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Esperança no desespero: Um estudo de caso do IPASC

Por vários anos, tem havido conflito étnico na região nordeste da República Democrática do Congo, principalmente entre as comunidades Lendu e Hema. Durante 2002, a região passou por muitas privações devido às tensões étnicas. Muitas pessoas perderam as vidas ou fugiram da região, deixando para trás todos os seus pertences e seus lares.

2003 Disponível em Inglês, Francês, Espanhol e Português

Foto: Jim Loring/Tearfund

De: Aprendendo com os desastres – Passo a Passo 56

Orientações sobre como as comunidades podem se preparar para o inesperado

Por vários anos, tem havido conflito étnico na região nordeste da República Democrática do Congo, principalmente entre as comunidades Lendu e Hema. Durante 2002, a região passou por muitas privações devido às tensões étnicas. Muitas pessoas perderam as vidas ou fugiram da região, deixando para trás todos os seus pertences e seus lares.

O IPASC (Institut Panafricain de Santé Communautaire) é um dos parceiros da Tearfund em Nyankunde, na província de Ituri, que oferece treinamento nas áreas de saúde e desenvolvimento.

O IPASC sofreu com esta guerra de várias maneiras, especialmente em termos de perdas de vidas e bens. Nossas atividades acadêmicas foram interrompidas e tivemos que deixar nosso campus. Todos os membros da equipe foram afetados de alguma forma pela guerra. Alguns perderam familiares e amigos. O nosso líder estudantil foi assassinado. Um funcionário, Mangi, perdeu o pai, sua casa foi incendiada e 29 de seus parentes foram mortos em seu povoado. Outros perderam praticamente tudo o que tinham acumulado ao longo de muitos anos: mobília, utensílios, animais, terra, dinheiro, roupas, documentos pessoais importantes tais como diplomas escolares, etc. Os atos terríveis cometidos por outras pessoas causaram depressão, humilhação e desespero. Um dos membros da equipe afirmou “Eu estava tão desesperado, que achava que não havia esperança para nada e pensei em morrer.”

No início, muitos dos funcionários do IPASC abrigaram-se no mato ao redor de Nyankunde. Os soldados controlavam a região inteira. No mato, não havia comida, água potável, remédios, sal, óleo para cozinhar, mercado, casa ou dinheiro. Os colegas de Bunia conseguiam mandar-lhes alguns cobertores, utensílios, alimentos e remédios, quando havia uma maneira de se chegar lá.

À medida que a situação se deteriorava, os membros da equipe, juntamente com muitos outros, foram forçados a deixar a região e ir para o norte de Kivy, a mais de 200km de distância. Esta foi uma viagem longa e difícil, cruzando a floresta a pé. Eles precisaram de toda a perseverança e determinação que tinham, para continuarem.

Alguns dos nossos funcionários estabeleceram uma base temporária na cidade de Bunia. Uma equipe de três pessoas foi enviada a Aru, na região mais extrema do nordeste da República Democrática do Congo, para ver se o IPASC poderia ser transferido para lá temporariamente. A população e as autoridades religiosas, políticas e administrativas locais receberam o IPASC de braços abertos. Além disto, a comunidade ofereceu um pedaço de terra para as nossas atividades!

Durante esta época difícil, os funcionários do IPASC ficaram gratos pela oportunidade de um retiro de três dias para conversar sobre a gestão de stress e trauma. Era a primeira vez que muitos de nós nos encontrávamos desde que havíamos deixado Nyankunde. A pesar de sermos de muitos grupos étnicos diferentes, inclusive os que estavam lutando entre si, as amizades e os relacionamentos excelentes permaneceram firmes. Todos passaram pela dor e pela morte de entes queridos por causa dos massacres. Cada dia começava com uma meditação liderada por um padre ou pastor local das três igrejas principais. Algumas das sessões foram dolorosas, ao confrontarmos a sensação enorme de perda, mas também foi útil lidar com a dor reprimida. Estávamos “finalmente podendo enterrar os mortos.” Este retiro foi um processo de cicatrização de feridas. Aprendemos que a justiça reinará entre nós, somente se nos perdoarmos uns aos outros.

A cordialidade e as boas-vindas das autoridades e igrejas locais em Aru representaram um incentivo enorme. No Dia Mundial da AIDS (SIDA), pergunta-mos às autoridades se podíamos organizar algumas atividades para a cidade. Eles ficaram contentíssimos e até participaram. Os funcionários e os estudantes marcharam pela cidade carregando faixas de conscientização sobre o HIV (VIH) e a AIDS (SIDA). Apresentamos algumas palestras educativas e peças teatrais no campo de futebol. O dia foi um grande sucesso e ajudou para que nos sentíssemos aceitos em Aru.

Escrito por Amunda Baba, Elias Alsidri Assia e Pat Nickson, cujo endereço é: IPASC, PO Box 21285, Nairobi, Quênia. E-mail: [email protected] 

Pontos de aprendizagem

Um dos funcionários, Ukila, permaneceu com a sua família perto de Nuankunde após o principal ataque. Ele retornou ao campus várias vezes, quando ninguém estava olhando, para procurar qualquer livro que pudesse encontrar atirado por ali. Ele os escondia na casa emprestada em que morava. Ficamos impressionados com a coragem de Ukila, pois ele tentou várias vezes voltar e recuperar os pertences que haviam sobrado do IPASC. Depois de seis semanas retornando ao local com regularidade, ele havia recuperado mais de 1.000 livros da nossa biblioteca e outros documentos valiosos. No final, os funcionários do IPASC alugaram um veículo para recolher os livros em sua casa. Nyankunde tem agora minas terrestres, e ninguém pode chegar perto do povoado ou do campus.

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