Para as pessoas que dependem da agricultura regada pela chuva, a degradação da terra e a perda de fertilidade do solo podem ser devastadoras. A regeneração natural gerida pelo agricultor usa técnicas simples e de baixo custo para incentivar a rebrota de árvores a partir de cepas vivas e de sementes no solo, resultando na restauração da terra e dos meios de vida.
As habilidades associadas a essa prática são usadas há gerações. No entanto, no início dos anos 80, elas foram revisadas e popularizadas novamente em resposta à grave degradação da terra no Níger. Vastas áreas de terras desmatadas haviam sofrido alta erosão, causando perdas de colheitas e fome crônica.
As tentativas de plantar árvores e restaurar a fertilidade do solo frequentemente fracassavam devido ao calor extremo, à água limitada, à criação de gado em liberdade e à falta de interesse. A maioria dos agricultores não entendiam os benefícios das árvores e procuravam atender somente às suas necessidades imediatas. Era necessária uma nova abordagem: uma abordagem que capacitasse os agricultores para restaurar suas terras e que, ao mesmo tempo, melhorasse a produção agrícola.
Cepas vivas
Em vez de plantar árvores, a regeneração natural gerida pelo agricultor trabalha com a rebrota de cepas vivas, raízes e sementes já presentes no solo: a floresta subterrânea. As touças vivas de árvores previamente derrubadas possuem raízes maduras, capazes de alcançar nutrientes e água no fundo do solo. Essas raízes também liberam energia armazenada à medida que novos rebentos crescem. Assim, a rebrota geralmente é mais rápida e mais bem-sucedida do que o cultivo de mudas recém-plantadas.
Frequentemente, nos campos agrícolas, as rebrotas das árvores são cortadas ou queimadas antes de cada estação de plantio. Com a regeneração natural gerida pelo agricultor, à medida que a rebrota surge, as hastes mais fortes e retas são protegidas, e as demais são cortadas. O usuário da terra decide quais árvores manter, dependendo do tipo de árvore que deseja cultivar e da localização das cepas. As técnicas básicas podem ser facilmente aprendidas e passadas de agricultor para agricultor.
Os animais são mantidos longe do local até que as árvores jovens tenham crescido o suficiente para que a pastagem não as prejudique mais. Depois disso, o gado pode pastar ao redor das árvores, fertilizando o solo durante o processo
A estação de plantio das culturas pode ser um bom momento para regenerar árvores, pois o gado frequentemente fica cercado ou pasta em outro lugar. Em terras comunitárias, as comunidades devem decidir juntas a melhor forma de manter os animais longe das árvores jovens e vulneráveis.
Árvores em terras agrícolas
A inclusão deliberada e o manejo de árvores e arbustos em terras agrícolas oferecem muitos benefícios, entre eles:
- menos erosão do solo devido às raízes profundas e à cobertura permanente do solo;
- melhor estrutura e fertilidade do solo;
- melhor retenção da água da chuva no solo e menor risco de inundação;
- solo mais fresco, o que facilita a sobrevivência das culturas e gramíneas nos períodos quentes e secos;
- habitat para uma variedade da fauna silvestre, inclusive insetos e pássaros importantes para a polinização e o controle de pragas;
- menor velocidade do vento e menos poeira no ar;
- sombra fresca para os seres humanos e animais.
Diferentes espécies de árvores podem fornecer lenha, madeira, medicamentos naturais, forragem e alimentos. Também podem ser desenvolvidas atividades como a apicultura. Algumas espécies de árvores – chamadas leguminosas – retiram nitrogênio do ar, adicionando-o ao solo. Outras extraem água para a superfície, disponibilizando-a para as culturas.
Flexibilidade
Os agricultores e usuários da terra podem praticar a regeneração natural gerida pelo agricultor de várias maneiras diferentes. Eles podem escolher quais árvores desejam conservar e quando e como podá-las. O objetivo pode ser algo simples, como cultivar algumas árvores para lenha, ou as técnicas podem ser usadas para restaurar grandes áreas florestais.
Se a terra for de propriedade individual, é melhor que a regeneração de árvores seja gerida pelo usuário ou proprietário da terra. Em terras comunitárias, toda a comunidade deve ser envolvida, para garantir que todos compreendam a importância de cuidar das árvores e compartilhem os benefícios.
Muitos benefícios
No Níger, a regeneração natural gerida pelo agricultor já foi realizada em mais de 5 milhões de hectares. À medida que a terra foi se tornando verde com as árvores, a produção agrícola aumentou, beneficiando 2,5 milhões de pessoas. Em 2005, quando um terço da população nigerina passava fome, a venda de lenha e de outros produtos florestais permitiu que os agricultores que praticavam a regeneração natural evitassem a tragédia e não precisassem depender de assistência alimentar.
Normalmente, a implementação da regeneração natural gerida pelo agricultor custa cerca de US$ 40 por hectare. No entanto, uma vez introduzida, o custo é apenas o trabalho do usuário da terra, que, no Níger, é cerca de US$ 14 por hectare. Após 20 anos, os agricultores do Níger já estavam cultivando 500 mil toneladas extras de grãos a cada ano, e a renda anual havia aumentado em até US$ 1.000 por família. Em comparação, um estudo de três países da África Ocidental constatou que haviam sido gastos US$ 160 milhões no plantio de árvores, e restavam apenas 20 mil hectares de plantações: um custo de US$ 8.000 por hectare.
Comprometimento;
Quando o comprometimento é maior, a probabilidade de sucesso aumenta. Muitos agricultores acham que a presença de árvores em suas terras é inútil. No entanto, à medida que sua compreensão aumenta, também aumenta o desejo de cultivar árvores. Se a maioria das pessoas de uma comunidade estiver trabalhando para alcançar os mesmos objetivos, o progresso será maior.