Professor Titular Sir Ghillean Prance.
O termo biodiversidade é utilizado para descrever a enorme variedade de vida neste planeta. Um número surpreendente de 1,8 milhões de espécies diferentes foram identificadas e classificadas pelos cientistas. Contudo, ainda não sabemos realmente quantas existem no mundo.
Sabemos que há aproximadamente 8.600 espécies de pássaros, 4.000 espécies de mamíferos e 32.000 espécies de plantas que florescem, pois estes organismos são relativamente bem estudados. Entretanto, ainda há incerteza quanto a outros organismos, tais como os insetos (em que as estimativas variam entre oitenta e cem milhões), os fungos (dos quais foram identificados 70.000, mas acredita-se que existam 1,6 milhões) e organismos pouco estudados, tais como as bactérias, os nematódeos e os acarinos. Há, pelo menos, oito milhões de espécies no mundo, e, provavelmente, muito mais. Assim, os cientistas que identificam, nomeiam e classificam os organismos ainda têm muito trabalho a fazer. Um dos maiores desafios para o novo milênio é aumentar o nosso conhecimento dos organismos com os quais compartilhamos este planeta.
Há três aspectos da biodiversidade:
- a variedade de hábitats (meios ambientes) em que os organismos vivos vivem
- o número de espécies
- a variação dentro de cada espécie.
Por que preservar a biodiversidade?
Esta diversidade mantém a vida na Terra. As plantas verdes no solo e as plantas microscópicas nos oceanos produzem o oxigênio que respiramos. A mudança climática do globo terrestre seria muito pior, se não fosse pelo papel das florestas e dos oceanos na absorção de grande parte do dióxido de carbono que colocamos na atmosfera. As florestas de mangues mantém o litoral tropical. Cada espécie individual depende de outras para a sua existência, e os vínculos entre as diferentes espécies mantém a vida. Se uma espécie for eliminada, as outras que dependem dela também morrerão ou serão seriamente afetadas.
Algumas espécies são particularmente importantes, porque, sem elas, o seu ecossistema inteiro desmoronar-se-ía. Por exemplo, as árvores das florestas e o plâncton do oceano, que controlam o nosso clima, são pouco valorizados pelas pessoas, mas o seu papel no controle do meio ambiente é o aspecto individual mais importante da biodiversidade.
A segunda razão para proteger-se a biodiversidade é porque os seres humanos dependem dela. Dependemos da biodiversidade para o nosso alimento, os nossos medicamentos, o nosso abrigo, para muitos produtos industrializados, tais como a madeira e a borracha, os cosméticos e muitos outros. À medida que perdemos espécies, estamos, também, perdendo novos possíveis medicamentos e alimentos, que podem ser necessários para dar continuidade à vida humana na Terra. Por exemplo, mais de metade dos nossos medicamentos provém originalmente de plantas, e outros ainda estão sendo descobertos. Um exemplo recente é o remédio anti-câncer/anti-cancro, taxol, proveniente do teixo, uma árvore do Pacífico.
A terceira razão para preservar-se a biodiversidade é ética. É correto que as pessoas destruam tanto a criação de Deus? A história de Noé, na Bíblia, mostra o quanto Deus se importa com todas as criaturas vivas.
Em quarto lugar, devemos preservar a biodiversidade puramente pela beleza e pelo prazer. Este seria um mundo sem graça, se não houvesse flores e pássaros que cantam à nossa volta, baleias no mar ou os magníficos animais nas planícies da África.
Usando a biodiversidade
A agricultura ocidental moderna está baseada principalmente no cultivo de vastas áreas de uma única espécie, tais como de trigo, arroz ou milho (monocultura). A agricultura tradicional depende da diversidade e está mais protegida das pragas e das doenças, por causa dela. Até mesmo a agricultura moderna depende da diversidade genética das espécies selvagens que possuem um parentesco com as espécies para o cultivo. Ocasionalmente, os cultivadores de plantas usam características destes parentes selvagens para melhorar as plantas para o cultivo. Há apenas 20 anos, um parente desconhecido do milho (chamado Zea diploperennis) foi encontrado no México. Esta nova espécie estava quase extinta, mas representou uma descoberta importante para o futuro do milho, porque é resistente a algumas das doenças comuns, além de ser perene. Espécies como esta são vitais para o futuro das nossas plantas para o cultivo. Se essa espécie não tivesse sido descoberta, ter-seia tornado extinta, e as suas características úteis teriam sido perdidas para sempre.
Os cultivadores de plantas e os agricultores costumam criar, nas plantas para o cultivo, características úteis provenientes de espécies selvagens, através da seleção das variedades com as características que desejam. Entretanto, agora, é possível transferir genes entre organismos que não pertencem à mesma família através do processo da engenharia genética. Esta é uma técnica que possui um grande potencial para ajudar a resolver o problema da fome no mundo, porém, está sendo mal-utilizada por algumas empresas comerciais. Ao invés de concentrar-se em métodos para alimentar as pessoas com fome, a engenharia genética está sendo usada para gerar grandes lucros para essas empresas. Estão sendo colocadas características como a resistência aos herbicidas nas plantas para o cultivo. Durante algum tempo, uma empresa tencionou produzir plantas para o cultivo que não produziriam novas sementes, assim, os agricultores teriam que comprar novas sementes todos os anos. Felizmente, houve tanto protesto contra esta ‘tecnologia exterminadora’, que a empresa desistiu da idéia por enquanto.
Ao invés de usar a engenharia genética para gerar lucros excessivos, ela deve ser usada para produzir plantas para o cultivo mais nutritivas e produtivas. Um exemplo disso é a produção de arroz com um alto teor de vitamina A. A deficiência da vitamina A causa a cegueira e outros problemas. A empresa que está produzindo este arroz liberou os seus direitos à patente, de maneira que o arroz rico em vitamina A possa ser produzido sem restrições.
As pessoas precisam ser informadas e envolvidas nessas questões. O poder das pessoas é importante! A Índia contestou uma patente americana das propriedades inseticidas do nim, uma árvore que eles usam há centenas de anos. O Peru contestou a patente da sua conhecida planta alucinógena ayahuasca. Ambas as patentes, agora, foram recusadas.
Não devemos condenar uma técnica que tem tanto a oferecer ao mundo. Ao invés disto, devemos assegurar-nos de que a engenharia genética seja utilizada para ajudar a alimentar o mundo.
O Professor Titular Sir Ghillean Prance FRS é o Diretor Científico do Project Eden, na Cornualha, e Professor Titular Visitante na School of Plant Sciences da University of Reading. Ele foi o Diretor do Royal Botanic Gardens, em Kew, de 1988 a 1999.
Seu endereço é: The Old Vicarage, Silver St, Lyme Regis, Dorset, DT7 3HS, Inglaterra. E-mail: [email protected]