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Artigos

Fome e saúde

Como lidar com a desnutrição através de ações lideradas pela comunidade

Escrito por Joy Wright 2023

Uma promotora de saúde da Guatemala examinando um bebê recém-nascido no colo da mãe

Griselda (à esquerda) é promotora de saúde na Guatemala. Ela ajuda as mulheres da sua comunidade a manter os filhos saudáveis e bem alimentados. Foto: Caroline Trutmann Marconi/Tearfund

Três mulheres da Guatemala sorridentes, uma delas grávida, segurando tigelas de comida em uma cozinha com paredes de madeira.

De: Alimentos e nutrição - Passo a Passo 119

Como comer bem, lidar com a desnutrição e reduzir o desperdício de alimentos

Compartilhar uma refeição com outras pessoas é uma experiência humana comum que nos proporciona uma conexão com os outros e um senso de pertencimento, além de energia física e nutrientes. Mas como os membros da comunidade podem ajudar uns aos outros quando não há o suficiente para comer? 

Esta é uma pergunta urgente em muitos países hoje em dia, e uma que me fiz em uma recente visita à Etiópia, onde a pior seca dos últimos 40 anos está causando uma crise alimentar.

“Quase uma em cada dez pessoas não tem alimentos suficientes.”

Ao redor do mundo, as taxas de fome aumentaram rapidamente nos últimos anos devido a uma combinação de fatores: conflitos, mudança climática, efeitos econômicos da Covid-19 e aumento do custo dos alimentos. De acordo com o Programa Mundial de Alimentos, quase uma em cada dez pessoas não tem alimentos suficientes para atender às suas necessidades nutricionais. As crianças são particularmente vulneráveis, sendo que cerca de 200 milhões delas estão atualmente desnutridas, segundo estimativas da Unicef.

Podemos nos sentir impotentes diante da magnitude dessas necessidades, que requerem uma intervenção em âmbito global. Porém, a ação local liderada pela comunidade pode reduzir significativamente o impacto da fome e da desnutrição em indivíduos e agregados familiares. 

Uma mulher do Quênia colocando uma fita codificada com diferentes cores em volta do braço de uma criança pequena

Verificação de desnutrição no Quênia. Foto: Will Swanson/Tearfund

Ação liderada pela comunidade 

Os grupos comunitários podem ajudar de várias maneiras. O primeiro passo é descobrir quais são os fatores que mais contribuem para a fome e a desnutrição. 

Esses podem incluir:

  • insegurança alimentar, quando o suprimento de alimentos não é garantido ou acessível, talvez como resultado de conflitos, más colheitas ou desastres;
  • falta de conhecimento sobre os princípios nutricionais, particularmente em relação à alimentação de bebês e crianças;
  • acesso inadequado à água, ao saneamento e aos cuidados de saúde, resultando em doenças e uma menor capacidade de absorção dos nutrientes essenciais.

Com base nessa análise, os grupos comunitários poderiam assumir a liderança em uma ou mais das seguintes áreas:

  • Trabalho de advocacy (defesa e promoção de direitos):  As comunidades sabem o que é necessário em seu contexto para lidar com a insegurança alimentar e a desnutrição. Com base nesse conhecimento, os representantes da comunidade podem reivindicar apoio do governo local e nacional, dos serviços de saúde, de organizações não governamentais e outros.

    Para obter mais informações sobre como realizar um trabalho eficaz de advocacy liderado pela comunidade, consulte a Passo a Passo 118.

  • Prestação de informações: As orientações sobre saúde e nutrição são mais eficazes quando fornecidas por outros membros da comunidade que sabem quais alimentos estão disponíveis e quais são as pressões enfrentadas por ela. 

    Os principais tópicos poderiam incluir: boa nutrição durante a gestação; que tipos de alimentos dar a crianças com menos de dois anos; apoio à amamentação; higienização das mãos; uso de latrinas; cultivo de hortas; e a melhor forma de armazenar e conservar alimentos para reduzir o desperdício. 

  • Encaminhamento das pessoas aos serviços: Tratar rapidamente as crianças com desnutrição aguda pode salvar vidas. Os profissionais de saúde comunitária e os familiares podem aprender como verificar se as crianças estão desnutridas e, então, encaminhá-las à clínica mais próxima. 

    Chegar aos locais de distribuição de alimentos ou às clínicas de saúde pode ser difícil para as pessoas que vivem em zonas rurais ou que têm vários filhos, portanto, organizar transporte ou pessoas para cuidar das crianças pode ser vital.

  • Ação participativa: Os grupos comunitários podem ajudar as pessoas a decidir como usar a terra, os alimentos e os recursos disponíveis da maneira mais eficaz possível. 

    Os grupos de autoajuda oferecem oportunidades para que as pessoas se apoiem mutuamente e economizem pequenas quantias de dinheiro. Essas economias podem ser usadas para comprar alimentos durante os períodos de seca ou outras emergências.

