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Planejando a sustentabilidade

Karim Sahyoun. O objetivo do desenvolvimento é fazer mudanças positivas e sustentáveis. O desenvolvimento não deve ser visto como algo novo para a comunidade, trazida por organizações externas. Ao invés disso, ele é um processo contínuo, que pode resultar em melhorias no bem-estar físico, emocional e espiritual e oferecer às pessoas o incentivo e a confiança para realizar o seu potencial.

2005 Disponível em Inglês, Francês, Espanhol e Português

Revistas Passo a Passo em francês, espanhol, português e inglês, espalhadas sobre uma mesa de madeira

De: Planejando a sustentabilidade – Passo a Passo 64

Como empoderar as pessoas e planejar a longo prazo

Karim Sahyoun.

O objetivo do desenvolvimento é fazer mudanças positivas e sustentáveis. O desenvolvimento não deve ser visto como algo novo para a comunidade, trazida por organizações externas. Ao invés disso, ele é um processo contínuo, que pode resultar em melhorias no bem-estar físico, emocional e espiritual e oferecer às pessoas o incentivo e a confiança para realizar o seu potencial.

As comunidades e o seu ambiente mudam continuamente através de:

  • tendências de longo-prazo, tais como uma população em crescimento ou a diminuição da fertilidade do solo
  • choques, tais como desastres naturais, mudanças econômicas e conflito
  • produção agrícola sazonal, preços e oportunidades de emprego.

Sem uma adaptação constante à mudança, as comunidades não sobreviveriam. Deus criou-nos à Sua imagem, permitindo que os indivíduos e as comunidades fossem criativos e adaptáveis.

O que é a sustentabilidade?

Há formas diferentes de se compreender a sustentabilidade. Ela pode significar a capacidade de uma comunidade para continuar a usar e manter uma nova idéia, tal como um sistema de crédito, o suprimento de água, um serviço de saúde, um engenho de cereais ou uma variedade de milho aperfeiçoada. O foco está em manter algo. Uma outra forma de compreender a sustentabilidade é quando uma comunidade tem uma capacidade maior de lidar com a mudança. Por exemplo, a comunidade pode cultivar uma variedade de milho aperfeiçoada, mas, se a fertilidade do solo diminuir ou se chover menos, a comunidade é capaz de adaptar a sua forma de cultivo ou encontrar uma outra variedade mais adequada. O foco está no potencial da comunidade para mudar.

Ajuda externa

Muitas comunidades querem fortalecer ou apressar o seu desenvolvimento. A ajuda externa não é essencial. Os membros da comunidade podem se encontrar e conversar sobre os seus sonhos para a comunidade. Eles podem conversar sobre as habilidades e os recursos que possuem disponíveis e decidir que medidas são necessárias. Os planos de desenvolvimento baseados nos próprios recursos e capacidades serão mais sustentáveis. Se houver ajuda externa disponível, eles podem usá-la para alcançar os seus planos em menos tempo.

A ajuda de fora geralmente só está disponível por um período limitado de tempo. Às vezes, ela pode prejudicar o processo de desenvolvimento da comunidade, por torná-la dependente. Para que a mudança seja sustentável, a comunidade deve ter a capacidade de assumir o trabalho das fontes de ajuda externas.

Atitudes de dependência

A figura abaixo mostra o que pode acontecer na relação entre o ajudante (por exemplo, uma ONG) e o beneficiário (por exemplo, uma comunidade). Ambos possuem pontos fortes e pontos fracos. Um ajudante externo talvez só veja os pontos fracos do beneficiário e ache que pode usar os seus pontos fortes para ajudar. O beneficiário mostra os seus pontos fracos e talvez esconda os seus pontos fortes para obter mais ajuda. Os ajudantes talvez achem que as comunidades precisam deles, assumindo, assim, o trabalho que os membros comunitários poderiam fazer eles próprios. Embora as comunidades freqüentemente tenham a capacidade e os recursos para fazer uma mudança sustentável elas mesmas, elas talvez comecem a achar que precisam da ajuda externa ou que o trabalho de desenvolvimento deve ser feito para elas. Este comportamento chama-se dependência.

