Em sessões posteriores, eles podem usar exercícios de classificação – avaliando as suas culturas. Pode-se pedir que eles comparem as diferentes maneiras como as plantacões se desenvolvem – por exemplo, se há muitas chuvas, ou uma longa estação seca, ou se o solo é fértil ou infértil. Eles podem comparar quanto trabalho está envolvido – no plantio, cuidado e colheita de plantacões como o café, o milho, o feijão, a banana, o arroz, etc. Neste caso, as palavras chave podem incluir os nomes das plantacões, colheita, chuva, solo, etc.
A preparação de calendários para ver como as condições de saúde variam durante o ano ou para averiguar o quanto a quantidade de trabalho agro-pecuário pode variar é um outro tipo de exercício. Os membros do grupo podem estudar árvores diferentes e os seus usos; ou ervas medicinais; eles podem planejar sua ‘comunidade ideal’. Estas são apenas algumas das muitas atividades que os instrutores usam com eles.
Questões centrais
A alfabetização gira em torno de palavras e questões que são centrais aos membros do grupo. Além disto, ao discutirem sobre sua saúde e suas colheitas, e ao mapearem suas aldeias, outros tipos de questões podem aparecer. Pela primeira vez, eles encaram seu estilo de vida de maneira diferente e muitas outras atividades começam a serem desenvolvidas juntamente com o trabalho de alfabetização. As pessoas podem, por exemplo, decidir construir um viveiro de árvores, se elas perceberem que há falta de madeira de boa qualidade para construção; eles podem ver a necessidade de se ter uma clínica após discutirem questões de saúde; eles podem decidir construir uma ponte depois de mapearem a sua região.
No final do curso de alfabetização, cada círculo terá produzido de 20 a 30 mapas, calendários, diagramas e gráficos e cada participante terá uma cópia destes mapas em seus cadernos, juntamente com as frases que eles escreveram. Estes tornam-se registros permanentes para as comunidades, dandolhes uma base sobre a qual poderão planejar o seu próprio desenvolvimento. Em um programa REFLECT, a ‘alfabetização’ não vem de fora, mas é baseada nos conhecimentos existentes das pessoas quanto ao seu meio ambiente e comunidade.
Programas experimentais
Foram estabelecidos três programas experimentais em 1993, os quais foram avaliados e comparados com outros grupos que usaram métodos tradicionais de alfabetização em cada país em 1995. Em Bundibugyo, em Uganda, o método REFLECT foi usado pela primeira vez em uma região multi-linguística onde nenhum dos dois idiomas principais tinham sido escritos anteriormente. Em Bangladesh, o método foi testado com grupos femininos de crédito e poupança em uma área islâmica conservadora, e, em El Salvador, ele foi usado com uma ONG de base, as Comunidades Unidas de Usulutan, liderada por ex-guerrilheiros que passaram a adotar métodos pacíficos após dez anos de guerra.
Resultados
O método REFLECT foi mais eficaz na área de alfabetização e na vinculação da alfabetização com o desenvolvimento mais amplo. Dos adultos que inicialmente se matricularam nos círculos REFLECT, 64% deles alcançaram um nível básico de alfabetização no decorrer de um ano, em comparação com 30% nos grupos tradicionais. Os participantes dos círculos REFLECT permaneceram bem motivados e o número de desistências foi muito menor do que nos grupos tradicionais.
Os participantes do programa REFLECT também se beneficiaram de várias outras maneiras…
- Os membros dos grupos alcançaram mais auto-estima e auto-realização. Eles aumentaram sua capacidade de analisar e resolver problemas e assim como de expressarem-se.
- Houve maior participação em organizações comunitárias. 61% dos alunos em El Salvador ocupam agora cargos de responsabilidade em organizações comunitárias, os quais não ocupavam antes do programa de alfabetização.
- As discussões com frequência levaram a melhorias nas condições locais pois os alunos decidiram agir como resultado de sua própria análise – eles se sentiram donos’ dos problemas e das possíveis soluções. Os melhoramentos incluiram a construção de depósitos para grãos, tubos água, consertos em escolas, viveiros de árvores, construção de latrinas, recolha de lixo e a perfuração de um poço.
- Houve melhoria no gerenciamento que pessoas exerciam sobre os recursos dentro de suas casas. As mulheres em Bangladesh acharam que a experiência de usar calendários e gráficos ajudaram-nas a planejar melhor.
- Os círculos de treinamento melhoraram relacionamentos entre os homens e as mulheres – os homens passaram a ajudar mais no trabalho doméstico e as mulheres tornaram-se mais envolvidas em decisõeschaves dentro da casa e da comunidade.
- Os participantes se conscientizaram mais sobre questões sanitárias.
- As escolas primárias mostraram um aumento no número de matrículas (22% em Uganda), e os pais em um terço dos círculos alfabetização começaram seus próprios cursos de alfabetização para as crianças.
- O método REFLECT teve um custo mais baixo e fez uma melhor utilização dos recursos do que o programa de alfabetização tradicional.
O treinamento ocorreu em vários países e agora este método está sendo usado em mais de 20 países ao redor do mundo. Se você desejar maiores informações, escreva para…
REFLECT – Action Aid, Hamlyn House, Archway, London, N19 5PG, Reino Unido.
por Isabel Carter.