Duas mãos segurando uma fita plástica com uma seção em vermelho, outra em amarelo e outra em verde

Fita para medir a circunferência do braço (fita MUAC). Quando colocada ao redor do braço, verde indica saúde, amarelo sugere um problema potencial e vermelho indica desnutrição. Foto: Paul Mbonankira/Tearfund

Desnutrição

Não consumir os alimentos certos no momento certo leva à desnutrição e à menor resistência às infecções. Uma criança desnutrida tem maior probabilidade de desenvolver infecções do trato respiratório, diarreia e doenças como a malária, além de estar muito mais propensa a morrer em consequência dessas doenças.

A desnutrição infantil pode ser evitada através do aumento das taxas de amamentação, de uma alimentação nutritiva e em quantidade suficiente para as crianças pequenas e da melhoria do acesso à água potável e ao saneamento.

“Uma criança desnutrida tem maior probabilidade de contrair infecções do trato respiratório, diarreia e doenças como a malária.”

As doenças e os vermes intestinais diminuem a capacidade do organismo de absorver nutrientes. Portanto, a vacinação contra as doenças infantis comuns e o tratamento oportuno para vermes também são muito importantes.

Como medir a desnutrição

Normalmente, é usado um gráfico que mostra o peso esperado para a idade para verificar se as crianças estão crescendo devidamente. No entanto, nem sempre há balanças e gráficos disponíveis, portanto, cada vez mais, tem-se utilizado uma fita métrica codificada por cores, conhecida como fita MUAC (na sigla em inglês), que serve para medir a circunferência do braço.

A fita é colocada ao redor do braço da criança e fornece uma indicação rápida e simples de desnutrição. Isso é algo que os profissionais de saúde comunitária, os pais e os irmãos mais velhos podem facilmente aprender a fazer. A fita também pode ser usada para verificar a desnutrição em adultos.

O inchaço pode ser um sinal de desnutrição aguda grave em crianças. Uma maneira de verificar isso é aplicar pressão normal com os polegares no dorso de ambos os pés da criança por cerca de três segundos. Se a cavidade causada pela pressão nos pés permanecer por alguns segundos após a retirada dos polegares, a criança precisará de atendimento médico de emergência.

Tratamento para a desnutrição 

A desnutrição aguda precisa ser avaliada por um profissional de saúde. Nos casos graves, é necessário fazer um tratamento com uma pasta especial de frutos secos de alta energia. Em casos mais leves, podem ser usados alimentos de alto teor energético, como um mingau feito de grãos e legumes.

Se houver complicações, como infecção ou inchaço, a pessoa precisará de atendimento em uma clínica ou hospital, onde receberá alimentos altamente energéticos, antibióticos e outros tratamentos.

 
Uma criança no Burundi comendo mingau com uma colher prateada segurada por um adulto

Uma criança desfrutando um mingau nutritivo no Burundi. Foto: Tom Price/Tearfund

Mingau de alto teor energético

Use este mingau para tratar a desnutrição aguda moderada em crianças e adultos ou para ajudar alguém a se recuperar de uma doença. Ele deve ser consumido diariamente por pelo menos oito semanas. Varie os ingredientes de acordo com os tipos de grãos e legumes disponíveis em sua região. 

Ingredientes

  • 2 partes de leguminosas, por exemplo: soja, amendoim, ervilha ou lentilha
  • 1 parte de cereal integral, por exemplo: milho ou arroz
  • 1 parte de outro cereal integral, por exemplo: trigo, milheto ou trigo sarraceno

Método

  • Lave as leguminosas e os grãos.
  • Asse-os separadamente e, em seguida, triture-os até formar uma farinha fina (separadamente ou juntos). A farinha pode ser armazenada em um recipiente hermético por até três meses.
  • Misture a farinha combinada em água fervente e cozinhe. Varie a quantidade e a textura do mingau dependendo da idade e da condição da pessoa.
  • Acrescente purê de legumes e frutas ao mingau para aumentar o valor nutricional e variar o sabor. A farinha também pode ser usada para fazer pães e biscoitos. Não coloque sal.

Definições

Nutrientes: Substâncias essenciais encontradas nos alimentos, das quais o organismo precisa para funcionar adequadamente e manter uma boa saúde.

Nutrição: Processo de ingestão de alimentos e absorção de energia e nutrientes realizado pelo organismo.

Desnutrição: Quando o organismo não recebe a quantidade certa dos nutrientes certos. A desnutrição afeta particularmente as crianças menores de cinco anos e as mulheres grávidas e que estejam amamentando devido às suas altas necessidades energéticas.

Desnutrição aguda: Perda rápida de peso devido à falta repentina de alimentos nutritivos. As crianças com desnutrição aguda têm um peso corporal baixo para a altura. A desnutrição aguda pode ser classificada como moderada ou grave.

Desnutrição crônica: Perda de peso devido à escassez prolongada de alimentos. As crianças com desnutrição crônica geralmente têm uma estatura baixa para a idade. A desnutrição crônica pode ter efeitos de longo prazo, inclusive a redução da capacidade de aprendizagem das crianças na escola.

Circunferência do braço (fita MUAC): Uma maneira simples e rápida de verificar a desnutrição em crianças de seis meses a cinco anos com uma fita métrica colorida para medir a circunferência do braço.

 

Leitura adicional

Escrito por

Escrito por  Joy Wright

Joy Wright trabalha como médica e consultora de saúde e nutrição para a Medical Teams International na Etiópia, na Tanzânia e no Sudão.

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