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Trabalhando com a mídia

A mídia é uma força importante para moldar tanto a agenda nacional quanto a agenda internacional em questões de desenvolvimento. Não é bom ver a mídia como algo separado do trabalho de assistência em situações de desastre e desenvolvimento ou algo a ser evitado.

2007 Disponível em Inglês, Francês, Português e Espanhol

Foto: Mike Webb/Tearfund

De: Comunicação eficaz – Passo a Passo 71

Diferentes formas de trocar informações

 A mídia é uma força importante para moldar tanto a agenda nacional quanto a agenda internacional em questões de desenvolvimento. A “mídia” consiste em jornais, revistas, rádio, televisão, internet, livros e outras formas de publicação. Quando a mídia ressalta uma questão específi ca, ela geralmente consegue realmente mudar a situação e incentivar uma resposta do público e do governo. Não é bom ver a mídia como algo separado do trabalho de assistência em situações de desastre e desenvolvimento ou algo a ser evitado. Ao invés disto, para fazerem mudanças e causarem um impacto verdadeiro no mundo, é vital que as organizações de desenvolvimento e as igrejas criem boas relações com a mídia.

Trabalhei por muitos anos, como jornalista, escrevendo matérias sobre questões sociais, políticas e de desenvolvimento para agências de notícias internacionais na África Ocidental e Central. Muitas vezes, sentia-me frustrado, porque a maioria dos assessores de imprensa ou de informações das organizações de desenvolvimento com quem eu trabalhava não entendiam o que eu queria deles. O que eu mais queria eram histórias que se concentrassem na experiência das próprias pessoas. Ao invés disso, eles me davam um monte de matérias longas, cheias de termos técnicos, que precisavam de muitos telefonemas para serem entendidas.

Quando eu entrava em contato com as organizações para pedir histórias, algumas tinham tanto medo de falar com os jornalistas, que nunca cumpriam as promessas de retornar a ligação. No outro extremo, algumas organizações faziam “almoços” e entrevistas coletivas com a imprensa para questões simples com as quais eu poderia ter lidado com apenas alguns telefonemas.

Como jornalista, o que eu achava mais útil eram as entrevistas coletivas curtas com a imprensa, onde eu podia ficar sabendo os fatos mais importantes e possíveis notícias para usar no meu programa de rádio de cinco minutos. Mas, ao invés disso, eu era convidado para grandes cerimônias, com discursos feitos por todo o mundo, desde o chefe do povoado até seu guerreiro-chefe. Quando finalmente conseguíamos ouvir os fatos, o meu editor já estava me chamando, furioso, para voltar para o estúdio ou sair para outro trabalho.

Com a experiência, fiquei mais seletivo quanto às minhas fontes de informação. Recusava muitas entrevistas coletivas com a imprensa e cortava em pedacinhos as entrevistas coletivas enfadonhas assim que elas saíam da minha máquina de fax. Eu logo me dei conta de que somente umas poucas organizações realmente sabem como lidar com a mídia. A maioria das organizações, mesmo fazendo um trabalho excelente, não sabe como transmitir informações ao público.

Criando boas relações com a mídia

O segredo de se trabalhar bem com a mídia é criar boas relações com os jornalistas. Descubra que repórteres locais escrevem sobre as questões relacionadas com o seu trabalho. Procure conhecê-los, descubra em que tipo de histórias eles estão interessados. Assim, quando tiver uma história, você pode mandá-la diretamente para eles e, depois, telefonar. Muitas vezes, esta é a melhor maneira de enviar matérias para a imprensa em geral.

