Em muitos países do sul da África, a insegurança alimentar está aumentando. A seca é um fator fundamental. Porém, as práticas agrícolas também são uma das principais causas. A segurança alimentar é uma questão particular das áreas rurais, onde a agricultura é a principal atividade econômica. Em 2002, a Evangelical Fellowship of Zambia (EFZ) identificou três distritos que precisavam de ajuda para aumentar a segurança alimentar.
Desenvolvimento do programa de segurança alimentar
Primeiramente, a EFZ realizou um levantamento das necessidades num dos distritos. Os resultados mostraram que a falta de alimento na área era causada principalmente pelas práticas agrícolas utilizadas. O levantamento das necessidades também mostrou que alguns agricultores da área haviam tido uma boa colheita apesar das secas. Isso se devia ao seu conhecimento e à prática de métodos de agricultura de conservação por um longo período de tempo. Estes métodos agrícolas têm por objetivo conservar o solo e a água e, ao mesmo tempo, oferecer um meio de vida sustentável para o agricultor.
Após o levantamento das necessidades, a EFZ trabalhou lado a lado com os comitês dos povoados para elaborar um programa de segurança alimentar. Este programa tinha como alvo mais de 2.000 famílias. Uma das principais partes do programa era a promoção da agricultura de conservação no lugar dos métodos agrícolas tradicionais amplamente usados na região. Algumas das diferenças entre os métodos agrícolas convencionais e os de conservação são explicadas no quadro abaixo.
Devido aos benefícios comprovados da agricultura de conservação, o Governo da Zâmbia já a estava promovendo pelo país. A EFZ decidiu trabalhar juntamente com o Ministério da Agricultura e a Conservation Farming Unit (CFU) para distribuir informações sobre a agricultura de conservação entre as famílias-alvo do programa. Cada agricultor também recebeu sementes e fertilizantes.
Foram realizados encontros da comunidade, em que o programa foi explicado para as famílias-alvo. Mais tarde, foram realizados encontros de treinamento sobre a agricultura de conservação para treinar pessoas como treinadores comunitários. Estes treinadores deviam treinar famílias de agricultores individuais através de encontros de treinamento nos povoados. Foram abertas cooperativas de agricultores para permitir que o programa chegasse até os agricultores. Os agricultores pobres foram incentivados a entrarem para uma cooperativa de agricultores.
Resultados
Após a colheita, as famílias perceberam que os campos em que os métodos de conservação haviam sido empregados tinham produzido mais do que os campos em que haviam sido empregados métodos convencionais. Outras pesquisas confirmaram que a agricultura de conservação produzia uma média de 1,5 toneladas mais de milho por hectare do que a agricultura convencional. Além disso, as técnicas usadas na agricultura de conservação exigiam menos fertilizantes.
A agricultura de conservação aumentou a segurança alimentar para os agricultores porque minimizou a perda da colheita durante a seca.
Pontos aprendidos
O conhecimento e a experiência na área de agricultura de conservação estão aumentando na Zâmbia, e gradualmente mais e mais famílias estão adotando as técnicas. A revisão da EFZ mostrou os seguintes pontos aprendidos:
- Mesmo a prática de apenas uma ou duas técnicas agrícolas de conservação é benéfica. Os agricultores têm a chance de testar os benefícios e criar confiança antes de usar outros métodos agrícolas de conservação.
- Alguns agricultores decidiram introduzir os métodos agrícolas de conservação em apenas um dos seus campos. Assim, eles puderam comparar os resultados com os resultados das técnicas agrícolas convencionais. Eles geralmente percebiam que as técnicas agrícolas de conservação resultavam numa produção maior.
- O sucesso da agricultura de conservação varia entre as regiões, culturas e com o tempo. Isso se deve principalmente às mudanças nos padrões climáticos.
- Muitos dos benefícios da agricultura de conservação ocorrem gradualmente. Vale a pena investir em métodos de conservação, mas as probabilidades são de que os benefícios completos demorem para serem vistos.
Joan Mute é gerente de programas do Departamento de Ética, Sociedade e Desenvolvimento da Evangelical Fellowship of Zambia.
Plot 8665, Kamloops Avenue, Lusaka 10101, Zâmbia.
E-mail: [email protected]
Alguns exemplos das diferenças entre a agricultura convencional e a agricultura de conservação
Agricultura convencional
Alguns aspectos da agricultura convencional afetam a produção das colheitas de forma negativa:
- A queima de resíduos (dejetos da colheita) antes de arar a terra Os resíduos são úteis para:
- proteger o solo para que este não seja levado pela água, melhorando a infiltração de água e reduzindo a temperatura do solo
- manter a estrutura do solo e a fertilidade quando os cupins e as minhocas os incorporam no solo.
- Arar a terra com bois Arar o campo inteiro desperdiça energia, diminui a produção e destrói o solo:
- Os agricultores geralmente aram a terra após as chuvas. Assim, há um atraso na preparação da terra. Para cada dia de atraso após as primeiras chuvas de plantio, parte do potencial da produção é perdido.
- O solo arado fica exposto ao vento e à chuva, perdendo a camada superficial do solo.
- Abrir sulcos com uma enxada Isso é quando são abertos sulcos no solo para formar fendas que servirão de dreno. O problema com isto é que a água da chuva começa a desgastar os sulcos, formando valas em seguida.
- Lavragem mínima com enxada Isso é quando se usa uma enxada durante as primeiras chuvas boas para fazer buracos para o plantio ou para abrir linhas de plantio. Isso é mais fácil do que arar e exige menos mão-de-obra. Entretanto, como o solo entre os buracos ou as linhas de plantio permanece duro, a chuva escorre por ele, levando os fertilizantes consigo.
Agricultura de conservação
Esta é uma combinação de métodos, cujo objetivo é conservar a água, a qualidade do solo, a umidade, a fertilidade e a produção de sementes, assim como a energia, o tempo e o dinheiro do agricultor. Alguns dos aspectos e benefícios principais são:
- Plantio em bacias Os agricultores cavam bacias no solo e plantam sementes nelas. Quando as chuvas vêm, a água fica presa nas bacias, permitindo que as raízes cresçam e evitando que a camada superficial do solo e o fertilizante sejam levados pela água.
- Deixar os resíduos da colheita para a próxima cultura Recomenda-se que os agricultores deixem os resíduos ao invés de queimá-los. Isto reduz a perda de solo e água, melhorando a infiltração, diminui a temperatura da superfície e, com o tempo, aumenta a fertilidade do solo. Como as sementes são plantadas na mesma bacia todos os anos, o fertilizante que ficou da colheita anterior pode ser absorvido pela nova cultura.
- Rotação de culturas que fixam o nitrogênio Recomenda-se que os agricultores plantem legumes e outras culturas que fixam o nitrogênio em rotação para aumentar os nutrientes naturais do solo. Isso diminui a necessidade de fertilizante artificial e permite que eles diversifiquem, passando do milho para culturas menos robustas.
- Plantio no início das primeiras chuvas Isso significa que os agricultores precisam preparar a terra assim que tiverem feito a colheita anterior. Plantar durante as primeiras chuvas permite que as sementes se beneficiem com o nitrogênio que as chuvas fazem passar pelo solo.