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Artigos

Transformação de conflitos

Como as pessoas podem trabalhar juntas para criar um futuro mais pacífico

Escrito por Ildephonse Niyokindi 2024

Em Ruanda, um homem e sua esposa, com os braços ao redor um do outro, olhando para um horizonte de árvores e colinas

Após anos de conflito familiar, Telesphore e Primitive, em Ruanda, agora vivem em paz. Foto: Marcus Perkins/Tearfund

No Burundi, um homem sorridente, em pé, no meio de um grupo de mulheres sentadas, vestidas com roupas coloridas

De: Paz e reconciliação - Passo a Passo 121

O que podemos fazer para ajudar a construir a paz e promover a reconciliação em casa e em nossa comunidade

Os pequenos desentendimentos fazem parte da vida cotidiana e, na maioria das vezes, podem ser resolvidos de forma rápida e eficaz, se conversarmos, pedirmos desculpas e seguirmos em frente.

No entanto, se houver falta de comunicação, um pequeno desentendimento – numa família, comunidade, nação ou região – pode rapidamente se transformar em um problema muito maior.

Por exemplo, imagine duas pessoas juntas, olhando para um riacho com menos água do que o normal. Elas conversam sobre o que fazer. Uma delas quer desviar a água para as plantações, mas a outra acha que a água deveria ser usada para mover um moinho. Nesse momento, se trabalharem juntas, é provável que elas consigam encontrar uma solução que seja boa para ambas.

Porém, elas começam a discutir e as coisas logo se tornam pessoais. Elas deixam de estar lado a lado, focadas na resolução do problema. Em vez disso, uma vê a outra como o problema. Elas levantam a voz ao discutirem, dizem coisas desagradáveis uma à outra e começam a trazer à tona divergências do passado. Torna-se cada vez mais difícil para elas encontrar uma solução para a situação.

Frustradas e irritadas, elas param de conversar uma com a outra e passam a falar uma da outra, cercando-se de pessoas que concordam com seu ponto de vista. O problema original, então, perde-se entre uma série de ações e respostas negativas: um grupo abre canais para desviar a água para as plantações, enquanto que o outro rompe os canais para que a água possa fluir para o moinho; o primeiro grupo danifica o moinho, enquanto que o segundo destrói as plantações; e, assim, o conflito cresce. 

Durante esse processo de retaliação, há cada vez menos comunicação direta e os fatos tornam-se mais difíceis de reconhecer. Os boatos e as informações errôneas aumentam, a confiança desaparece e o nível de violência aumenta.

Cinco pessoas sorridentes em um semicírculo, segurando uma planta que está no meio

Plantando uma árvore durante um treinamento sobre construção da paz em Kigali, Ruanda. Foto: David Couzens/Tearfund

Diálogos construtivos

Para quebrar os ciclos de conflito e violência – sejam eles grandes ou pequenos – precisamos evitar reagir com raiva, tentar nos compreender uns aos outros e reconhecer que normalmente há coisas certas e coisas erradas em ambos os lados.

Em última análise, precisamos voltar a sermos apenas duas pessoas enfrentando um desafio em comum. E, em vez de levarmos o problema para o lado pessoal, precisamos conversar uns com os outros e trabalhar juntos para encontrar uma solução que funcione para todos.

Dependendo da complexidade da situação, isso pode demorar muito. Envolver pessoas de fora do conflito pode ajudar. Elas podem ouvir ambos os lados e incentivar o diálogo construtivo até que uma solução seja encontrada. 

Perdão

Mesmo depois de encontrada uma solução, pode ser difícil para as pessoas superarem o conflito, especialmente se tiverem passado por algum tipo de trauma. Os sentimentos de medo e ansiedade frequentemente são acompanhados de vergonha, humilhação e desejo de segurança e justiça. 

Se as pessoas tentarem ignorar esses sentimentos, eles podem surgir na forma de doenças físicas, flashbacks ou pesadelos. Elas podem querer se vingar daqueles que as magoaram ou podem ficar com medo de qualquer um que for diferente delas.

Pode ser útil se as pessoas afetadas pelo conflito forem capazes de:

  • Em um espaço seguro, falar abertamente sobre o trauma que sofreram e lamentar o que perderam – talvez sua casa, suas terras, um familiar, saúde, dignidade ou autoconfiança.
  • Evitar ficarem presas na pergunta “Por que eu?” e, em vez disso, perguntarem-se: “Por que eles?” O que aconteceu para que as pessoas do outro lado do conflito acreditassem que havia justificativa para suas ações? 
  • Reconhecer que, muitas vezes, ambos os lados fazem coisas erradas durante um conflito. Houve alguma coisa que elas próprias (ou o seu grupo) deveriam ter feito de forma diferente?
  • Escolher perdoar, reconhecendo que isso não significa esquecer o que aconteceu ou que o que aconteceu não importa. 

O perdão pode ajudar as pessoas a deixarem de ser vítimas, presas pela dor do que aconteceu, e passarem a ser sobreviventes, agindo com suas próprias forças. No entanto, elas nunca devem se sentir pressionadas a perdoar: a decisão deve vir delas próprias.

Ciclo do conflito

Pode levar muitos anos até que a decisão de perdoar deixe de ser uma ideia na cabeça de alguém e se torne um modo de ser. No entanto, esse é comprovadamente um passo vital para a cura do trauma e abre as portas para a reconciliação.

Reconciliação

Há uma relação complexa entre a necessidade de perdoar e o desejo de justiça: de que a verdade seja revelada e as pessoas sejam responsabilizadas por seus atos. Para que haja reconciliação e paz duradoura, tanto a verdade quanto a justiça, a misericórdia e o perdão precisam estar presentes.

Pode ser útil se as pessoas de ambos os lados do desentendimento tiverem a oportunidade de conversar umas com as outras sobre como foram magoadas. Se elas conseguirem realmente se escutarem, isso poderá ajudar na cura e no entendimento.

Com o tempo e com apoio, é possível que os sobreviventes dos conflitos e traumas contem uma nova história, que não veja um lado como agressor e o outro como vítima inocente. Uma história que, em vez disso, reconheça a complexidade do conflito e a dor sofrida por todos. Isso cria oportunidades para que as pessoas e as comunidades trabalhem juntas para criar um futuro melhor e mais pacífico.

Escrito por

Escrito por  Ildephonse Niyokindi

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