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As mulheres e a água

Tanto as mulheres quanto os homens devem participar da tomada de decisões sobre os serviços locais de água

Escrito por Gebre Belete 2023

Uma jovem estudante usando um véu rosa cobrindo a cabeça, sorrindo sob o umbral de uma porta na Etiópia

Hindiya é estudante na Etiópia. Foto: Frehiwot Gebrewold/WaterAid

Uma mulher brasileira sorrindo e pegando água de uma torneira fixada a uma parede de tijolos vermelhos

De: Água potável segura - Passo a Passo 120

Como valorizar, cuidar e garantir a segurança da água potável

“Fico bem durante a estação chuvosa, pois posso sair e buscar água. Mas, na longa estação seca, fico cansada quando vou pegar água. Também me sinto doente. É muito trabalho. Às vezes, fico completamente sem água.” Moradora de Konso, na Etiópia.

Nas zonas rurais da Etiópia, assim como em muitas partes do mundo, frequentemente é responsabilidade das mulheres e meninas obter água para suas famílias. No entanto, a mudança climática está resultando em chuvas mais imprevisíveis, e muitas mulheres estão tendo cada vez mais dificuldade para obter água potável.

Por exemplo:

  • Devido aos períodos secos mais longos, as mulheres geralmente precisam caminhar mais e passar mais tempo fazendo fila nos pontos de água. Além de ser cansativo, isso pode aumentar o risco de violência sexual e de gênero, principalmente se elas buscarem água quando já estiver escuro.
  • Passar mais tempo buscando água pode afetar a produção de alimentos das famílias, a capacidade de cuidar dos filhos e outros trabalhos que as mulheres fazem (com ou sem remuneração).
  • Também pode reduzir a quantidade de tempo disponível para descansar e dormir, levando à exaustão e a outros problemas de saúde, principalmente durante a gravidez e quando elas estão amamentando.
  • À medida que o clima muda e as fontes de água se tornam menos confiáveis, as meninas podem cada vez mais ter que faltar às aulas ou deixar de estudar para ajudar as mães a buscar água, o que contribui para perpetuar os ciclos de desigualdade de gênero e pobreza.
  • As inundações mais frequentes ou severas aumentam o risco de contaminação do abastecimento de água e tornam perigoso para as pessoas buscarem água.
Uma mulher, com vestido estampado azul, cavando uma vala no solo com uma ferramenta de madeira para uma tubulação de água numa zona rural da Etiópia

Tiru Getahun, que cobra as taxas para o comitê de água do seu povoado na Etiópia, cavando uma vala para estender uma tubulação de água até sua casa. Foto: Frehiwot Gebrewold/WaterAid

Tomada de decisões

Embora esses problemas costumem afetar mais as mulheres do que os homens, as mulheres muitas vezes não participam das discussões sobre os serviços de água comunitários. No entanto, quando elas têm a oportunidade de compartilhar suas preocupações e tomar suas próprias decisões, elas podem fazer escolhas que as ajudam a lidar com as demandas que enfrentam todos os dias.

É essencial que os representantes dos governos locais, as organizações não-governamentais e os grupos comunitários tomem medidas para garantir a participação significativa das mulheres nas decisões tomadas sobre a água.

Por exemplo, eles podem:

  • realizar reuniões e discussões em horários e locais que sejam bons tanto para as mulheres quanto para os homens e disponibilizar alguém para cuidar das crianças, se necessário;
  • estruturar as reuniões para que as mulheres e os homens tenham a oportunidade de conversar em grupos separados, além de juntos – isso pode facilitar para as mulheres expressarem suas opiniões;
  • ajudar as mulheres a registrar suas experiências ao buscarem água, por exemplo, através de desenhos, fotos ou vídeos, os quais podem, então, ser compartilhados com toda a comunidade, ajudando a influenciar os processos de tomada de decisão.

Empregos

As mulheres devem ser totalmente envolvidas na implementação das decisões tomadas, inclusive tendo acesso a oportunidades de emprego ligadas aos serviços de água comunitários.

Tiru Getahun, uma jovem de Burie Zuria, na Etiópia, faz parte do comitê de água do seu povoado. Ela diz: “Eu administro três pontos de água no meu povoado. Cobro a taxa das pessoas quando elas pegam água nos pontos de água. Sou remunerada por esse trabalho e ganho 500 birr etíopes (o equivalente a US$ 9) por mês. Além disso, informo a direção do comitê de água quando há problemas com as torneiras”.

 
Uma mulher vestindo roupas tradicionais, verificando o equipamento de uma estação de tratamento de água em Bangladesh

Gita Roy verificando equipamentos na estação de tratamento de água que ela ajuda a administrar. Foto: Farzana Hossen/Drik/WaterAid

Estudo de caso: Liderança de mudanças

Em 2001, quando Gita Roy tinha 17 anos, ela se casou e se mudou para o povoado do marido, na costa sudoeste de Bangladesh.

As tarefas diárias de Gita incluíam buscar água para ela e seus 14 familiares. Como resultado direto da mudança climática, não havia fonte de água segura no povoado, assim, essa era uma tarefa demorada e exaustiva.

Em 2019, Gita soube de uma iniciativa desenvolvida pela WaterAid e pela organização local Rupantar em consulta com as comunidades locais. Reconhecendo que as mulheres da zona rural de Bangladesh não costumam ser envolvidas na tomada de decisões, a iniciativa responde a grupos de mulheres que desejam assumir a liderança para melhorar o acesso a serviços de água resilientes ao clima.

Muito feliz participar dessa iniciativa, Gita formou um grupo com mais dez mulheres e elas começaram a reivindicar o acordo comunitário necessário para criar uma estação de tratamento de água que transformasse água salgada em água potável. Algumas pessoas da comunidade achavam que as mulheres não deveriam ser líderes empresariais, mas o grupo estava determinado e foi de porta em porta explicando os benefícios do projeto.

No final, a comunidade concordou com o projeto, inclusive que a estação de tratamento de água fosse operada exclusivamente por mulheres. A estação foi inaugurada em 2020 e muitos moradores da região compareceram à cerimônia. “Mal consigo encontrar palavras para descrever o que senti naquele momento… Uma multidão de pessoas veio à nossa estação ao longo do dia para buscar água e pude ver o resultado de todo o nosso trabalho árduo”, conta Gita. Hoje, a estação atende a nove povoados e está se tornando cada vez mais rentável e eficiente.

Bem conhecida por seu trabalho árduo e determinação, Gita venceu a eleição como líder do conselho local em 2022. “Ter minha própria identidade, ganhar meu próprio dinheiro e não depender de ninguém para as minhas necessidades me dá muita satisfação”, diz ela.

Você pode saber mais sobre a história de Gita acessando o site gca.org e pesquisando “Stories of resilience” (Histórias de resiliência).

 

Por Kathryn Pharr

Kathryn Pharr é assessora sênior de políticas para a ação climática internacional na WaterAid.

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