O planejamento da mudança deve sempre evitar a dependência. Podem-se usar ferramentas participativas, tais como a análise FFOA (veja a Passo a Passo 42: DOFA), para identificar os pontos fortes locais. Conversar sobre o êxito comunitário anterior pode ser um ponto de partida útil para determinar a capacidade e os recursos locais. Isto ajuda as pessoas a se sentirem confiantes de que elas próprias podem fazer mudanças.

As ONGs que trabalham com comunidades devem discutir a questão da dependência desde o início, para que todos concordem que esta não é a melhor forma de relacionamento. A dramatização de papéis adaptada “A travessia do rio” pode oferecer uma boa maneira de começar esta discussão.

Transferência de responsabilidades

Quando as pessoas de fora se envolvem no processo de desenvolvimento de uma comunidade, elas freqüentemente assumem certas responsabilidades. Entre elas, podem estar a organização de treinamento, a provisão de verbas, sementes e transporte, contabilidade e trabalho em rede com outras organizações. Mas até quando haverá ajuda externa? Isto geralmente depende da disponibilidade de verbas e das políticas organizacionais. Freqüentemente, somente quando as pessoas de fora vão embora é que as funções vitais que elas desempenham são percebidas. Deve-se fazer um planejamento cuidadoso para assegurar que estas responsabilidades sejam assumidas por alguém da comunidade antes de o ajudante externo ir embora. Esta transferência de responsabilidades deve ser considerada e estabelecida de comum acordo desde o início. Os membros da comunidade são os que melhor conhecem a sua própria comunidade e os seus recursos. Eles devem entrar em acordo quanto a quem será responsável por assumir este trabalho no futuro. Eles devem considerar:

  • que responsabilidades precisam ser transferidas
  • quem assumirá cada responsabilidade e quando
  • como a transferência será feita
  • que necessidades de capacidade precisam ser desenvolvidas.

Uma ferramenta útil é a a tabela de Transferência de Responsabilidades:


Este exemplo de tabela de Transferência de Responsabilidades mostra duas áreas de responsabilidades que serão transferidas: o relatório anual e o orçamento. As cruzes mostram que a ONG faz todo o trabalho em 2005, mas transferindo a responsabilidade gradualmente ao longo dos anos seguintes. Devem-se fazer tabelas semelhantes para todas as responsabilidades atualmente geridas pelas pessoas de fora, que talvez incluam a organização de treinamento, a captação de recursos, a provisão de transporte e o trabalho em rede. Podem-se acrescentar colunas para outros anos. A tabela também pode ser usada para ajudar com o monitoramento e a avaliação.

Desenvolvimento de capacidades

O desenvolvimento de capacidades realista é um processo de longo prazo, que deve começar já desde o início de qualquer projeto de desenvolvimento. É útil compreender a diferença entre capacidade e habilidade:

  • As habilidades são adquiridas pelos indivíduos
  • A capacidade é desenvolvida nos grupos ou nas comunidades.

Quando um membro da comunidade individual é a única pessoa capaz de facilitar encontros, esta é uma habilidade, a qual será perdida se este indivíduo for embora. Porém, quando vários membros diferentes possuem esta habilidade, a comunidade, então, possui uma capacidade. Os encontros ainda podem ser facilitados, mesmo se um ou dois membros habilitados forem embora.

As pessoas com habilidades devem ser treinadas como treinadores, para que possam passar as suas habilidades para outras. Isto desenvolve a capacidade da comunidade ou mesmo das comunidades vizinhas. Por exemplo, na Tanzânia, uma comunidade que recebeu treinamento na utilização de curvas de nível para diminuir a erosão do solo (veja a Passo a Passo 15), foi convidada por uma comunidade vizinha a ensiná-la esta nova habilidade.

Os vínculos com outras comunidades, instituições ou organizações que podem oferecer ajuda com o treinamento de habilidades e o desenvolvimento de capacidades podem contribuir com o desenvolvimento sustentável.

Trabalho em rede

O trabalho em rede e a cooperação podem aumentar a capacidade dos grupos comunitários. Os grupos podem se reunir para formar redes ou associações regionais. Há mais chances de as instituições governamentais e os políticos responderem a solicitações de associações maiores. Com o trabalho em rede, os grupos com habilidades e capacidades diferentes também podem se ajudar mutuamente.