  • A maioria dos jornalistas, com a exceção de uns poucos envolvidos em campos muito especializados e técnicos, estão interessados em histórias de experiências individuais. Evite mandar relatórios e documentos sobre políticas longos e enfadonhos. A menos que os relatórios sejam especificamente solicitados, fragmente o conteúdo dos relatórios e documentos de políticas em histórias curtas e interessantes, concentrando-se nas pessoas envolvidas.
  • Quando houver necessidade de uma entrevista coletiva com a imprensa, assegure-se de que ela seja curta e que a mensagem que você quer transmitir seja clara. Não aborreça os jornalistas com discursos longos sobre a sua organização.
  • As matérias para a imprensa devem ser curtas e trazer as informações mais importantes no primeiro parágrafo. Os jornalistas geralmente usam a história se ela já estiver escrita no estilo e no comprimento de artigo adequados para a sua publicação.
  • É muito útil que as organizações tenham um funcionário específico para lidar com a mídia. Esta pessoa geralmente é conhecida como Assessor de Imprensa ou Assessor de Informações. Ela deve ser treinada em como se comunicar com a mídia e capaz de criar relações úteis com ela. Se a sua organização não tiver condições financeiras para ter este cargo, um funcionário sênior da organização deve ser treinado e assumir a responsabilidade por este trabalho importante.
  • Embora seja uma boa idéia tomar a iniciativa de compartilhar informações, evite pedir constantemente a atenção da mídia. Não organize entrevistas coletivas ou almoços desnecessários com a imprensa, nem tente atrair publicidade barata para a sua organização, pois, assim, a mídia pode não levá-lo a sério.
  • Nunca permita que a sua organização seja forçada a uma situação em que você tenha de pagar para que as histórias sobre os seus bons trabalhos sejam impressas ou transmitidas. Tenha cuidado com qualquer presente que der aos jornalistas.
  • Responda com a maior rapidez e precisão possível às perguntas das organizações de mídia. Seja honesto.
  • Em situações difíceis, não tenha medo de se recusar a responder a uma pergunta. Procure evitar respostas inúteis como “Sem comentários”. Quando estiver em dúvida, peça tempo para dar uma resposta melhor e mais precisa. Seja firme, mas polido.

A mídia como ferramenta para a defesa e a promoção de direitos

As organizações podem usar a mídia de maneira estratégica para compartilhar seus objetivos, sua visão e suas metas com um público maior. Com um planejamento cuidadoso, as organizações poderiam atrair a atenção do público mais amplo para as questões com que estão trabalhando. Por exemplo, uma organização que trabalha com crianças abandonadas, filhas de membros das forças estrangeiras de manutenção da paz na Libéria, trouxe a situação destas crianças ao conhecimento do mundo através do trabalho com jornalistas liberianos e internacionais. Como resultado, o governo liberiano e a comunidade internacional foram forçados a examinar questões de abuso infantil e a desenvolver políticas melhores.

É muito importante que as organizações compreendam o ambiente da mídia na área em que trabalham. Lembre-se de que as organizações de mídia têm os seus próprios objetivos, sua própria visão e geralmente a sua própria agenda quanto a uma questão, os quais podem ser abertamente declarados ou velados, mas precisam ser claramente compreendidos. Caso contrário, uma organização poderia se envolver numa relação que, ao invés de apoiar e promover o seu trabalho, poderia prejudicá-lo.

Babatope Akinwande trabalhou como repórter para a BBC na Costa do Marfi m e como free-lance para a Rádio França Internacional e para a Rádio Deutsche Welle, cobrindo a África Ocidental e Central. Ele agora é Ofi cial de Programas da Tearfund para a Costa do Marfi m, a Guiné Bissau e o Chade. Ele continua escrevendo artigos eventuais em jornais, revistas e on-line.


ELINATA KASANGA é uma agricultora de subsistência de Balakasau, um povoado remoto do leste da Zâmbia, onde a parceira da Tearfund, a Evangelical Fellowship of Zambia, trabalha. Em julho de 2005, ela falou com o Chanceler britânico, Gordon Brown, através de um link de vídeo ao vivo organizado pela Tearfund. A conversa ocorreu no dia em que os líderes do Reino Unido, da França, da Alemanha, da Itália, da Rússia, do Japão, do Canadá e dos EUA se reuniram no Reino Unido para conversar sobre, entre outras coisas, o desenvolvimento e a mudança climática.

Elinata pôde falar diretamente com o Chanceler e levantar as questões que as pessoas do seu povoado enfrentam. Ela salientou os problemas do HIV e da seca. “Tantas pessoas morreram no nosso povoado, que agora há órfãos sendo adotados por pais substitutos e órfãos em lares chefiados por crianças. Isto é um grande desafio para nós.” Elinata também contou ao Chanceler que seus dois filhos mais velhos não podiam freqüentar a escola secundária e que os cuidados de saúde haviam sido negados à sua família, porque os custos eram muito altos.

O Chanceler disse que os governos devem agir para pôr fim à pobreza e disse a Elinata “a senhora e a sua família são um dos motivos pelos quais nós devemos agir.”

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