação de crise e precisar de ajuda profissional imediata. Caso contrário, passe para a próxima etapa.
  • Ouça sem julgar: Uma pessoa com um problema de saúde mental precisa falar sem se sentir julgada. Não se preocupe se não souber o que dizer. A coisa mais importante que você pode fazer é ouvir atentamente com paciência e compaixão.
  • Dê apoio e informações: Apoie a pessoa de todas as maneiras que puder – de maneira prática, emocional e espiritual. Isso pode incluir fornecer refeições nutritivas, orar ou encontrar-se com a pessoa regularmente para conversar. Forneça-lhe informações confiáveis para ajudá-la a entender o que ela está vivenciando. Pode ser reconfortante para a pessoa saber que não é a única que se sente assim. 
  • Incentive a autoajuda e outras estratégias de apoio: Incentive a pessoa a pedir ajuda à família, aos amigos e aos líderes espirituais. Outras estratégias de autoajuda incluem fazer exercícios regularmente, dormir o suficiente e começar um novo hobby, como, por exemplo, desenhar ou cultivar legumes. Incentive a pessoa a não fazer uso indevido de álcool ou outras drogas, pois podem piorar o problema.
  • Incentive a pessoa a procurar assistência profissional adequada: Os problemas de saúde mental muitas vezes podem ser tratados de forma eficaz com uma combinação de terapias médicas e psicológicas. Sempre que possível, incentive a pessoa a falar com um médico ou agente de saúde comunitária sobre o que está vivenciando e o impacto que isso está tendo.

Estudo de caso: Fortalecimento do corpo e da mente

O telhado na Jordânia está frio e úmido da chuva, mas, após uma breve conversa, todos os homens começam a correr em círculo, começando os exercícios de aquecimento.

Durante os próximos 45 minutos, os 12 homens no telhado correrão, pularão, moverão os braços para cima e para baixo e farão flexões, agachamentos e outros exercícios.

Membros da comunidade do sexo masculino, jovens e mais velhos, reunidos em círculos, alguns abraçados, dançando e se movimentando como parte de uma terapia e recuperação de trauma

Exercícios e comunidade: duas boas maneiras de construir resiliência e começar a superar traumas. Foto: Stella Chetham/Tearfund

Histórias dolorosas

Todos os homens deste grupo de ginástica são refugiados da Síria. Eles têm histórias dolorosas para contar: de guerra, fuga e perda de entes queridos, moradias e negócios. Quando chegaram à Jordânia, a perda de sua comunidade e a incapacidade de trabalhar e sustentar suas famílias foram extremamente difíceis para muitos deles.

“Simplesmente passávamos os dias sentados em casa, causando problemas e incomodando a família”, disse um participante. “Mas, agora, saímos para participar de atividades. E quando nos encontramos e nos visitamos, nós conversamos. Somos como amigos e irmãos agora.”

Em melhor forma e mais saudáveis

Depois que os exercícios terminam, todos os homens concordam que estão se sentindo mais saudáveis e em melhor forma por causa do programa. O programa também está ajudando sua saúde mental. “Sinto mais paz e estou mais calmo agora”, disse um participante. “Acalmou meus nervos... Aprendi a controlar melhor minha raiva, assim, não magoo outras pessoas.”

Um de seus amigos acrescentou: “A vida de refugiado é difícil. Antes do programa, às vezes eu ficava em casa muito deprimido. Agora eu tenho aonde ir. Tenho uma rotina regular para os meus dias, e meu humor melhorou”.

Os homens também destacaram o valor positivo das conversas no início de cada encontro. “Aprendemos como tratar bem os filhos, as filhas e as esposas, como agir de maneira correta, dando-lhes mais amor e força”, disse um deles. Outro contou que, agora, não bate mais na esposa quando está zangado. “Também me sinto mais capaz de tratar bem os vizinhos e os moradores da comunidade”, disse ele.

Escrito por

Escrito por  Stanley Hanya

Stanley Hanya é o coordenador de Mobilização de Igrejas e Comunidades da Evangelical Fellowship of Zimbabwe.

e-mail: [email protected]
www.efzimbabwe.org

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