Barbara Lawes.
Programa de Alfabetização e Desenvolvimento da União das Mães. Os membros e trabalhadores da União das Mães por todo o mundo sabem que a falta de alfabetização é um dos principais problemas enfrentados pelas mulheres e meninas, especialmente nas áreas rurais. Sem a alfabetização, é muito mais difícil para as mulheres melhorarem as condições dos seus lares, das suas famílias e comunidades e participar plenamente das questões e da administração comunitárias. A alfabetização é fundamental para o acesso às poucas iniciativas e oportunidades locais disponíveis. A alfabetização permite que os formuladores das políticas escutem as vozes e as preocupações das mulheres em âmbito local, nacional e internacional.
Em resposta a isto, a União das Mães pesquisou, desenvolveu e implementou o Programa de Alfabetização e Desenvolvimento da União das Mães (MULDP – Mother’s Union Literacy and Development Programme). O programa tinha de estar dentro das condições financeiras dos alunos adultos e ser sustentável e apropriado para eles. Ele precisava de fazer uso das habilidades e dos conhecimentos locais. Acima de tudo, ele tinha de lidar com as desigualdades da sociedade, que, com tanta freqüência, deixam as mulheres impotentes, sem voz e invisíveis nas suas famílias e comunidades.
A União das Mães é uma organização cristã, que trabalha em 76 países ao redor do mundo, através de uma ampla rede de voluntários e funcionários remunerados e que segue a estrutura da Igreja Anglicana, desde províncias até comunidades eclesiásticas de base. Isto proporciona à União das Mães um contacto quase sem igual com famílias e comunidades nos locais mais pobres, onde os níveis de alfabetização adulta provavelmente são os mais baixos.
Formação de círculos de alfabetização
Os programas de alfabetização adulta têm um alto índice de reprovação. Nossa ampla pesquisa mostrou que isto ocorre, em parte, devido aos métodos de aprendizagem insustentáveis, à falta de financiamento e à falta de continuidade por parte dos facilitadores locais. Tentamos evitar estes problemas sempre que possível.
Burundi, o Maláui e o Sudão possuem alguns dos índices mais baixos de alfabetização adulta. Como eles também são países em que a União das Mães é forte, começamos o trabalho por lá. Com a ajuda da LABE, Uganda (veja a página 5), foi desenvolvido um programa piloto, e começamos a trabalhar em oito dioceses. Depois de explicações cuidadosas sobre como o programa funcionaria, cada diocese nomeou duas treinadoras de alfabetização. Estas 16 mulheres foram treinadas em Uganda pela LABE e pela União das Mães e retornaram aos seus países, para iniciar um programa piloto de três anos.
As comunidades que haviam concordado em participar tinham de formar um comitê de direcção e encontrar uma pessoa local adequada para ser treinada como facilitador. O facilitador deveria saber ler e escrever na língua local e ser aceitável para os alunos locais.
Uma vez que as 12 comunidades haviam sido selecionadas, os facilitadores foram reunidos por uma semana e treinados na formação de grupos, em técnicas de Acção e Aprendizagem Participatórias (PLA) e em como introduzir a alfabetização com o uso destas técnicas. Assim que eles retornaram para as suas comunidades, as matrículas começaram, e o círculo de alfabetização iniciou o seu trabalho. Os treinadores visitaram os facilitadores e os seus círculos de alfabetização a cada duas semanas, até que eles estivessem bem estabelecidos e o círculo estivesse a funcionar bem.
O programa consiste em compartilhar os conhecimentos e a sabedoria dos participantes sobre vários tópicos através de discussões. As palavras-chaves a serem aprendidas são tiradas destas discussões. A discussão é, de muitas maneiras, tão importante quanto a alfabetização.
Fazendo as coisas funcionarem
Foram encontrados vários problemas:
- As pessoas que haviam participado de programas de alfabetização anteriores e haviam sido reprovadas, estavam relutantes em participar novamente, porque não queriam correr o risco de se desapontarem novamente.
- Alguns alunos deixaram de freqüentar as aulas, porque a abordagem de Acção e Aprendizagem Participatórias (PLA) não se enquadrava nas suas expectativas de como a escola “deveria” ser. Quando se davam conta de que as pessoas estavam se alfabetizando, eles tentavam retornar, mas tinham de esperar até que fosse formado um novo círculo.
