Om Kheun perdoa
Chrang Bak é um povoado construído às margens cobertas de lixo do rio Bassac, perto de Phnom Penh, no Camboja. Om Kheun é uma proprietária de loja local. Talvez ela seja melhor como vizinha do que como comerciante, porque, quando os vizinhos pobres vêm comprar a crédito, ela não consegue recusar. Pessoas de toda a vizinhança vêm a ela para pedir conselhos assim como para comprar artigos. Ela compreende os problemas deles, porque também é pobre.
Om Kheun tornou-se cristã mais tarde. Ela leu na Bíblia que Jesus nos disse para perdoarmos os que nos haviam ofendido. Com esta nova compreensão, ela examinou o seu coração e viu que havia algo de errado ali, alguma coisa estava prejudicando as suas relações no povoado. Ao longo dos anos, ela havia ampliado o crédito para outras famílias. As quantias haviam ficado tão grandes, que poucas das famílias mais pobres poderiam pagá-la algum dia. Isto criou um problema duplo. No fundo, ela percebia que estava zangada e frustrada com as pessoas que lhe deviam tanto. Ela poderia ter progredido tanto na vida se elas a tivessem pago! Por outro lado, ela percebeu que aquelas famílias pobres também estavam profundamente envergonhadas da sua dívida e, agora, a evitavam tanto quanto possível. Om Kheun não queria se sentir amarga ou ser evitada. Assim, inspirada pelo que ela havia lido na Bíblia, decidiu resolver o problema. Com a sua caderneta de registros na mão, ela foi de família em família e, ante os seus olhos, riscou as suas dívidas, declarando-as “perdoadas”. Com um movimento da caneta, eles foram liberados – assim como ela.
Embora a sua vida seja frequentemente uma batalha, Om Kheun tem uma sensação de liberdade. Ela encontrou algo melhor do que amargura e ódio. Ela encontrou uma fé que transformou o seu desespero em esperança através do poder do amor e do perdão.
A autora, Kristin Jacks, é a Diretora da Servants to Asia’s Urban Poor no Camboja. Site: www.servantsasia.org
Escolhendo o perdão
Lesley Bilinda é uma agente de saúde comunitária, que passou vários anos trabalhando para a Tearfund em Ruanda. Ela estava visitando o Quénia quando o genocídio de 1994 começou, mas o seu marido ruandês, Charles, um professor de inglês de escola secundária, foi um dos mortos durante a violência.
Dez anos mais tarde, Lesley voltou a Ruanda para tentar descobrir a verdade sobre o que havia acontecido ao seu marido. Ela sentia a “culpa do sobrevivente”, desejando que tivesse podido estar com os seus amigos e a sua família na época dos problemas. Ela também enfrentava uma batalha interna constante entre a raiva do que tinha acontecido e o desafio de Deus de perdoar. “Pensei muito e por muito tempo sobre perdoar os responsáveis pelo seu assassinato. Seria possível perdoar alguém sem saber quem esta pessoa é? Mas eu sentia que tinha de tentar perdoar, nem que fosse por mim mesma. No fundo, eu tinha muita raiva e amargura por causa do que tinha acontecido e sabia que, com o tempo, se não fizesse nada, isto me destruiria. Da maneira como eu vejo as coisas, o perdão pessoal não significa que a pessoa não receba a punição justa pelos seus crimes. A justiça ainda tem de ser mantida e vista em prática. Mas, no âmbito individual, o perdão permite que ambas as partes sigam em frente.”
No fim, ela não descobriu com certeza como o marido havia morrido. Porém, ela descobriu uma das pessoas responsáveis pela morte da sua amiga íntima, Anatolie. Ele admitiu as suas acções, e Lesley perdoou-o. Não é uma decisão fácil, como diz Lesley “Às vezes, não tenho vontade de perdoar, mas esta foi uma escolha que fiz – e continuo a fazer. Isto não significa que eu tenha esquecido. Como seria fácil cultivar a amargura, mas decidi não fazer isto. Decidi perdoar – mais uma vez e mais uma vez. Enquanto for necessário e enquanto Deus me der a coragem para fazê-lo.”
A história de Lesley Bilinda é contada no seu livro, With What Remains (Hodder and Stoughton, 2006)