Na Índia, mais mulheres morrem de complicações durante a gravidez e o parto do que qualquer outra causa. Quase todas estas mortes poderiam ser evitadas.
Muitos problemas de saúde durante a gravidez não são reconhecidos ou tratados devido ao acesso restrito aos cuidados de saúde. Muitos problemas ocorrem porque as mulheres freqüentemente se casam cedo, como noivas ainda crianças. As mães jovens, com menos de 20 anos, têm cinco vezes mais chances de morrerem no parto. Elas sofrem complicações com a gravidez, porque o seu corpo ainda não está maduro. Pressão sanguínea alta, partos obstruídos, partos prematuros e bebês de baixo peso ao nascimento são muito mais comuns entre as mães muito jovens. As atitudes culturais valorizam os meninos mais do que as meninas, o que faz com que seja tradição alimentar as meninas por último e dar-lhes menos comida. Muitas estão subnutridas e anêmicas antes de engravidarem.
Cuidados médicos para as mulheres
A Emmanuel Hospital Association (EHA) é uma rede de hospitais e projetos de saúde comunitária no norte da Índia. As mulheres de povoados não gostam de ser examinadas por médicos do sexo masculino por motivos religiosos, de casta e de crenças tradicionais. Nas áreas rurais, não há mulheres médicas suficientes. Assim, este preconceito faz com que o número de mulheres e crianças com acesso aos serviços médicos seja menor. Para preencher esta lacuna, a EHA criou um curso de treinamento para enfermeiras de prestação de cuidados especializados para mulheres e crianças. Foi visto que o uso de assistentes qualificados ajuda a diminuir os problemas de saúde e as mortes no parto. Os casos de alto risco podem ser identificados de antemão e encaminhados para tratamento hospitalar já no início.
O curso cobre a saúde reprodutiva, obstetrícia e saúde sexual. Os enfermeiras são treinadas para oferecer aconselhamento e informações sobre gravidez planejada e cuidados de saúde para adolescentes. Através de aulas de inglês, as enfermeiras criam confiança neste idioma, o qual é usado nos hospitais. As aulas teóricas são seguidas de sessões práticas diárias em projetos comunitários já estabelecidos e que têm boas relações com os habitantes locais. Estas sessões concentram-se em obstetrícia e cuidados com bebês recém nascidos.
Os manuais de ensino devem ser simples, relevantes e pequenos, para que a pessoa possa carregá-los facilmente consigo como livros de referência.
Também é necessário um acompanhamento posterior. O monitoramento e a avaliação durante o curso e na comunidade ajudam a identificar falhas no treinamento. Depois do treinamento, as enfermeiras precisam de atualizações e apoio contínuos.
Compartilhando mensagens sobre a saúde
A reputação de uma clínica bem administrada espalha-se rapidamente de boca-em- -boca. Aqui estão alguns métodos práticos que foram usados para incentivar o acesso aos serviços de saúde reprodutiva e infantil:
Centros de Saúde Reprodutiva e Comunitária (SRC) Enfermeiras de SRC organizam centros rurais para as mulheres e as crianças do local. Os horários de atendimento das clínicas devem satisfazer as necessidades locais.
Grupos de mulheres A formação de grupos de mulheres nas comunidades locais pode ajudar o trabalho da enfermeira nas clínicas. As mulheres dos povoados podem reunir informações sobre as necessidades locais e divulgar mensagens e informações sobre os serviços disponíveis.
Grupos de saúde juvenil Os meninos e as meninas adolescentes são grupos-alvos importantes para o ensino de saúde sexual, mudança de comportamento arriscado e preparação para o casamento e o parto. Os jovens podem, então, ser melhor informados sobre como obter acesso aos serviços de SRC quando os necessitarem e compartilhar mensagens com os pais. Num projeto, os rapazes responderam às necessidades locais organizando um serviço de ambulâncias formado pelas pessoas com veículos da comunidade.
Programas de alfabetização Os programas de alfabetização para mulheres nos povoados são uma outra oportunidade de ensinar e fornecer informações sobre a saúde.
Visitas domiciliares As enfermeiras de SRC criam relações com as famílias através de visitas domiciliares. Além de questões de saúde, eles podem conversar sobre outras questões, tais como oportunidades de geração de recursos, economizar dinheiro para a saúde, discriminação relativa ao gênero e violência doméstica.
Feiras nos povoados Estas são uma forma popular de divulgar informações na comunidade mais ampla. A dramatização de papéis (drama), as canções e as bancas de informações são sempre muito freqüentadas.
Evitando problemas
Criar boas relações com os centros de saúde do governo, outras ONGs e outros prestadores de saúde local pode evitar conflitos, mensagens confusas e competição.
Algumas mulheres ainda recusam os cuidados especializados. Os maridos e as sogras geralmente são os que tomam as decisões e podem, assim, causar atrasos críticos no acesso aos cuidados de saúde. É importante incluí-los nas discussões em grupo e em família. Um projeto deu início a um “grupo de sogras” e encontravase regularmente com ele. As mensagens principais eram:
- Toda a gravidez apresenta um risco.
- Uma mãe saudável tem mais chances de ter um bebê saudável e ser capaz de cuidar dele e da sua família.
- Três exames médicos durante a gravidez ajudam a detectar problemas já no início e aumentam as chances de um parto seguro.
Organizar encontros do povoado, teatro de rua ou shows de vídeo à noite permite que os homens participem depois do trabalho e dêem suas opiniões e seus pontos de vista.
A Dra. Ann Thyle é a Diretora Regional da Região Norte e Coordenadora da Saúde Reprodutiva da Emmanuel Hospital Association. Emmanuel Hospital Association, 808/92, Nehru Place, New Delhi – 110019, Índia. E-mail: [email protected] Website: www.eha-health.org