por Ben Osuga.
As comunidades são frequentemente visitadas por vários grupos que desejam ajudálas. Estes visitantes geralmente trazem com eles os seus próprios pacotes de assistência e eles esperam que a comunidade aceite o que é proposto. Quando uma comunidade é visitada desta maneira, o povo local desenvolve uma série de expectativas sobre os visitantes e seus planos para o futuro.
Perguntas e respostas
Quando os membros da comunidade ficam sabendo sobre uma visita, algumas perguntas são feitas – tais como
- Quem são os visitantes e de onde vêm?
- O que pretendem?
- São estrangeiros?
- Estiveram aqui antes?
- O que fizeram por outras comunidades?
Dependendo das respostas a estas perguntas, a comunidade elabora as suas respostas aos visitantes. Estas respostas são geralmente o que a comunidade espera que os visitantes querem ouvir! Por exemplo, se um técnico em agricultura visita o local, a necessidade mais urgente será o fornecimento de enxadas e sementes mas se um grupo de médicos visitar o mesmo local, certamente a necessidade maior será um serviço de assistência médica.
Problemas de comunicação
Os visitantes irão então estabelecer algumas condições que aumentarão as probabilidades daquela comunidade receber o pacote de assistência. Estas condições, quase inevitavelmente, incluem a participação da comunidade. Muitas pessoas falam sobre participação comunitária mas já trazem com elas as suas próprias idéias formadas e atividades pré-planejadas. Muito raramente líderes ou visitantes passam um tempo com a comunidade ‘observando, ouvindo e aprendendo’ para que possam compreender melhor quais são as prioridades.
Isto é quase sempre um problema. Há várias razões…
- Atividades iniciadas pela comunidade são frequentemente executadas muito vagarosamente, consumindo-se muito tempo e sem muita profissionalização.
- Os líderes trazem suas próprias idéias de outros projetos e não querem adaptálas.
- Agências de apoio gostam de ver resultados – às vezes a comunidade tem prioridades que não são facilmente modificadas ou medidas.
Níveis de participação
- Usando os servicos fornecidos – O programa é introduzido por estranhos. A comunidade faz uso dos serviços fornecidos.
- O programa pré-planejado – O programa é desenvolvido fora da comunidade, que é então convidada a tomar parte. Alguns esforços são feitos no sentido de se desenvolver as habilidades encontradas dentro da comunidade e de se ter um pouco de participação.
- Envolvimento baseado nas prioridades e decisões comunitárias – Neste nível, a comunidade é ajudada a desenvolver habilidades significativas, identificar necessidades e planejar atividades futuras.
- Autorização da comunidade – Neste caso, a comunidade se torna plenamente consciente e pode tomar controle do seu processo de desenvolvimento. Há várias coisas que podem impedir uma participação completa…
- acreditar que as questões na área de desenvolvimento são muito técnicas e devem ser deixadas para ‘especialistas’
- encorajar a implementação de serviços curativos – clínicas, hospitais – ao invés de serviços preventivos ou de saúde básica
- uma comunicação pobre entre os que implementam atividades de desenvolvimento e a comunidade.
Encorajando uma real participação
Vamos usar agora os cuidados básicos de saúde como um exemplo para demonstrar que o seu desenvolvimento deve ser visto como um processo onde os vários estágios são realizados duma maneira flexível. Desta forma, a comunidade toma para si este processo e continua com as atividades.
O fator principal é interessar a comunidade em se tornar independente. A princípio o programa de trabalho apresentado à comunidade pode não dar muita abertura para que os membros da comunidade tenham suas próprias responsabilidades, dêem idéias ou se sintam donos do trabalho.A maioria das decisões e dos recursos necessários vem de fora da comunidade. No entanto, com o tempo a comunidade passa a desenvolver abilidade e capacidade para liderar, planejar, tomar decisões e fazer bom uso dos recursos disponíveis.
Há sete maneiras de se encorajar uma real participação da comunidade…
1. Conscientização O objetivo é ajudar comunidades a compreender o que é os cuidados básicos de saúde. Conscientizando as pessoas, estaremos ajudando-as a…
- entender o que está acontecendo em suas comunidades e arrededores
- entender que vale a pena e é util se prevenir doenças
- começar a se sentir donas dos seus recursos para que melhorem o nível de saúde delas próprias
- entender que a comunidade é responsável pela sua saúde e por organizar as atividades necessárias
- entender as várias funções dum comitê responsável pelas questões de saúde da comunidade, dos sanitaristas e de parteiras
2. Treinamento Treinamento é necessário em vários níveis diferentes…
Nível nacional – Treinamento de facilitadores
Nível regional – Treinamento de facilitadores, treinadores e líderes de projetos
Nível local – Treinamento de treinadores, líderes de projetos e comitês comunitários de saúde
Nível comunitário – Treinamento de pessoas como sanitaristas, parteiras, membros de comitês de saúde e curandeiros tradicionais.
3. Identificando cuidados básicos de saúde na comunidade
Isto também é feito em vários níveis…
Nível regional – Reuniões com vários departamentos de saúde e governamentais sobre os cuidados básicos de saúde e atividades práticas que melhorem as condições nas comunidades.
Nível local – Obtendo o apoio de líderes da comunidade. Repita o processo de conscientização. Decida de que maneira se pode introduzir o trabalho de cuidados básicos de saúde.
Nível comunitário – Se reúna com os líderes da comunidade para levar estas idéias até eles e começar a conscientizá-los através de visitas domiciliares. Organise uma reunião com a comunidade e selecione um comitê de saúde local.
4. Ajudando a comunidade a iniciar seu próprio trabalho de assistência à saúde
Continue com o processo de conscientização. Através deste processo se conseguirá…
- um acordo de cooperação entre a comunidade e o programa
- identificar os problemas principais e soluções práticas para eles
- selecionar os membros do comitê para liderar o projeto de cuidados básicos de saúde baseado na comunidade.
5. Compreendendo a situação atual
Treine o comitê de saúde e outras pessoas envolvidas que tenham abilidades ou qualidades relevantes ao trabalho em recolher informações sobre a situação atual e a compreensão de saúde. Os vilarejos, por exemplo, podem ser visitados com o próposito de se discutir com a população local os casos de doenças ocorridas, o nome que é dado a cada doença localmente e qual tratamento é usado. Antes que o projeto de saúde comece a funcionar é necessário que se compreenda os desejos e necessidades do vilarejo.
6. Ação e acompanhamento
Uma vez que o programa de saúde estiver em operação…
- faça visitas regulares de acompanhamento (durante até cinco anos)
- reúna os membros dos vilarejos para que eles troquem experiências e planos futuros uns com os outros
- reforce as ligações com os centros locais de saúde e com o pessoal de saúde da área
- ofereça cursos de recapitulação.
7. Avaliação
Discuta com os comitês de saúde, patrocinadores e trabalhadores de áreas como os objetivos propostos inicialmente estão sendo atingidos. Baseado nas conclusões das discussões e nas lições aprendidas, encorage o desenvolvimento de novas idéias e de planos para trabalhos futuros.
Ben Osuga é o Conselheiro Técnico da OXFAM para a Associação Comunitária de Cuidados Básicos de Saúde de Uganda. Este artigo foi adaptado dum documento apresentado ao governo de Uganda.