A economia do Níger depende principalmente da agricultura. Entretanto, nos últimos 30 anos, a seca e os problemas ambientais resultaram em más colheitas. As pessoas pobres têm pouco para comer na entressafra, o que as tem forçado a deixarem seus campos para ganhar dinheiro ou abandonarem completamente as áreas rurais
Os membros das igrejas locais perceberam que a assistência de emergência não era uma boa solução para os problemas de segurança alimentar, pois mantém as comunidades dependentes de pessoas de fora. Assim, eles decidiram ajudar suas comunidades a estabelecerem bancos de cereais comunitários. Isto foi feito com a ajuda do departamento de desenvolvimento e assistência em situações de desastre da UEEPN (Union des Églises Évangéliques Protestantes du Niger). Estes bancos acumulam um estoque de cereais para atender as necessidades básicas nas entressafras, especialmente quando as colheitas são más ou os preços subiram muito.
Estabelecimento dos bancos de cereais
Para aumentar a apropriação comunitária, a UEEPN garantiu o seguinte:
- Que a comunidade pudesse escolher os bancos de cereais como solução para os seus problemas.
- Que a comunidade recebesse treinamento sobre como manter e gerir o banco de cereais.
- Que os membros participassem, como, por exemplo, ajudando a construir o banco de cereais.
- Que as mulheres e as crianças participassem ativamente do trabalho.
- Que a igreja local, como motivadora dentro da comunidade, estivesse envolvida em todas as etapas do estabelecimento dos bancos de cereais.
O trabalho envolveu várias partes interessadas:
- Membros da comunidade, que eram responsáveis por estabelecer um comitê de gestão, protegendo os cereais contra roubo e pragas, vendendo os cereais a preços moderados e investindo a renda numa conta bancária.
- Representantes das igrejas locais, que monitoravam a utilização dos bancos de cereais.
- Funcionários da UEEPN, que organizavam uma campanha de informação e conscientização e treinavam os membros do comitê de gestão.
- As autoridades locais, que monitoravam a qualidade das operações dos bancos de cereais, garantindo que as vendas e os sistemas de empréstimos funcionassem de forma eficiente e que os regulamentos fossem respeitados.
- Doadores, que financiavam os estoques de cereais durante o primeiro ano do projeto.
Operação dos bancos de cereais
Uma vez que os bancos de cereais estavam construídos, eram fornecidos estoques de cereais para o primeiro ano de operação. A comunidade escolhia os sistemas que gostaria de usar para obter os cereais nas entressafras. Há dois sistemas principais, e ambos são geridos pelo comitê de gestão.
O sistema de empréstimo Cada família pega emprestado um saco de cereais, o qual é devolvido após a colheita juntamente com juros e uma taxa de administração. As decisões sobre juros e taxas são tomadas pela Assembléia Geral do povoado.
O sistema de vendas A Assembléia Geral fixa o preço dos cereais de acordo com o preço de mercado, o qual pode ser determinado a partir do custo da compra dos estoques iniciais. Cada pessoa pode comprar uma quantidade específica de cereais. O comitê de gestão investe a renda numa caderneta de poupança num banco ou numa cooperativa.
O objetivo é que, depois de seis anos, cada banco de cereais dobre o seu estoque, de maneira que seja possível abrir outro banco de cereais numa outra comunidade.
Resultados
Alguns dos bancos de cereais não foram bem-sucedidos. Isto ocorreu principalmente porque os bancos de cereais não eram uma prioridade para o povoado ou devido à má gestão. Em alguns casos, as mulheres estavam mal representadas nos comitês de gestão, e os membros do comitê não eram alfabetizados e, assim, não podiam manter registros. Portanto, o bom treinamento e o apoio aos comitês de gestão são essenciais.
Entretanto, em muitas comunidades, os bancos de cereais conseguiram garantir a segurança alimentar nas entressafras. Por terem acesso a alimento, os membros da comunidade são capazes de trabalhar nos seus próprios campos ao invés de trabalharem noutros lugares para ganhar dinheiro. O preço dos alimentos é regulamentado, e a capacidade dos membros da comunidade foi fortalecida. Como a igreja local foi envolvida durante todo o processo, as atitudes em relação à igreja melhoraram.
Abdoul-Azize Sarki trabalha como Coordenador de Programas para o departamento de desenvolvimento e assistência em situações de desastre do UEEPN. BP 2630, Niamey, Níger.
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