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Entrevistas

Juntos no combate ao estigma

O Reverendo, Cônego e Professor Titular Gideon B. Byamugisha foi o primeiro líder religioso africano a declarar abertamente o seu status soropositivo para o HIV. Pedimos a ele que nos contasse um pouco sobre sua experiência e conhecimentos aos leitores da Passo a Passo.

2016 Disponível em Inglês, Francês, Português e Espanhol

Revistas Passo a Passo em francês, espanhol, português e inglês, espalhadas sobre uma mesa de madeira

De: HIV – Passo a Passo 98

Como combater o estigma, prevenir a transmissão do HIV de mãe para filho e prestar apoio às pessoas que vivem com o HIV

O Reverendo, Cônego e Professor Gideon B. Byamugisha foi o primeiro líder religioso africano a declarar abertamente seu status soropositivo para o HIV. Foto: Sandra Nabukalu

O Reverendo, Cônego e Professor Gideon B. Byamugisha foi o primeiro líder religioso africano a declarar abertamente seu status soropositivo para o HIV. Foto: Sandra Nabukalu

O Reverendo, Cônego e Professor Titular Gideon B. Byamugisha é um ministro ordenado da Igreja Anglicana de Uganda. Em 1992, ele se tornou o primeiro líder religioso Africano a declarar abertamente seu status soropositivo para o HIV. Ele é o fundador da Rede Africana de Líderes Religiosos que Vivem com o HIV e AIDS ou São Pessoalmente Afetados pelo HIV e AIDS (African Network of Religious Leaders Living with or Personally Affected by HIV and AIDS – ANERELA+), agora, uma organização internacional (INERELA+) que trabalha em 48 países. Atualmente, o Cônego Gideon exerce o cargo de Diretor Executivo da Friends of Canon Gideon Foundation (Fundação Amigos de Canon Gideon).

O Cônego Gideon recebeu vários prêmios de prestígio por seu trabalho no combate ao estigma contra pessoas que vivem com o HIV e AIDS. Pedimos a ele que nos contasse um pouco sobre sua experiência e conhecimentos aos leitores da Passo a Passo.

O que o fez decidir revelar a sua soropositividade em 1992?

Três coisas influenciaram minha decisão de revelar minha soropositividade. Primeiro, eu queria que as pessoas fizessem orações muito específicas pelos meus cuidados, tratamento e futuro. Segundo, eu não queria levar uma vida de “dupla identidade”, sendo uma coisa em público e outra na vida privada. Em terceiro lugar, eu queria derrubar alguns dos mitos sobre a transmissão do HIV, especialmente aqueles que sempre associavam o HIV à imoralidade sexual. Eu queria ajudar tanto a comunidade local quanto seus líderes a entender que o status sorológico de uma pessoa mostra muito pouco sobre sua moralidade, espiritualidade ou capacidade para ser um líder religioso.

Como as pessoas responderam depois que você revelou sua soropositividade? Você foi pessoalmente afetado pelo estigma?

Diferentes pessoas reagiram de diferentes formas. Algumas receberam bem minha revelação pública e disseram que Deus me usaria para ajudar a derrotar o silêncio, o estigma e a discriminação, que eram muito comuns naquela época.

Algumas pessoas significativas não ficaram contentes com a revelação e disseram que eu estava prejudicando a imagem da igreja. Outras pessoas desse grupo erroneamente temeram que eu lhes transmitiria o HIV ao compartilhar o cálice da comunhão ou ao batizar seus filhos. Algumas pessoas até pediram ao meu arquidiácono e ao meu bispo para me tirarem do ministério da igreja.

Às vezes, as pessoas me diziam: “Você disse que é soropositivo. Você já se arrependeu disso?” Isso é o estigma: ligar o meu status sorológico à imoralidade. As pessoas me perguntavam: “Como você contraiu o HIV?” Essa também é uma pergunta estigmatizante, pois sugere que elas querem saber se você é “inocente” ou “culpado”.

Tive a sorte e a benção de contar com o apoio de amigos, familiares, comunidades religiosas, congregações, líderes e agências durante todo o processo. Hoje, há menos pessoas que não apoiam minha revelação.

Quais são os diferentes tipos de estigma que afetam as pessoas que vivem com o HIV?

O estigma em torno do HIV vem de várias fontes.

