Acidentes no ambiente escolar são muito freqüentes. A curiosidade natural das crianças expõe-nas a situações de risco nem sempre perceptíveis para seus responsáveis. Somente após o acidente é que o professor percebe o perigo de uma cadeira próxima à janela ou um móvel pontiagudo na sala de aula. Muitas vezes, os professores não recebem um treinamento adequado em “primeiros socorros”, assim, diante de uma situação extrema, não sabem como proceder.
Como atender uma criança que passa mal na sala de aula? O que fazer ao se presenciar um atropelamento na porta do colégio? Pode-se aplicar algum produto numa queimadura? Pela falta de informação, é comum que educadores realizem procedimentos inadequados ao atenderem crianças acidentadas na escola. Esse problema é agravado quando não há um eficiente serviço de atendimento de emergência.
Em julho de 2007, um grupo de voluntários de diversas igrejas batistas de São Paulo, no Brasil, viajou para o Paraguai para apoiar o trabalho do PEPE (Programa de Educação Pré-Escolar). Este programa visa facilitar o acesso de crianças desfavorecidas à educação pré-escolar de qualidade e oferecer suporte familiar por meio das igrejas locais. As professoras são voluntárias escolhidas pela própria igreja, que recebem um treinamento pedagógico específico para a faixa etária de 4 a 6 anos.
No Paraguai, não há um serviço médico de urgência bem equipado e estruturado. Os profissionais da área médica têm boa formação acadêmica, mas a situação social, política e econômica não permite grandes investimentos na saúde. Dessa forma, os profissionais são mal remunerados, e há poucos recursos disponíveis.
Com base nessa realidade, elaboramos um treinamento específico para as professoras, abordando situações de acidentes comuns no ambiente escolar. Realizamos manobras de suporte básico de vida, como respiração boca a boca numa pessoa com parada respiratória, simulando as ocorrências em Ritinha, uma simples boneca, e esclare-cemos dúvidas por meio de material escrito e ilustrado. Cada participante teve a oportunidade de realizar as manobras na boneca, de forma que o aprendizado foi não somente teórico, mas, principalmente, prático. Os relatos dos educadores foram surpreendentes, pois, em suas rotinas, os acidentes são comuns e alguns, extremamente graves.
A iniciativa foi tão bem-sucedida que, ao retornarmos ao Brasil, fomos convidados por uma escola pública de São Paulo para realizar o mesmo treinamento com seus professores. Com o apoio da igreja local, iniciamos um projeto de treinamento no bairro. Mais uma vez, a boneca Ritinha foi de grande utilidade para ensinar as manobras de suporte básico de vida.
Esta experiência deixa claro que não há necessidade de grandes investimentos para melhorar a saúde da comunidade. Os educadores aprenderam o que fazer – e o que não fazer – em situações de emergência. Vidas são salvas com essas informações e manobras simples, porém valiosas. Foram investidos muitos recursos? Não. Somente a boneca Ritinha, que não cobrou nada!
Enfermeira Cíntia F. Rojo
Igreja Batista Praça da Árvore
E-mail: [email protected]
Para obter mais informações sobre o PEPE visite: http://www.pepe-network.org