- Muitos pais queriam que os seus filhos fossem matriculados, para lhes dar a oportunidade de aprender.
- Cada círculo é limitado a, no máximo, 30 alunos, mas, às vezes, um número muito maior de pessoas queria se matricular.
- É muito mais fácil visitar e apoiar os círculos de alfabetização, quando eles são formados em grupos de três ou quatro (conforme solicitado). No entanto, isto nem sempre ocorria.
Todos estes desafios foram enfrentados pelos treinadores ou durante as visitas realizadas pelos funcionários da União de Mães.
Uma vez que os círculos estavam a funcionar bem, os treinadores continuavam a visitá-los ocasionalmente, mas passavam o seu foco principal para novas comunidades. Agora há um sistema regular, em que os treinadores treinam 12 facilitadores duas vezes por ano. Todos os facilitadores reúnem-se por alguns dias a cada ano, para compartilhar experiências e receber mais treinamento.
Divulgação
Os treinadores são funcionários da União de Mães, empregados pelas suas dioceses, com o apoio da União de Mães. Os facilitadores recebem pequenos incentivos financeiros, respeito e alguma assistência das suas comunidades. Eles também sabem que estão oferecendo um serviço muito valioso para os seus amigos e vizinhos.
Num círculo de alfabetização, leva de 160 a 200 horas para que um aluno se torne alfabetizado e competente com números na prática. Há muitos factores que afetam isto. Algumas pessoas deslocadas, com poucas oportunidades externas, aprendem rápido, pois não podem ir cultivar hortas ou realizar qualquer outra actividade. As comunidades que costumam andar longas distâncias para cultivar terras podem ter um intervalo de três a quatro meses sem aulas. Elas precisam de mais tempo para se lembrarem do que aprenderam antes.
Uma vez que as pessoas se tornam alfabetizadas e competente com números, elas passam rapidamente para a acção comunitária e actividades de geração de recursos. A quantidade de actividades como estas deixou-nos muito surpreendidos. Os círculos pós-alfabetização também mostraram ser importantes. Eles oferecem às pessoas uma oportunidade para utilizarem as suas novas habilidades para ler, escrever cartas, quadros de avisos, ajudar em postos de saúde e estudar mais.
Em junho de 2003, foi realizada uma avaliação final, e o programa foi ampliado, passando a abranger mais cinco dioceses. Agora, há 26 treinadores treinados, 600 facilitadores e outros em treinamento. Os facilitadores podem vir de qualquer fé ou não ter fé alguma. Há 15.000 alunos em círculos activos e muitos mais em actividades pós- -alfabetização. No momento, este programa só é usado em Burundi, no Maláui e no Sudão, mas estão a chegar solicitações de muitas partes do mundo. Temos muita vontade de ajudar, mas é difícil encontrar verbas. Este é um programa eficaz e sustentável, que muda as vidas para melhor. Custa somente £20 (libras esterlinas) para ajudar uma pessoa a ler, escrever e contar. É difícil que haja muitos negócios melhores do que este!
Além das vantagens que a alfabetização e a competência com números trazem, os métodos participatórios estão resultando numa melhor comunicação dentro das famílias e entre os vizinhos. As questões de saúde são resolvidas em âmbito comunitário, e foram iniciados esquemas de geração de recursos, geralmente sem a necessidade de financiamento externo. A sociedade civil fortalece-se e torna-se capaz de aproveitar quaisquer oportunidades possíveis.
Barbara Lawes é a Coordenadora de Projetos em Âmbito Mundial da União de Mães, cujo endereço é Mother’s Union, Mary Sumner House, 24 Tufton Street, London, SW1P 3RB, Reino Unido.
E-mail: [email protected]
Website: www.themothersunion.org
Comentários dos alunos
‘Toda a minha vida, só via o quadro pela a janela. Mas agora estou a vê-lo e ele está a olhar para mim.’ Eva Wajo
‘Trabalho como empregada de limpeza. No dia do pagamento eu recebia o meu salário sem ter a possibilidade de verificar se estava certo ou não e assinava utilizando a impressão digital do meu dedo polegar. Agora não posso ser mais enganada. Estou feliz.’ Margaret Keji
‘Inscrevi-me como aluno e era tímido e inseguro. Aprendi a ler e a rescrever muito rápido agora sou facilitador. Estou muito orgulhoso porque agora posso ensinar outros a ler e a escrever também.’ Donatile, Maláui