  • Em primeiro lugar, alguns temem que as pessoas soropositivas sejam “contagiosas”. Eles acham que se pode contrair o HIV comendo com uma pessoa soropositiva ou apertando sua mão.
  • Em segundo lugar, às vezes, as pessoas acham que, por ser soropositivo, você vai morrer em seguida e, por isso, negam-lhe recursos e oportunidades. Elas pensam: “Por que desperdiçar comida com alguém que vai morrer? Por que mandá-lo para a escola?”
  • Em terceiro lugar, o estigma é causado pela ligação do HIV à imoralidade ou ao desvio de conduta. As pessoas associam o HIV à imoralidade sexual e aos grupos marginalizados, tais como os usuários de drogas injetáveis.
  • Há também um quarto tipo de estigma dentro da igreja. Algumas pessoas acham que, se você vive com o HIV, é porque você não tem fé suficiente para obter uma cura milagrosa. Elas lhe dizem para jogar fora os medicamentos TARV e ter mais fé nos milagres.

Todos esses tipos de estigma atrasaram seriamente o progresso da erradicação da transmissão do HIV e as mortes por AIDS, apesar dos grandes avanços na prevenção e tratamento do HIV.

Quais são os efeitos negativos do estigma para as pessoas que vivem com o HIV?

O estigma leva a uma vergonha aniquiladora, que destrói a autoestima e a autoconfiança das pessoas que vivem com o HIV. Ele também pode afetar seus familiares e sua comunidade.

Por causa do estigma, as pessoas, muitas vezes, ficam com medo de fazer o teste de HIV. As que fazem o teste têm medo demais para ir buscar o resultado. Muitas têm medo de revelar seu status sorológico às pessoas que precisariam saber, como seus parceiros ou profissionais de saúde.

Por causa do estigma, as pessoas que vivem com o HIV são acusadas, ridicularizadas, envergonhadas e discriminadas. Ao invés disso, devemos apoiá-las e capacitá-las para que possam ter melhores oportunidades de vida e mais saúde. Isso também ajuda a prevenir a propagação do HIV, pois as pessoas que conhecem e aceitam seu status são mais propensas a escolher práticas mais seguras, como, por exemplo, tomar a medicação da sua TARV.

Que medidas práticas as pessoas podem tomar para eliminar o estigma em suas comunidades e igrejas?

As igrejas e comunidades podem identificar as fontes do estigma e lidar com elas uma por uma.

  • Se as pessoas tiverem medo de contrair o HIV num aperto de mão, o que os membros da igreja e da comunidade deveriam fazer? Abraçar, apertar a mão e cuidar das pessoas que vivem com o HIV. Assim, outras pessoas aprenderão com isso e dirão: “Ah! Então, a gente pode abraçar alguém que é soropositivo!”
  • Se as pessoas tiverem medo de que o HIV sempre leve à morte precoce, os membros da igreja podem trazer pessoas que vivem com o HIV há muito tempo para falar com a congregação. Isso transmitirá a mensagem: “Esse homem é soropositivo há 20 anos, mas agora ele é membro do parlamento ou bispo da sua igreja. Portanto, não abandone seus entes queridos soropositivos, porque, com amor, apoio e tratamento, eles podem ter vidas longas e produtivas na sua comunidade.”
  • As igrejas e comunidades devem ensinar que a AIDS não é um castigo de Deus. Elas devem divulgar a mensagem de que o HIV não é necessariamente adquirido de forma “pecaminosa”. Há muitos “santos sexuais” que são soropositivos e muitos “pecadores sexuais” que são soronegativos.
  • As comunidades e igrejas devem fazer planos claros para a reduzir o estigma e ajudar as pessoas que vivem com o HIV a obter o apoio e o tratamento de que necessitam. As organizações e as igrejas precisarão de políticas, planos estratégicos, parcerias, verbas, iniciativas de treinamento de jovens, estratégias de comunicação e orações.

Se você pudesse dizer algo aos leitores da Passo a Passo, o que seria?

Deus deu-nos informações e ciência suficientes para erradicarmos a epidemia da AIDS. Devemos trabalhar juntos para darmos às pessoas os conhecimentos, habilidades, atitudes e políticas de apoio de que elas precisam. Assim, poderemos acompanhar uns aos outros nessa jornada para acabar com as novas infecções pelo HIV e o estigma que as rodeia.

Acesse www.focagifo.net para obter mais informações sobre a Friends of Canon Gideon Foundation (em inglês).

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