Conhecer os próprios direitos

Um dos muitos motivos pelos quais algumas comunidades são pobres e marginalizadas é porque elas desconhecem os seus direitos. Por exemplo, elas podem ter direitos a certos serviços, educação ou terras. Conhecer e reivindicar estes direitos aumenta as capacidades e os recursos da comunidade. As associações podem ter muito sucesso na reivindicação destes direitos para os seus membros.

Em conclusão, o processo de desenvolvimento de uma comunidade não precisa ser dependente da ajuda externa, mas esta pode fazer uma contribuição positiva. Entretanto, é importante planejar a sustentabilidade. A comunidade precisa participar e assegurar que haja um comprometimento claro e uma programação para a transferência das responsabilidades, a fim de que o desenvolvimento não crie dependência.

Karim Sahyoun está escrevendo uma tese de doutorado sobre o tópico “Interrupção gradual da ajuda externa” na Universidade Humbolt de Berlin. Este artigo é proveniente da sua pesquisa. Ele organiza uma Conferência de Desenvolvimento Comunitário Cristão anualmente (www.ccd-network.net). E-mail: [email protected]


“A travessia do rio”

Esta é uma versão adaptada de uma dramatização muito usada, que ajuda a pôr em foco o tópico da dependência. Ela incentiva as comunidades a ver a necessidade de desenvolver a sua capacidade e não depender de pessoas de fora. Dê tempo aos participantes, para que preparem a dramatização.

Primeira dramatização

O Samuel quer atravessar um rio, mas não sabe como. O João aproxima-se e oferece-se para ajudar. Ele coloca o Samuel nas costas e atravessa o rio. Logo em seguida, o Samuel precisa de voltar e atravessar o rio novamente. Ele procura pelo João, que concorda em carregá-lo de volta. Isto repete-se mais uma terceira vez. Um dia, o João diz que não pode mais ajudar, porque vai se mudar. O Samuel fica aborrecido. Como se vai arranjar sozinho? Ele fica para trás, a chorar e a reclamar a sua situação.

Segunda dramatização

A Ester quer atravessar o rio e não sabe como. O Tiago aproxima-se e oferece-se para ajudar. Ele pega a Ester pela mão e mostra como atravessar o rio usando pedras ocultas embaixo da água. Mais tarde, a Ester quer atravessar o rio novamente. Ela tenta lembrar-se, mas não tem muita certeza de como fazê-lo. Desta vez, o Tiago ainda lhe dá uma pequena ajuda, mas menos do que antes. Na próxima vez que a Ester quizer atravessar o rio, ela o faz sem ajuda. Quando o Tiago se muda, a Ester fica triste, mas lembra-se da sua ajuda amável e agora ela consegue arranjar-se sozinha. Mais tarde, a Ester encontra o Moisés, que quer atravessar o rio. O Moisés não sabe como. Assim, a Ester ajuda-o da mesma forma que o Tiago a ajudou.

Depois de cada dramatização de papéis, pergunte às pessoas o que elas viram, para ter certeza de que todos compreenderam. No final, divida todos em grupos para discutir estas perguntas:

  • Que diferença você observou entre as duas dramatizações de papéis?
  • O que aprendeu com estas dramatizações?
  • Você pode contar algumas experiências da sua vida ou da sua comunidade, que podem ser comparadas com o que viu, ouviu ou aprendeu com a dramatização?
  • Imagine que não sabe como atravessar o rio. Qual das duas pessoas escolheria para ajudá-lo a atravessar: a primeira ou a segunda? Por quê?

Esta dramatização de papéis foi adaptada pelos funcionários da Diocese do Monte Kilimanjaro, na Tanzânia.


Estudo de caso: Dependência da ajuda externa

É apresentada uma nova raça de galinha, que produz ovos e carne melhores do que as galinhas locais. Entretanto, a nova raça precisa de vacinas para resistir às doenças. A vacina precisa ser mantida em baixa temperatura e só pode ser encontrada numa cidade, que fica a oito horas de carro do local. O trabalhador da área de desenvolvimento da ONG assume esta responsabilidade. Ninguém na comunidade possui transporte ou um refrigerador e embalagem térmica. Assim, ninguém poderá assumir esta responsabilidade depois dele. As famílias que dependem da renda da nova raça terão problemas assim que o trabalhador da área de desenvolvimento for embora. Os membros comunitários dependem do trabalhador da área de desenvolvimento. Portanto, este desenvolvimento não é sustentável.

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