Por vários anos, tem havido conflito étnico na região nordeste da República Democrática do Congo, principalmente entre as comunidades Lendu e Hema. Durante 2002, a região passou por muitas privações devido às tensões étnicas. Muitas pessoas perderam as vidas ou fugiram da região, deixando para trás todos os seus pertences e seus lares.
O IPASC (Institut Panafricain de Santé Communautaire) é um dos parceiros da Tearfund em Nyankunde, na província de Ituri, que oferece treinamento nas áreas de saúde e desenvolvimento.
O IPASC sofreu com esta guerra de várias maneiras, especialmente em termos de perdas de vidas e bens. Nossas atividades acadêmicas foram interrompidas e tivemos que deixar nosso campus. Todos os membros da equipe foram afetados de alguma forma pela guerra. Alguns perderam familiares e amigos. O nosso líder estudantil foi assassinado. Um funcionário, Mangi, perdeu o pai, sua casa foi incendiada e 29 de seus parentes foram mortos em seu povoado. Outros perderam praticamente tudo o que tinham acumulado ao longo de muitos anos: mobília, utensílios, animais, terra, dinheiro, roupas, documentos pessoais importantes tais como diplomas escolares, etc. Os atos terríveis cometidos por outras pessoas causaram depressão, humilhação e desespero. Um dos membros da equipe afirmou “Eu estava tão desesperado, que achava que não havia esperança para nada e pensei em morrer.”
No início, muitos dos funcionários do IPASC abrigaram-se no mato ao redor de Nyankunde. Os soldados controlavam a região inteira. No mato, não havia comida, água potável, remédios, sal, óleo para cozinhar, mercado, casa ou dinheiro. Os colegas de Bunia conseguiam mandar-lhes alguns cobertores, utensílios, alimentos e remédios, quando havia uma maneira de se chegar lá.
À medida que a situação se deteriorava, os membros da equipe, juntamente com muitos outros, foram forçados a deixar a região e ir para o norte de Kivy, a mais de 200km de distância. Esta foi uma viagem longa e difícil, cruzando a floresta a pé. Eles precisaram de toda a perseverança e determinação que tinham, para continuarem.
Alguns dos nossos funcionários estabeleceram uma base temporária na cidade de Bunia. Uma equipe de três pessoas foi enviada a Aru, na região mais extrema do nordeste da República Democrática do Congo, para ver se o IPASC poderia ser transferido para lá temporariamente. A população e as autoridades religiosas, políticas e administrativas locais receberam o IPASC de braços abertos. Além disto, a comunidade ofereceu um pedaço de terra para as nossas atividades!
Durante esta época difícil, os funcionários do IPASC ficaram gratos pela oportunidade de um retiro de três dias para conversar sobre a gestão de stress e trauma. Era a primeira vez que muitos de nós nos encontrávamos desde que havíamos deixado Nyankunde. A pesar de sermos de muitos grupos étnicos diferentes, inclusive os que estavam lutando entre si, as amizades e os relacionamentos excelentes permaneceram firmes. Todos passaram pela dor e pela morte de entes queridos por causa dos massacres. Cada dia começava com uma meditação liderada por um padre ou pastor local das três igrejas principais. Algumas das sessões foram dolorosas, ao confrontarmos a sensação enorme de perda, mas também foi útil lidar com a dor reprimida. Estávamos “finalmente podendo enterrar os mortos.” Este retiro foi um processo de cicatrização de feridas. Aprendemos que a justiça reinará entre nós, somente se nos perdoarmos uns aos outros.
A cordialidade e as boas-vindas das autoridades e igrejas locais em Aru representaram um incentivo enorme. No Dia Mundial da AIDS (SIDA), pergunta-mos às autoridades se podíamos organizar algumas atividades para a cidade. Eles ficaram contentíssimos e até participaram. Os funcionários e os estudantes marcharam pela cidade carregando faixas de conscientização sobre o HIV (VIH) e a AIDS (SIDA). Apresentamos algumas palestras educativas e peças teatrais no campo de futebol. O dia foi um grande sucesso e ajudou para que nos sentíssemos aceitos em Aru.
Escrito por Amunda Baba, Elias Alsidri Assia e Pat Nickson, cujo endereço é: IPASC, PO Box 21285, Nairobi, Quênia. E-mail: [email protected]